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CIR pede que órgãos federais investiguem assassinato de Angelita Yanomami

CIR pede que órgãos federais investiguem assassinato de Angelita Yanomami

Organizações de defesa das mulheres, em Roraima, divulgaram nota cobrando investigação e justiça à liderança indígena (Foto: @nucleodemulheresrr).


Boa Vista (RR) – Passados quase dois meses desde que os restos mortais de Angelita Proporita Yanomami foram encontrados, as autoridades policiais ainda não têm respostas sobre o crime. Ninguém foi preso e a Polícia Civil, que conduz o caso, não informa como está o andamento da investigação. Angelita trabalhava como intérprete na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista. Ela estava desaparecida e seus restos mortais foram encontrados no dia 1º de maio. A confirmação de que se tratava de Angelita aconteceu no dia 31 de maio pela Polícia Civil de Roraima e pela Hutukara Associação Yanomami.

Sem respostas das autoridades públicas, indígenas de Roraima pedem que órgãos federais integrem a investigação que está com a Polícia Civil de Roraima. No último dia 5, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) enviou um ofício ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva pedindo uma apuração no âmbito federal para solucionar o crime. O documento foi enviado para Sonia Guajajara, ministra dos povos indígenas, Joenia Wapichana, presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Cida Gonçalves, ministra das Mulheres.

O CIR quer que a Polícia Federal assuma as investigações, por isso enviou o ofício também para o  superintendente do órgão em Roraima, Ronaldo Guilherme Campos, e para o procurador da República, Alisson Marugal. À Amazônia Real, a PF informou que não se manifesta sobre investigações, mas a reportagem apurou que o órgão ainda não está no caso.

“É a segunda morte de uma mulher indígena Yanomami na cidade de Boa Vista em menos de dois anos. Por isso requeremos o acompanhamento dos inquéritos e investigação do assassinato da indígena Angelita Yanomami”, diz o ofício.

Para o diretor jurídico do CIR, Júnior Nicácio Wapichana, mais órgãos e instituições devem se envolver para que o desfecho do crime tenha celeridade. “A gente quer que a Polícia Federal acompanhe e que até pegue para investigar para que não fique só na Polícia Civil e que seja um caso de feminicídio isolado. Por isso a gente oficializou, para saber se foi uma ameaça, se foi por causa do garimpo”, explicou Nicácio à Amazônia Real.

No dia 2 de junho, o Núcleo de Mulheres de Roraima (NUMUR) divulgou nota assinada por 61 organizações cobrando justiça à Angelita e denunciou a omissão e o descaso das autoridades para com o crime. “Diante da crise humanitária e de saúde, criada pelo descaso e abandono nos últimos anos do poder público e o incentivo de atividades criminosas de garimpo no seu território, Angelita [foi resistente e] conquistou espaço na cidade como tradutora e intérprete da sua língua materna”, diz a nota.

O NUMUR lembrou de outros casos de assassinatos, como o da mulher Yanomami morta em uma feira de produtor rural, em Boa Vista, no final de 2022. Na época, feirantes disseram à reportagem que dois homens, suspeitos de efetuarem os disparos, fugiram de bicicleta por dentro do local que tem câmeras de segurança. Até o momento ninguém foi preso.

Questionada, a Polícia Civil de Roraima se limitou a informar que “o caso foi encaminhado ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal” para assumirem as investigações.

Garimpo

Agentes do GEF do IBAMA com apoio da PRF deflagram operação contra o garimpo na região de Mucujaí, na Terra Indígena Yanomami, em 05 de abril de 2023 (Foto: Bruno Kelly/Ibama).

Andrea Vasconcelos, que integra o NUMUR, contou à Amazônia Real que há uma seletividade nos casos de violência, torturas e mortes de pessoas pobres no Brasil, na Amazônia e em Roraima. Segundo ela, que é mestre em sociologia e graduada em Direito, esta realidade está presente, principalmente, nas populações mais vulnerabilizadas, que é o caso dos povos indígenas.

“A sociedade sequer se comove ou se enluta pelos assassinatos das mulheres Yanomami. É como se nada estivesse acontecendo, como se não houvesse importância nessas vidas”, diz a socióloga.

Para Andrea Vasconcelos, estudiosa de assuntos relacionados às mulheres e uma das fundadoras do NUMUR, há um processo de desumanização quando se fala das mulheres Yanomami. “São vidas que o Estado deixa morrer”, afirma.

A Amazônia Real apurou que Angelita Yanomami foi sepultada no território de seu povo seguindo os ritos funerários tradicionais. A Amazônia Real recebeu uma nota da Hutukara Associação Yanomami na qual a organização diz apenas que está apoiando as investigações, “mas em respeito à família, ao povo Yanomami e para não atrapalhar a análise do caso, não vai se manifestar no momento sobre a morte de Angelita Prororita Yanomami”.

Edinho Batista Macuxi, coordenador do CIR, suspeita que o assassinato de Angelita pode ter conexão com a atividade de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, com envolvimento de garimpeiros que estão na cidade. Segundo ele, trata-se “classe de criminosos” queria a liderança feminina morta. Mas, para isso se confirmar, é preciso que as investigações prossigam. Por enquanto, há apenas suspeitas, já que Angelita era próxima de indígenas que combatem o garimpo na TI Yanomami.

O coordenador do CIR também suspeita que o crime tenha mais de uma pessoa envolvida e que ele ocorreu para intimidar a luta indígena contra o garimpo. Para o indígen, falta vontade política para solucionar este crime.

“Às vezes, quando é de interesse, quando é de alguém que não é parente indígena, a gente sabe que tem um processo rápido porque querem investigação e claro, punição. Mas quando é para gente indígena, é um processo muito demorado, às vezes até negado esse direito”, avaliou Edinho.

O que dizem as autoridades

Os restos mortais de Angelita Yanomami foram encontrados no dia 1º de maio. A confirmação de que se tratava de Angelita foi divulgada no dia 31 de maio. Mas até o momento, o Instituto Médico Legal (IML) não informou oficialmente a causa do óbito.

A Delegacia Geral de Homicídios informou em nota à Amazônia Real que o inquérito aberto para as investigações foi prejudicado porque “o desaparecimento da mulher não foi comunicado por nenhum familiar à Polícia Civil”.

Fontes ouvidas pela reportagem da Amazônia Real disseram que a identificação da causa da morte de Angelita é difícil por falta de sinais que comprovem, supostamente, um tiro ou uma facada, por exemplo.

“Não tem como saber o que provocou a morte, não há osso quebrado. O corpo já estava em avançado estado de decomposição, só tinha a ossada dela, por isso, também não dá para dizer se ela foi vítima de arma branca”, explicou uma fonte que pediu anonimato.

Na nota que a Polícia Civil de Roraima encaminhou para a Amazônia Real foi informado que órgão “já ouviu algumas pessoas, familiares da mulher, e outras estão sendo intimadas para depor”, e segundo a secretaria de Comunicação do Governo “estão sendo aguardados os laudos periciais, dentre eles o cadavérico”. A nota diz que “as investigações seguem até que o caso seja solucionado”.

Ainda conforme o comunicado, “somente com mais de 15 dias após o sumiço da indígena é que uma colega de trabalho procurou a Polícia, exatamente um dia antes do reconhecimento da ossada no Instituto de Medicina Legal”.

Obs.: Post publicado originalmente no Site Amazônia Real
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