Seca rio Madeira 2024. Foto: Edson Gabriel
Pelo terceiro dia consecutivo, o rio Madeira bateu recordes de mínimas históricas. Na madrugada de 10 de setembro, o nível chegou a 67 centímetros em Porto Velho (RO) e se destacou como o menor em quase 60 anos, considerando que o monitoramento começou a ser feito em 1967 pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB).
O rio Madeira possui quase 1,5 mil quilômetros de extensão em água doce e é um dos maiores do Brasil e do mundo, além do mais longo e importante afluente do rio Amazonas. Em suas margens, vivem mais de 50 comunidades ribeirinhas, somente em Porto Velho.
Como reflexo do cenário crítico, ribeirinhos que vivem às margens do rio agora precisam receber carregamentos de água potável. O serviço começou a ser oferecido pela Defesa Civil Municipal e assistentes sociais no dia 9.
Mais de 700 famílias devem ser atendidas em 16 comunidades. Os ribeirinhos não têm acesso a água encanada e dependem de medidas alternativas como poços amazônicos ou drenagem do próprio rio Madeira.
Com a seca extrema, os poços secaram e a margem do rio que antes ficava na porta de casa, agora fica a quilômetros de distância. Ribeirinhos agora caminham por antes era possível andar de barco. A imensidão de água se transformou em um deserto de areia.
Valdino Costa tem 35 anos e nasceu na comunidade ribeirinha de Itapuã. Desde muito jovem, trabalha com escoamento de banana e relatou que essa é a primeira vez que enfrenta uma estiagem tão severa.
“Trabalhamos com isso já faz muito tempo. Começamos a plantar banana há mais de 20 anos e moramos aqui na comunidade há 42. A nossa vida está complicada, é difícil percorrer essa distância carregando as caixas com as bananas”, declarou.
Muitas famílias ribeirinhas vivem com menos de 50 litros de água por dia para abastecer toda a residência. A quantidade é menos da metade dos 110 litros por dia considerados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como necessários para suprir as necessidades básicas de apenas uma pessoa.
As “cacimbas”, como são chamados os poços amazônicos, são perfurados no fundo do quintal para captar água dos lençóis freáticos e é com essa água que a comunidade faz todas as atividades domésticas. Para tratar a pouca água que não é potável, as famílias recebem kits de hipoclorito de sódio e dicas de como “limpar” a água para consumo.
Na comunidade Maravilha 2, zona rural de Porto Velho, famílias estão racionando água. Nesse período de seca extrema, o “cacimbão” está quase seco. Antes, ele marcava um nível constante de aproximadamente meio metro, hoje os moradores contam com apenas 10 centímetros ou menos.
“Tem 40 anos que a gente mora aqui, nunca tinha secado desse jeito, esse ano é que secou assim. A gente pega um pouquinho, depois pega outro, porque se pegar de uma vez vai secando”, revelou Antônio Nogueira, morador da comunidade.
Em meio à seca extrema do rio Madeira, duas das maiores hidrelétricas do Brasil estão apenas com parte das turbinas em funcionamento. Jirau atualmente opera com 20% das turbinas, enquanto Santo Antônio também precisou paralisar parte das máquinas e funciona com 14% da capacidade.
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Ambas as hidrelétricas são projetadas para funcionar de acordo com a vazão do rio Madeira, por isso é esperado que em período de seca as unidades geradoras em funcionamento diminuam.
No entanto, o cenário de 2024 é severo. Pela primeira vez na história o rio ficou abaixo de um metro. A situação é tão inédita que o SGB precisou instalar uma nova régua de medição que vai até 0 centímetros.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) vê “ponto de atenção” por causa da seca, mas não cita possibilidade da falta de energia. “O Sistema Interligado Nacional (SIN) dispõe de recursos suficientes para atender as demandas de carga e potência da sociedade”.
*Com informações da Rede Amazônica RO
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