Com cerca de 750 indivíduos, o povo Mashco Piro é o maior grupo indígena isolado do mundo e habita a floresta amazônica, em uma região de fronteira entre o Acre, no Brasil, e o Peru. No entanto, a integridade deste grupo está ameaçada, segundo a organização Survival International, que nesta semana divulgou imagens raras do grupo.
O registro mostra os indígenas caminhando às margens do rio Las Piedras, no sudeste do Peru, supostamente atrás de comida. A Survival alertou para as ameaças a que os Mashco Piro estão submetidos por conta de atividades de madeireiras que operam na mesma região em que eles vivem. Entenda, em três pontos, quem são, como vivem esses indígenas e qual é o alerta dado:
Os Mashco Piro vivem em total isolamento na Amazônia peruana e brasileira, mais precisamente na faixa fronteiriça entre o Acre e o Peru. A área total de extensão da fronteira Brasil-Peru é de 2.995 quilômetros, já a faixa que compreende ao Acre é de 1.565 km.
Estes indígenas dependem exclusivamente do que cultivam e caçam na floresta, tanto para obter os alimentos como para ter as ferramentas e construir os tapiris, que são as casas onde eles moram. Eles evitam contato até com outros indígenas de outros povos.
No Brasil, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) tem três registros confirmados de indivíduos pertencentes ao povo Mashco Piro, sendo:
- Na Terra Indígena Mamoadate, no limite da fronteira entre Brasil e Peru;
- No Parque Nacional do Manú, que abrange as regiões peruanas de Cusco e Madre de Dios;
- E na região do Rio Envira, mais ao Norte, na terra indígena Kampa.
No Peru , onde estão em maioria, eles vivem em uma área de cerca de 816 mil hectares, perto do Parque Nacional Alto Purus. É a Reserva Indígena Mashco Piro, equivalente a uma Terra Indígena no Brasil.
É estimado que o grupo tenha cerca de 750 integrantes, mas o número exato é difícil de ser calculado, segundo a ativista e pesquisadora da organização Survival, Priscilla Oliveira. Eles falam uma língua própria pertencente ao tronco Arawak.
“A gente imagina que esse seja mais ou menos este número pelos vestígios, pelos certos avistamentos e informações que comunidades indígenas locais também fornecem”, comentou.
A distância do ponto onde o vídeo divulgado nesta semana foi feito no Peru, para o Brasil, mais precisamente até à estação ecológica do Rio Acre, é de cerca de 180 quilômetros.
“Quando a floresta está protegida, eles vivem muito bem. Agora, quando a floresta começa a ficar ameaçada, eles começam a aparecer”, disse Priscilla.
Acredita-se que eles apareceram porque estão sendo pressionados a sair de dentro do próprio território, principalmente no que diz respeito à busca por comida. A quantidade de indígenas registrados na região, segundo ela, chama atenção.
Nos últimos dias, mais de 50 indígenas Mashco Piro apareceram perto da aldeia dos Yine de Monte Salvado, no sudeste do Peru, que não são isolados. A Survival alertou que os Mashco Piro haviam relatado aos Yine, outro grupo indígena que fala língua parecida, sobre a presença dos madeireiros.
“É bem incomum que um grupo tão grande apareça assim, dessa forma. É isso que faz a gente pensar que realmente está acontecendo alguma coisa lá”, disse Priscila, da Survival.
A Survival International explica que o último registro de indígenas Mashco Piro na região foi feito há dez anos, inclusive na região do Rio Envira.
No passado, mais precisamente em 1880, houve registros de exploração e escravização deste povo indígena. Isto ocorreu quando o território foi invadido por trabalhadores envolvidos na extração de látex, para fabricação de borracha. Alguns deles conseguiram escapar e, então, mantiveram o isolamento.
A Survival alerta que povos indígenas isolados são vulneráveis a qualquer tipo de contato com pessoas de fora, já que eles não possuem imunidade contra doenças comuns como a gripe.
Ainda segundo a ONG, o que se sabe sobre os Mashco Piro é de que eles têm a preferência de manter o isolamento, às vezes reagindo de forma agressiva.
“E é bom lembrar que o contato de indígenas isolados com pessoas de fora, principalmente com nós brancos, pode ser mortal para eles, já que eles têm uma imunidade diferente da nossa. E também de um encontro com madeireiros, porque podem estar armados, enfim, pode ser um encontro violento que vai acabar com a morte de algum indígena”, disse.
A ONG denuncia a exploração de madeira no território dos Mashco Piro, no Peru, que compromete a existência dos indígenas, uma vez que parte do território deles ficou de fora da proteção legal, sendo concedido a madeireiros a permissão para exploração de madeira na região.
Neste caso em específico, o espaço dos indígenas fica à beira de um rio, a poucos quilômetros da região onde uma madeireira chamada Canales Tahuamanu detém uma licença de extração certificada pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC).
O selo de aprovação, encontrado em produtos feitos de papel, é um certificado de que a madeira utilizada é sustentável. Mas segundo a ativista, não é este o caso. Por conta disto, a ONG quer que esta certificação seja retirada da empresa madeireira e que o governo peruano acabe com as concessões dentro da terra indígena. O pedido é feito por meio de um abaixo-assinado.
“Estamos pressionando a FSC para retirar o selo de sustentabilidade dessa empresa e também o governo peruano para cancelar as concessões de exploração de madeira no Mashco Piro, e proteger o território deles, legalmente definir os limites do território, e não permitir que empresas vão lá explorar madeira”, disse.
Em nota pública, a FSC disse que tomou medidas ao levantar esta questão com o órgão de certificação e a Assurance Services International (ASI) em 2022 e 2023. Falou ainda que, ao que se tem conhecimento, a madeireira tem concessão de exploração válida e que está em uma floresta de produção permanente.
“A unidade de manejo florestal da MCT [Madeireira Canales Tahuamanu] é adjacente à reserva territorial Madre de Dios, onde os Mashco Piro residem. A empresa tem protocolos em vigor para evitar encontros com membros dos Mashco Piro, projetados em coordenação com o Ministério da Cultura do Peru, que é responsável por proteger os povos indígenas que vivem em isolamento voluntário”, informou.
A organização disse ainda que o caso será analisado e revisado com mais cautela para verificar os limites de exploração e proteger os direitos dos povos indígenas.
“Esta revisão informará a posição do FSC em relação à certificação do MCT e orientará outros aspectos do nosso trabalho. Levamos esta investigação muito a sério e, devido ao seu escopo completo, exigirá uma abordagem cuidadosa e considerada para ser concluída”, concluiu.
O governo peruano ainda não se posicionou acerca da denúncia.
*Por Renato Menezes, da Rede Amazônica AC
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Portal Amazônia e são de total responsabilidade do autor.
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