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Como ampliar a cobertura de desastres climáticos?

Como ampliar a cobertura de desastres climáticos?

Lançado no dia 19 de novembro no canal do YouTube d’O Eco, o Manual para a Cobertura Jornalística dos Desastres Climáticos oferece a jornalistas e profissionais da comunicação um guia essencial para abordar um dos maiores desafios do século XXI. Organizado pelas professoras e pesquisadoras de Jornalismo Márcia Franz Amaral, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e Eloisa Beling Loose e Ilza Maria Tourinho Girardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o trabalho busca aprimorar a cobertura jornalística de desastres associados às mudanças climáticas, que já afetam a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Desenvolvido a partir de investigações conduzidas por grupos de pesquisa na área do Jornalismo, o manual dialoga com o trabalho de cientistas do IPCC e busca traduzir o conhecimento técnico em ferramentas práticas para jornalistas. O trabalho reforça que as os desastres não são fenômenos naturais, mas resultado de uma complexa interação entre processos de vulnerabilização social e impactos ambientais intensificados pela crise climática, consequência da ação humana. 

Só na última década, a crise climática deixou de ser um conceito distante para tornar-se uma realidade cotidiana, evidenciada pela gravidade dos eventos extremos. Em 2023, a temperatura média global alcançou 1,5 ºC acima da era pré-industrial, um registro histórico preocupante, associado a níveis recordes de gases de efeito estufa. Este cenário ganha proporções trágicas no , como demonstrado pelo desastre no Rio Grande do Sul, que em abril de 2024 afetou mais de dois milhões de pessoas e deixou 183 mortes confirmadas.

A dimensão do desastre ocorrido mobilizou as pesquisadoras a construir este Manual, que busca incentivar uma cobertura jornalística para além do momento em que o desastre se revela, quando estamos em período de emergência. A cobertura contínua sobre os desastres climáticos se faz importante porque existem muitas temporalidades que coexistem, não existindo um consenso sobre quando o desastre acaba. Além disso, a construção das pode desafiar o imaginário que naturaliza as tragédias, por meio de questionamentos e diversificação dos enquadramentos para incluir tanto as causas quanto as consequências desse cenário. 

“Consideramos que o desastre é foco de atenção midiática por um período muito aquém de sua existência, com lentes que o reduzem a um evento. Ao desdobrar aspectos desse assunto, desejamos que o campo jornalístico considere outros enquadramentos e interfaces, de modo a qualificar as informações que chegam aos diversos públicos” – trecho do Manual para a Cobertura Jornalística dos Desastres Climáticos.

Assinando o prefácio, a autora de obras premiadas como Arrastados Daniela Arbex deixa uma mensagem contundente: “Desastre é uma palavra que, se empregada sozinha, exclui a responsabilidade humana diante das tragédias”. Arbex destaca que os jornalistas precisam estar ao lado daqueles que sofrem com a invisibilidade, utilizando o poder da informação para construir narrativas que reflitam a complexidade da crise climática.

Portanto, o Manual  é, antes de tudo, uma ferramenta essencial para jornalistas e comunicadores que buscam compreender e relatar a emergência climática de forma qualificada. Em tempos de “fervura climática”, como apontado por António Guterres, o manual convida à reflexão e à ação, reconhecendo que enfrentar os desafios da crise climática começa com a maneira como contamos essas histórias.

A publicação, que está disponível gratuitamente, aborda uma ampla gama de temas que vão desde a apresentação das complexidades por trás dos desastres até o fornecimento de fontes essenciais para os jornalistas. O primeiro capítulo, “Para entender um desastre”, destaca a necessidade de entender que desastres não são apenas fenômenos naturais, mas também o resultado de interações humanas e socioeconômicas, permitindo uma análise mais profunda e responsável da cobertura jornalística.

O segundo capítulo, “Dez tópicos sobre o sistema de gestão de riscos de desastres no Brasil”, mergulha na estrutura do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec) e na política que o sustenta. São explorados tópicos como monitoramento, sistema de alertas e evacuação, além de destacar o papel do voluntariado e a liberação de recursos emergenciais. Esse capítulo também aborda as condições de trabalho dos profissionais de Defesa Civil, oferecendo uma visão completa das engrenagens que sustentam a gestão de riscos no país e auxiliando os jornalistas a compreenderem e relatarem esses processos.

No terceiro capítulo, “Ciclo de atenção jornalística aos riscos e desastres”, o manual examina as fases da cobertura, desde os desafios enfrentados em situações de crise até a complexidade de cobrir eventos ao vivo. Já o quarto capítulo, “Dez pontos sensíveis da cobertura de desastres climáticos”, enfatiza aspectos como a escolha das fontes – científicas, políticas e testemunhais –, os riscos de desinformação e os desertos informacionais. Ele também convida os jornalistas a considerar interseccionalidades e a conexão entre a cobertura e políticas públicas, apontando como essas questões influenciam a narrativa e o impacto das reportagens.

O manual ainda apresenta “Dez ideias de pautas sobre os desastres”, no quinto capítulo, com temas que vão desde as causas estruturais, como os modelos de desenvolvimento, até a memória e o pertencimento nos contextos de desastres. Há espaço para pautas que relacionam os desastres aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a segurança em meio ao caos e à saúde pública. O Manual encerra com sugestões de  fontes confiáveis e siglas recorrentes, essenciais para garantir precisão na apuração da cobertura jornalística de desastres climáticos.

O evento de lançamento contou com a participação das jornalistas Kelly Matos, da Rádio Gaúcha, e Cláudia Gaigher, especializada na área socioambiental. Ambas já cobriram desastres climáticos e ressaltaram o papel do Manual. 

“O Manual é absolutamente relevante, importante para que a gente tenha esse olhar. Eu insisto na ideia de que […] já deveria estar transversal, já não deveria mais estar com uma editoria separada, isso tem que ser um assunto ordinário nosso, na pauta da economia, não pode mais ser uma coisa fora do nosso dia a dia, já se provou isso. Acho que nós temos que encontrar maneiras mais eficazes de nos fazer entender”, destacou Kelly.

A transversalização da discussão ambiental no Jornalismo, assim como a necessidade de conexão com a crise climática permearam o diálogo. Cláudia completou que “As pessoas não entendem que há um desequilíbrio no sistema climático e isso cabe a nós, jornalistas [explicar]. Então, quando eu vi no manual aquelas indicações todas da busca das fontes, de quais os centros de informação que as pessoas vão ter uma informação científica detalhada para apurar essas informações,  eu achei sensacional!”.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
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