Os mais de cinco mil municípios brasileiros foram às urnas no primeiro domingo de outubro escolher representantes ao executivo e legislativo para os próximos quatro anos. Em alguns casos a disputa se estendeu ainda mais. O momento de crise ambiental evidente trouxe a pauta climática como uma prioridade nas agendas locais, demonstrando que os eleitores estão cada vez mais preocupados com o futuro do planeta e os impactos sobre a vida humana. Candidatos que têm a sustentabilidade como pilar de campanha surgiram por todo país, também como resultado do aumento de catástrofes ambientais de grande impacto.
Cidades que enfrentaram enchentes, queimadas, poluição e desmatamento foram palco de debates acirrados sobre o papel da política, e das políticas públicas, na preservação e recuperação ambiental. Mobilidade ativa, gestão de resíduos e proteção das áreas verdes foram alguns dos temas em alta ao longo do primeiro turno. O eleitor entendeu que era hora de pensar soluções para amenizar os efeitos climáticos e adaptar nossas cidades para um novo futuro.
Foi assim que surgiu a Bancada do Clima, que reuniu 299 candidatos à vereança no primeiro turno. Os integrantes do movimento somaram 57 eleitos em todo o país, em sua maioria mulheres. Talvez essa seja a resposta mais urgente das cidades, onde as pessoas vivem e utilizam serviços públicos, sentindo fortemente os efeitos climáticos extremos. Prefeituras que priorizam a sustentabilidade podem sair à frente da mitigação, promovendo qualidade de vida aos cidadãos. Isso inclui investimentos em infraestrutura verde, incentivo à energia renovável e a criação de programas de educação ambiental.
Em São Paulo, Marina Bragante foi eleita a primeira vereadora da Rede Sustentabilidade, colocando a agenda ambiental como prioridade para a capital, e outros municípios também foram na mesma direção. Vinhedo, no interior do estado, teve entre nomes do partido os três candidatos a vereador mais bem votados da cidade, e Limeira também elegeu uma representante da Bancada do Clima. O apagão que atingiu mais de 3 milhões paulistanos movimentou o segundo turno da capital, evidenciando que o clima não é mais uma preocupação secundária.
À medida que cresce a urgência da crise ambiental, é vital que os líderes eleitos se comprometam com ações concretas e a onda de conscientização não se esgote nas urnas. Não é só o futuro das nossas cidades que depende disso. Precisamos que a agenda climática permaneça no centro das discussões políticas para garantir um mundo mais sustentável e justo para todos. Enquanto a crise afeta a qualidade de vida em todo o planeta, as mulheres e crianças sofrem ainda mais. É nesse ponto que as agendas ambientais e de gênero se encontram.
De acordo com a ONU Mulheres, as mulheres representam uma grande parte da população pobre no mundo, o que as torna mais vulneráveis a desastres climáticos. Nos países de renda média e baixa, elas são essenciais na agricultura, sendo 40% da força de trabalho, mas só 20% têm suas próprias terras. Com esse desequilíbrio, os efeitos das mudanças climáticas aumentam ainda mais as desigualdades, sobrecarregando as mulheres com tarefas como buscar água e elevando o risco de violência em áreas atingidas por desastres naturais.
Se as eleições de 2024 marcaram uma nova direção para a política local, o desafio agora é garantir que os eleitos cumpram suas promessas, tornando as políticas climáticas uma realidade nos planos de ação climáticos. Para isso, a sociedade civil deve permanecer vigilante e engajada, cobrando ações efetivas e monitorando a implementação das propostas. Nessa agenda nós mulheres podemos ser líderes, muitas vezes na linha de frente das comunidades mais afetadas pelas mudanças climáticas, sendo vitais para o desenvolvimento de estratégias eficazes de adaptação e mitigação.
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