“Educadores, onde estarão? Professores, há milhares. Professor é profissão… Educador, ao contrário, não é profissão, é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança.”
(Rubem Alves – O Educador: Vida e Morte)
Ainda na ressaca das homenagens ao dia dedicado à docência (15 de outubro) é coerente rememorar questões relativas ao sistema de ensino brasileiro. A princípio, a data torna-se marco histórico em 1934, através da parlamentar negra, Antonieta de Barros – professora, jornalista, escritora e política brasileira.
As referências ao ensino brasileiro nos reportam a 1827, quando a constituição do império garantia “instrução primária gratuita a todos os cidadãos”: conquista resultado do projeto de Januário da Cunha Barbosa (1826), afirmando que a educação é “dever do Estado”, assim como a distribuição de escolas de diferentes graus e de necessárias graduações por todo o território nacional.
Vale ressaltar: o fato, antes de representar um favor da corte portuguesa, constituía um direito parido das lutas por um Brasil que ensaiava independência política. Do projeto de Cunha Barbosa, vigorou apenas “as escolas de primeiras letras”. Até a década de 60, as conquistas por uma educação legitimamente brasileira, ao mesmo tempo libertadora, acontecem a duras penas. Entra governo, sai governo e sobram às escolas restrições, mandonismos, migalhas, enfim, sobram os limites permitidos pelas neo-concessões imperialistas.
Contrapondo-se ao pensamento único, oficioso, surgem na mesma década, os Centros Populares de Cultura, os Movimentos de Educação de Base com objetivo de envolver a população adulta na vida política do País. Dos fragmentos históricos resgatados, é impossível silenciar o Seminário da Cultura Popular e o projeto de Educação como prática de Liberdade, semeados por Mestre Paulo Freire… Impossível esquecer que “o antidiálogo é uma relação vertical, que não comunica. É sentimento desamoroso, autossuficiente”. Impossível esquecer que “o diálogo é a única forma de comunicação por ser relação horizontal e ligada por um sentimento de amor, fé e esperança mútuos…”
Na verdade, os venenos ideológicos injetados no sistema de ensino brasileiro, com estratégia e sutileza, eliminam e silenciam maestrias comprometidas com uma educação libertadora, autônoma, inclusiva, no caso, a educação alicerçada nos princípios Freireanos. Na carência de autênticas maestrias, surgem enxurradas de projetos gabinetistas entupindo de reproduções classistas, desamorosas a expressividade já amordaçada de curumins, cunhãs perdidos nos impositivos da “educação bancária” – concepção de que as pessoas são seres vazios, meros receptores de conteúdos indiscriminados. Por essa via, a práxis de humanização é substituída pela mecanização insípida do saber repetitivo – nutriente da ética “do vale-tudo, do salve-se quem puder, do cada um por si”, citada pelo Educador Paulo Freire, na Pedagogia da Indignação.
E o cordão de diplomados/as avança repetindo e repetindo o refrão determinado pelo sistema, contaminando e condenando gerações à opressão, à subserviência. O educador Ezequiel Theodoro compara o processo a um “Vaivém molenga. Um vaivém no mundo do sub-reptício: das falas e proposições ocas. Dialética sem contradição”.
É doloroso admitir: os Mestres da dialogicidade, do profundo engajamento com a “ética universal humana” vêm sofrendo baixas… Vão sumindo, condenados à extinção. Como transgressores de transgressões sistêmicas ou alteradores da ordem estabelecida, apenas são citados pelo que disseram, mas silenciados pelo que fizeram…
Que o futuro das novas gerações entregue às pedagogias do atual sistema não nos cobre pelo silêncio e pela estupidez.
A imagem que abre este artigo é de autoria de Floriano Lins/ Amazônia Real e tem como título a Educação Popular. “Doloroso admitir: os Mestres da dialogicidade, do profundo engajamento com a “ética universal humana” vêm sofrendo baixas…” (Fátima Guedes).
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