Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Cartão corporativo de Bolsonaro abasteceu quartel do Exército

Cartão corporativo de Bolsonaro abasteceu quartel do Exército
Ver no Amazônia Real

Empresária confirma que entregou 2.954 lanches e 659 marmitas para o 7º Batalhão de Infantaria de Selva no dia 26 de outubro de 2021, quando Jair Bolsonaro visitou Roraima para visitar refugiados venezuelanos, indígenas pró-garimpo e religiosos. Na imagem acima, soldados no 7º BIS em Roraima (Foto: Divulgação)


Boa Vista (RR) – O ex-presidente Jair Bolsonaro e o Exército brasileiro devem explicações de por que teriam gastado, em um único dia, 109 mil reais com lanches, marmitas e bebidas compradas de um pequeno restaurante de Boa Vista, capital de Roraima. Os dados se referem aos gastos do cartão corporativo da Presidência da República e foram obtidos pela agência Fiquem Sabendo, a partir do pedido de informação de protocolo 00137.019649/2022-72. Solicitados no dia 18 de dezembro, ainda sob a gestão de Bolsonaro, eles foram liberados nesta quarta-feira (11), já sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Exército brasileiro, que é capaz de fabricar cloroquina, também mantém em seus quartéis cozinhas preparadas para alimentar rotineiramente os militares. Bolsonaro, que aparelhou o governo federal com entrega de inúmeros cargos a oficiais das Forças Armadas, costumava visitar as unidades militares nas viagens que fazia aos estados da Amazônia. Em Roraima, não foi diferente, mas em 26 de outubro de 2021 houve a compra extraordinária de comida que acabou sendo enviada à tropa.

Os 109.266 reais foi o maior gasto com alimentação pagos pelo cartão da Presidência durante todo o mandato do ex-presidente. O valor serviu para comprar 2.954 kits de lanches e 659 marmitas de almoço, além de água, refrigerantes, barras de cereais e achocolatados. A demanda foi atendida pelo restaurante Sabor de Casa, localizado no bairro Pricumã, zona oeste da capital Boa Vista. Tudo foi entregue, segundo a empresária Roberta Silva Rizzo, de 34 anos, ao Exército, no 7º Batalhão de Infantaria de Selva, às 5 horas do dia 26 de outubro de 2021.

  • Restaurante “Sabor de Casa”, em Boa Vista, Roraima (Foto: Felipe Medeiros/Amazônia Real)
  • Restaurante Sabor de Casa, em Boa Vista antes e depois da reforma (Foto: Reprodução redes sociais)
  • Restaurante Sabor de Casa, em Boa Vista (Foto: Reprodução redes sociais)
  • Restaurante Sabor de Casa, em Boa Vista (Foto: Reprodução redes sociais)
  • Fachada do 7º BIS em Boa Vista, Roraima (Foto: Felipe Medeiros/Amazônia Real)

O restaurante é pequeno e simples, tem um balcão na recepção, um portão que dá acesso a uma espécie de garagem onde ficam mesas e cadeiras de plástico. A fachada já não é a mesma que aparece na busca de imagens pelo Google. A empresária informou que está no ramo alimentício há seis anos – em 2013, a ex-bióloga e farmacêutica chegou a trabalhar na Secretaria do Estado de Saúde de Roraima.

O Sabor de Casa, uma empresa familiar, serve comida como prato feito e faz entregas por aplicativos de delivery. Após a divulgação dos dados do cartão presidencial, amigos e familiares estiveram pela manhã no local dando apoio à empresária e à família. Nesta quinta-feira (12) o restaurante estava mais movimentado que outros dias e ganhou destaque na mídia local e nacional, assim como nas redes sociais de políticos e anônimos.

Roberta lembrou à Amazônia Real que foi procurada pela equipe do governo Bolsonaro três dias antes da visita para fazer um orçamento. A lista de alimentos foi passada por um representante da equipe presidencial. A dona do restaurante informou que diariamente vende cerca de 400 marmitas e para atender a equipe do governo teve que, extraordinariamente, fechar naquele dia para dar conta dos pedidos. “Fiz tudo dentro da legalidade e tenho notas fiscais”, afirmou.

Segundo a empresária, cada kit de lanche tinha dois sanduíches com queijo e presunto, maçã, água, barra de cereal e achocolatado. As marmitas foram servidas com arroz, feijão, salada, batata frita, farofa e um tipo de carne. Cada quentinha custou 30 reais, o mesmo valor cobrado de cada lanche. Hoje, o preço médio da refeição no restaurante é 23 reais. “Teve esse custo acima do que a gente vende no dia a dia porque também entregamos água e refrigerante junto de cada marmita”, disse à reportagem.

Despesas reveladas

  • Boa Vista, RR 26/10/2021 – Bolsonaro visita ao acampamento da Operação Acolhida Randon 4 (Foto: Isac Nóbrega/PR)
  • Boa Vista, RR 26/10/2021 – Bolsonaro visita ao acampamento da Operação Acolhida Randon 4 (Foto: Isac Nóbrega/PR)
  • Boa Vista, RR, 26/10/2021 -Bolsonaro e Magno Malta no culto em comemoração aos 106 anos da Assembleia de Deus.(Foto: Isac Nóbrega/PR)
  • Boa Vista, RR 26/10/2021 – Bolsonaro no culto em comemoração aos 106 anos da Assembleia de Deus (Foto: Isac Nóbrega/PR)
  • Boa Vista, RR 26/10/2021 – Bolsonaro no corte simbólico de bolo em comemoração aos 106 anos da Assembleia de Deus em Roraima (Foto: Isac Nóbrega/PR)

A quantidade de comida para um único dia chama a atenção, assim como os demais tipos de pagamentos efetuados no cartão corporativo presidencial. Outras despesas reveladas pela Fiquem Sabendo, e que agora se tornaram públicas, podem ser acessadas no site do próprio governo, a partir deste link. Esses dados não estão incluídos na extensa lista de sigilos de 100 anos impostos por Bolsonaro, mas só foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação após inúmeras negativas do governo anterior que justificava que essa informação só se tornaria pública após o término do mandato.

Nas redes sociais, veículos de comunicação e os próprios internautas trataram de escarafunchar mais os dados. A hashtag BOLSOLADRÃO virou trending topics, no Twitter, mostrando outros gastos exorbitantes, como os 33 mil reais gastos em uma única padaria às vésperas de uma motociata em São Paulo, o abastecimento do carro com 1.000 litros de gasolina em único dia. As maiores despesas do cartão do ex-presidente, que está nos Estados Unidos desde antes da posse de Lula, foram com hospedagem (13,7 milhões em hotéis) e alimentação.

No total, Bolsonaro gastou 27,6 milhões de reais no cartão corporativo presidencial. Outros presidentes, como o próprio Lula, Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), gastaram cifras parecidas, em torno de 20 milhões de reais nos primeiros mandatos de seus governos, em valores da época. Um vídeo divulgado nas redes mostra o ex-presidente Bolsonaro mentindo: “O meu cartão, que eu posso sacar até 25 mil reais por mês, e tomar Itubaina com Coca-Cola, nunca tirei um centavo”. Os dados, agora públicos, contrastam com a imagem de homem simples que ele queria transmitir, como a de que comia pão com leite condensado. Em 2008, um outro escândalo similar ocorreu sob o governo Lula, quando o então ministro Orlando Silva (Esportes) foi questionado pela compra de uma tapioca de 8,30 reais com o cartão corporativo. Uma CPI, a dos Cartões Corporativos, foi criada, e ele acabou por devolver a quantia.

Durante sua visita a Roraima, em outubro de 2021, Bolsonaro esteve em um abrigo para imigrantes venezuelanos, participou de um encontro com indígenas apoiadores, almoçou com representantes do Exército e foi a uma cerimônia religiosa em comemoração aos 100 anos da igreja Assembleia de Deus. No fim da tarde, voltou a Brasília. Não se sabe, ainda, se a compra de lanches e bebidas, enviados ao Exército, teve outro destino naquela data.

A empresária Roberta Silva Rizzo já havia fornecido comida e bebida para o governo federal, em outras duas encomendas pagas pelo cartão corporativo de Bolsonaro nos dias 28 e 29 de setembro de 2021. Foram compras de 28.500 reais e 14.250 reais. À Amazônia Real, Roberta não deu explicações sobre essas duas notas anteriores. Ela afirmou que agiu dentro da legalidade e não quis fornecer quantos funcionários possui, nem se teve de realizar contratações temporárias para atender a demanda presidencial.

A Amazônia Real procurou o 7º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), que tem restaurante próprio e costuma oferecer refeições durante visitas, mas ninguém respondeu aos questionamentos. Por volta das 16h30 desta quinta, horário local, um assessor de imprensa do Exército entrou em contato com a reportagem, informando que iria oferecer uma resposta assim que localizasse quem estava responsável por essa compra na época.

O 7º BIS era, até segunda-feira (09), o local do acampamento de bolsonaristas em Roraima. Eles armaram as tendas na capital Boa Vista desde novembro, em sintonia com a série de outros acampamentos que se proliferaram pelo resto do País. A desocupação ocorreu de forma pacífica, segundo o portal G1, mas só após a ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Moraes ordenou a dissolução, em 24 horas, de todos os acampamentos após os ataques terroristas em Brasília no dia domingo, 8 de janeiro.

Garimpo ilegal

Bolsonaro na comunidade Flechal, na Raposa Serra do Sol, em Roraima no dia 26 de outubro de 2021 (Foto: Reprodução redes sociais)

A comunidade Flexal, na Raposa Serra do Sol, visitada por Bolsonaro naquele dia 26 de outubro de 2021, é composta por indígenas que são a favor do garimpo em Roraima. Eles integram a Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiurr), organização condenada pela Justiça Federal por ataques a indígenas contra a mineração. À época, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) emitiu uma nota de repúdio à visita na comunidade. O CIR representa 255 povos de diferentes etnias.


Para garantir a defesa da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão, a agência de jornalismo independente e investigativa Amazônia Real não recebe recursos públicos, não recebe recursos de pessoas físicas ou jurídicas envolvidas com crime ambiental, trabalho escravo, violação dos direitos humanos e territoriais e violência contra a mulher. É uma questão de coerência. Por isso, é muito importante as doações das leitoras e dos leitores para produzirmos mais reportagens sobre a realidade da Amazônia. Agradecemos o apoio de todas e todos. Doe aqui.


Republique nossos conteúdos: Os textos, fotografias e vídeos produzidos pela equipe da agência Amazônia Real estão licenciados com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional e podem ser republicados na mídia: jornais impressos, revistas, sites, blogs, livros didáticos e de literatura; com o crédito do autor e da agência Amazônia Real. Fotografias cedidas ou produzidas por outros veículos e organizações não atendem a essa licença.

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn

Postes Recentes

FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO

Redes Sociais: