O agravamento da crise climática pode ter consequências drásticas para os tubarões. O alerta é de uma pesquisa que revela que os efeitos combinados do aquecimento e acidificação do oceano poderão causar um declínio severo na taxa de sobrevivência dos embriões de tubarões até o ano de 2100. Um experimento dos cientistas com o tubarão pata-roxa, um dos mais comuns da Europa, levou a uma queda de 81% para apenas 11% de sucesso reprodutivo em águas mais quentes e ácidas.
O aquecimento dos oceanos e a acidificação são consequências das maiores concentrações de CO2 que se dissolvem nos ambientes marinhos, o que aumenta a temperatura da água e reduz os níveis de pH.
“Os embriões de espécies [de tubarões] que põem ovos são especialmente sensíveis às condições ambientais”, explica a doutoranda do Laboratório de Biologia dos Organismos e Ecossistemas Aquáticos da França, Noémie Coulon, que liderou o experimento, financiado pela Save Our Seas Foundation e apresentado no início de julho durante a Conferência Anual da Sociedade de Biologia Experimental, em Praga, na República Tcheca.
No caso dos tubarões pata-roxa (Scyliorhinus canicula) analisados durante o experimento, os cientistas compararam as taxas de sobrevivência dos embriões em três cenários distintos.
O primeiro, de controle, com temperaturas e pH da linha de base dos anos de 1995 a 2014. Já os outros dois cenários se baseiam nos cenários climáticos previstos para o ano de 2100 pelo Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) em 2021.
Na projeção mais otimista, em que há progresso, ainda que lento, na redução das emissões, o mundo viveria um aumento de temperatura de 2,7°C e queda de 0,2 no pH da água; já no mais pessimista, onde os recursos de combustíveis fósseis continuam sendo explorados avidamente, a temperatura aumentaria 4,4ºC e o pH teria uma queda de 0,4 até 2100.
Enquanto no ambiente controle e na projeção mais otimista as taxas de sobrevivência dos embriões foram de 81% e 83%, respectivamente, no cenário mais pessimista o sucesso caiu para apenas 11%.
Durante o experimento, os pesquisadores observaram semanalmente durante quatro meses o crescimento do embrião e o consumo de gema nos ovos do tubarão pata-roxa, e registraram o sucesso da eclosão e o crescimento dos filhotes sobreviventes seis meses após o nascimento.
O baixíssimo sucesso reprodutivo nos parâmetros mais pessimistas chocou os pesquisadores, que associaram a mortalidade com taxas menores de consumo de gema e de crescimento, assim como falha na transição para guelras internas.
De acordo com os pesquisadores, os 11% sobreviventes do pior cenário não exibiam o padrão de crescimento típico dos outros tubarões, o que pode ter contribuído, ainda que de forma incerta, para sua resistência às alterações ambientais.
A pesquisa também foi a primeira a demonstrar que variações mensais de temperatura possuem um papel importante na mortalidade de embriões de tubarão. “Essa mortalidade foi mais pronunciada em agosto, coincidindo com as temperaturas mais altas (atingindo 23,1°C), e durante uma fase de desenvolvimento em que os embriões sofrem reabsorção branquial”, explica Noémie Coulon.
“Em primeiro lugar, [a pesquisa] serve como um alerta sobre as respostas de outras espécies que podem ser ainda mais sensíveis às alterações ambientais”, explica Coulon. A pesquisa destaca, entretanto, que há esperança, como mostram os resultados do cenário “meio do caminho”, onde há progresso, ainda que lento, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar a crise climática.
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