Foto: José Felipe Batista/Instituto Butantan
O clima quente e úmido é o mais propício para a reprodução do escorpião. Mas ao longo da evolução milenar da espécie, esses aracnídeos conseguiram sobreviver a toda sorte de intempéries: se adaptaram a diferentes temperaturas e biomas, aprenderam a passar dias sem água e comida e até a se reproduzir sozinhos.
Há evidências do surgimento dos escorpiões há mais de 450 milhões de anos em habitat aquático, quando eles mediam em torno de 1,30 metro de comprimento. Esses primeiros escorpiões aquáticos tinham uma estrutura física semelhante à que os aracnídeos possuem hoje, com adição de brânquias.
“Por volta de 325 a 350 milhões de anos atrás, eles migraram para o ambiente terrestre e ficaram bem menores, com até 23 centímetros”, conta a assistente técnica de pesquisa científica e tecnológica do Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan, Denise Maria Candido.
Denise, que é bióloga e especialista em escorpiões, aponta uma série de fatores que explicam a adaptabilidade extrema do aracnídeo.
“Eles se mostraram capazes de se manter por aqui mesmo em situações climáticas adversas. É importante entender a função ecológica deles e que eles não são eliminados facilmente”, completa.
Esses animais possuem quatro pares de pernas, um par de pedipalpo (estruturas que lembram pinças) e um par de quelíceras. A cauda ou metassoma tem uma extremidade chamada Telson onde há duas glândulas de veneno e um ferrão. O veneno é inoculado em predadores ou em humanos quando o escorpião se sente ameaçado.
Os escorpiões não são insetos, mas aracnídeos da ordem Scorpiones. Há 2.800 espécies espalhadas pelo mundo, 180 delas no Brasil. De todas as espécies brasileiras, apenas quatro são consideradas de interesse médico (ou seja podem causar envenenamento grave em humanos):
- o escorpião-preto-da-Amazônia (Tityus obscurus), mais comum na região Norte e no Mato Grosso;
- o escorpião-amarelo-do-Nordeste (Tityus stigmurus), que ocorre também no Sudeste, Sul e, recentemente no Norte;
- o escorpião-marrom (Tityus bahiensis), comum no Centro-Oeste, Sudeste e Sul;
- e o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), encontrado em todas as regiões do país.
“As principais características adaptativas que melhor mostram o sucesso na evolução dos escorpiões são suas poucas transformações morfológicas, e sua grande plasticidade em termos de fisiologia, comportamento e respostas às mudanças ambientais”, descreve Denise Candido.
Ao longo destes milhões de anos, os escorpiões viveram verdadeiras batalhas épicas de adaptação a diferentes climas e biomas – o que lhes confere um status de “quase invencíveis” em relação à natureza.
“O habitat dos escorpiões é dos mais variados tipos. Eles ocorrem dos desertos às florestas tropicais, do nível do mar às grandes altitudes”, explica Denise.
De fato, escorpiões já foram encontrados em quase todos os ecossistemas terrestres, até mesmo em cavernas, regiões desérticas dos mais variados tipos, sob pedras cobertas de neve e em altitudes de 5.560 metros nos Andes, afirma o Ministério da Saúde.
A alimentação super variada permite aos escorpiões ter mais opções para sobreviver. Eles comem insetos, aranhas, grilos e pequenos vertebrados. Nos ambientes urbanos, se alimentam basicamente de baratas, ajudando no controle destes animais nas cidades.
Por outro lado, são presas fáceis de galinhas, corujas, micos, sapos, morcegos e aranhas. Quando não há comida por perto, conseguem ficar centenas de dias sem se alimentar.
“Algumas espécies sobrevivem 400 dias sem comida, 87 dias sem água e por volta de 36 dias sem água e comida. Se precisar, comem até outros escorpiões para sobreviver”, afirma Denise.
Tal como o guerreiro escocês imortal, eles também aprenderam a viver na vida mundana e a escalar “montanhas”, migrando facilmente para regiões onde não ocorrem naturalmente.
“Os escorpiões conseguem subir em superfícies rugosas e acessam apartamentos de edifícios, encanamentos expostos ou caixas de luz sem proteção. Também podem ser transportados para outras cidades ou países dentro de produtos em caminhões, barcos e roupas. Nas áreas rurais, os acidentes ocorrem na preparação do solo para o plantio, que é quando os escorpiões são tirados de seu habitat natural”, esclarece.
Essa facilidade do acesso dos escorpiões às cidades e o crescimento urbano desordenado são as principais causas é a principal causa do número crescente de acidentes com o aracnídeo no Brasil e no mundo.
Os escorpiões foram responsáveis por 134 óbitos e por 202.324 acidentes no país em 2023, segundo o Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. O estado de São Paulo continua sendo o maior notificador de acidentes escorpiônicos no Sinan, com 48.651 em 2023.
A alta reprodutividade é outro fator que implica na onipresença de escorpiões. Em pelo menos 5% das espécies, as fêmeas são capazes de ter filhotes sem a participação de um macho. Esse processo, nomeado partenogênese, ocorre quando os ovos se desenvolvem sem serem fecundados por um espermatozoide.
Detalhe: as fêmeas conseguem manter esse potencial reprodutivo mesmo durante períodos de privação de alimento e água. Algumas conseguem gerar filhotes com mais de 200 dias sem comida.
“As fêmeas do T. serrulatus e T. stigmurus, as espécies mais perigosas que mais ocorrem no Brasil e na América Latina, podem se reproduzir dessa maneira, o que faz aumentar a população de escorpiões, dificultando ainda mais o controle”, alerta a bióloga.
Para além da alta capacidade de sobrevivência dos escorpiões, é importante entender que, assim como outros animais, eles têm uma função de controle biológico importante na natureza e seu veneno é matéria-prima do soro antiescorpiônico, produzido pelo Instituto Butantan.
O imunobiológico é administrado para neutralizar o veneno em casos de picada de escorpiões do gênero Tityus (escorpião amarelo, escorpião amarelo do Nordeste, escorpião marrom e escorpião preto).
“Locais com muito lixo ou entulho são abrigos para escorpiões porque é onde eles encontram comida. Evitar o acúmulo é uma forma de controle e de evitar acidentes”, conclui Denise Candido.
Esta matéria foi validada pela bióloga e assistente técnica de pesquisa científica e tecnológica do Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan Denise Maria Candido.
Fontes:
Acidentes por escorpiões – Ministério da Saúde
A Kind of Magic – Queen
Boletim Epidemiológico Acidentes Escorpiônicos no Brasil em 2022
Don’t Lose Your Head – Queen
Escorpião – Controle de Escorpiões de importância em saúde
Gimme The Prize (Kurgan’s Theme)
Highlander: 35 years since Scotland stole the show in cult film starring Queen, Sean Connery and Christopher Lambert – Press and Journal UK
Highlander | Remake com Henry Cavill começa filmagens em janeiro – Omelete
Princes Of The Universe – Queen
Queen e a trilha sonora de HIGHLANDER. EP 012
Selected to survive and kill: Tityus serrulatus, the Brazilian yellow scorpion
Who Wants To Live Forever – Queen
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Butantan, escrito por Camila Neumam
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Portal Amazônia e são de total responsabilidade do autor.
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