As chuvas torrenciais que atingem o Rio Grande do Sul desde o último fim de semana causam cheias históricas no estado. Segundo as últimas atualizações divulgadas pelo governador Eduardo Leite (PSDB), já são 29 mortos e 60 desaparecidos no estado. “Os números são imprecisos, porque vão aumentar muito”, já havia alertado Leite em coletiva de imprensa realizada ontem (1). Também ontem, o governador decretou estado de calamidade pública em todo o território do Rio Grande do Sul, válido por 180 dias.
Para piorar, parte da estrutura da barragem da Hidrelétrica 14 de Julho se rompeu em Cotiporã, na serra. A estrutura já estava submersa, o que não fará com que o nível do rio das Antas suba ainda mais. O risco, porém, é o aumento da vazão do rio a partir da barragem, alertou Artur Lemos, secretário da Casa Civil estadual. A orientação da secretaria é de que os moradores dos municípios de Santa Tereza, Muçum, Roca Sales, Arroio do Meio, Encantado, Colinas e Lajeado deixem áreas de risco e procurem abrigos públicos ou outro local de segurança para permanecer durante a elevação de nível do rio.
“A Secretaria do meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) monitora, também, as estruturas de outras 13 barragens de usos múltiplos que estão em estado de alerta, cinco delas já em processo de evacuação: barragem Santa Lúcia, em Putinga; barragem São Miguel do Buriti, em Bento Gonçalves; barragem Belo Monte, em Eldorado do Sul; barragem Dal Bó, em Caxias do Sul; e barragem Nova de Espólio de Aldo Malta Dihl, em Glorinha”, listou o comunicado do governo estadual.
Já no rio Taquari, onde o rio das Antas deságua, passa pela maior cheia de sua história. Na noite de ontem, o rio ultrapassou a marca de 30m pela primeira vez, nas cidades de Lajeado e Estrela – o recorde anterior era de 29,9m, em 1941. Às 6h, o rio chegou aos 31,8m, e projeções apontam que a cheia pode atingir até 34m, alerta o MetSul. Em Porto Alegre, o lago Guaíba ultrapassou a cota de inundação de 3m e alagou o Cais Mauá, o que aconteceu apenas pela 5ª vez na história – e a primeira vez desde 1941 que isso acontece nesta época do ano. Entre as outras 4 inundações, duas ocorreram no ano passado. O nível do Guaíba atingiu 3,28m às 18:32, com tendência de subida rápida.
Segundo os dados divulgados às 12h pelo governo do estado, já são 147 municípios afetados: 4.599 pessoas estavam em abrigos, 9.993 ficaram desalojadas, e mais de 67 mil foram afetadas. Às 18h, o governo estadual anunciou ainda que 541 mil pessoas estavam sem abastecimento de água, e 328 mil pontos estavam sem energia elétrica. 494 escolas foram afetadas em 171 municípios, incluindo 210 danificadas e 12 servindo de abrigo. Ontem, o governo anunciou a suspensão das aulas na rede estadual de ensino até o final da semana. Além disso, 139 trechos de 60 rodovias estaduais estão com bloqueios parciais ou totais, segundo o boletim, com danos a estradas e pontes.
“Infelizmente será o maior desastre no nosso estado”, disse o governador Eduardo Leite na coletiva de ontem, prevendo que a destruição será ainda maior do que as do ano passado. Leite pediu ainda o adiamento das provas do Concurso Nacional Unificado no estado, marcadas para o próximo domingo (5), em 10 cidades.
Em Sinimbu, município localizado no vale do rio Pardo, também em cheia histórica, a prefeita Sandra Backes (UNIÃO) descreveu um cenário de total destruição. “Não tem mais comércio, não tem mais indústria, não tem mais emprego e todos os prédios públicos foram atingidos”, relatou, citada pelo MetSul.
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), há 91 alertas atualmente ativos no Rio Grande do Sul, que está no estágio de alerta “muito alto”. A previsão para amanhã, segundo o Cemaden, é muito alta a possibilidade de ocorrência e permanência de inundações e alagamentos nas regiões Metropolitanas de Porto Alegre, Nordeste, Centro-Oriental e Centro-Ocidental Rio-Grandense, e também na região Sul de Santa Catarina.
Há também alertas de risco geológico muito alto, com movimentos de massa, para as regiões Metropolitana de Porto Alegre, Nordeste Rio Grandense e Sul Catarinense, e de risco alto para as regiões Serrana Catarinense, Centro Oriental, Centro Ocidental e Noroeste Rio Grandense.
Segundo o Metsul, as chuvas ainda devem continuar até o início da próxima semana entre o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina. As chuvas torrenciais são resultado do encontro de uma massa de ar muito frio, que derrubou temperaturas na Argentina e no Uruguai, com uma massa de ar quente e seco que ocupa boa parte do Brasil, mais ao norte.
“O ar frio não vai conseguir vencer o duelo com o ar quente. A frente fria agora sobre o Rio Grande do Sul não romperá o bloqueio e passará à condição de semi-estacionária até sábado no Norte gaúcho e em parte de Santa Catarina, gerando muita chuva”, prevê o serviço meteorológico.
A massa de ar quente empurrará o ar frio mais para o sul a partir do domingo. Neste dia, os modelos apontam diferentes cenários para a quantidade de chuva no Rio Grande do Sul. “A maioria indica pouca chuva no domingo, mas por experiência sabemos que frentes quentes não raro provocam chuva forte e temporais com raios e granizo. Por isso, o domingo merecerá atenção mesmo que hoje os dados não indiquem chuva forte”, diz o MetSul.
O início da próxima semana será de mais extremos climáticos, só que agora de calor. “Na segunda, a frente quente estará sobre o Uruguai e, então, o ar muito quente do Brasil vai tomar o estado. O sol vai predominar no Rio Grande do Sul e vai fazer muito calor. Máximas atingirão 35ºC em algumas cidades e podem alcançar 32ºC a 34ºC na Grande Porto Alegre. Na terça, o sol segue predominando com a chuva e os temporais atingindo o Uruguai e áreas próximas nas fronteira e no extremo Sul enquanto no restante do estado haverá sol e calor”, conclui a análise.
Como mostramos em janeiro, os eventos de chuva extrema já eram previstos para este ano, e tem relação direta com as mudanças climáticas, segundo pesquisadores. “A tendência para 2024 é que tenhamos até a metade do ano temperaturas anomalamente quentes, por intensificação do El Niño. E, mesmo que a estação de chuvas tenha começado bem atrasada, como aconteceu no Centro-Oeste, há a tendência de eventos extremos de precipitação. Ou seja: temos períodos secos com ondas de calor e períodos curtos com intensa precipitação”, disse a ((o))eco Francisco Aquino, professor do Centro Polar e Climático da UFRGS.
Ajuda federal
Uma comitiva do governo federal chegou ao estado na manhã de hoje (2), e uma reunião foi realizada com a presença do presidente Lula e do governador Eduardo Leite. O socorro mobilizado pela União contará com efetivos da Defesa Civil Nacional, do Exército e da Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo os últimos dados disponibilizados pelo Palácio do Planalto, 626 militares atuam nas operações, com quatro aeronaves – o Ministério da Defesa solicitou outras oito.
“Estamos testemunhando um desastre histórico, infelizmente. Os prejuízos materiais são gigantescos, mas nosso foco neste momento são os resgates. Ainda há pessoas aguardando o socorro”, disse Leite, na reunião com o presidente. Lula prometeu reforçar a ajuda ao estado. “Nós vamos colocar quantos homens forem necessários para ajudar. Não há limite de pessoas para a gente mandar”, afirmou o presidente. O governo federal anunciou ainda a instalação de um posto de comando em Santa Maria, uma sala de comando e controle em Brasília e a montagem de um hospital de campanha em Lajeado.
Além de Lula, foram ao Rio Grande do Sul os ministros Rui Costa (Casa Civil), Renan Filho (Transportes), Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), Jader Filho (Cidades), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação), além do comandante do Exército, general Tomás Paiva, e do chefe do gabinete do Comandante da Aeronáutica, Major-Brigadeiro do Ar Antonio Luiz Godoy Soares.
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