Típico da Amazônia, o açaí é conhecido por seu sabor único e por oferecer diversidade de possibilidades de preparo, do doce ao salgado, além da versatilidade, que permite desde a utilização na indústria cosmética até a fabricação de tijolos com seu caroço. Para as populações ribeirinhas, o fruto é também essencial para garantir segurança alimentar e fonte de renda. Essa cadeia de valor movimenta, somente no Pará, responsável por 90% da produção nacional, cerca de 1,5 milhão de toneladas e quase R$ 3 bilhões por ano, segundo o IBGE.
O Arquipélago do Marajó tem dois municípios entre os dez maiores produtores de açaí do Brasil – Bagre e Anajás –, segundo a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). No entanto, apesar do enorme potencial econômico do fruto, a região ainda tem um dos índices de desenvolvimento humano (IDH) mais baixos do país. Como então mudar essa realidade, tendo em vista o valor do produto e seu interesse internacional? Com capacitação.
No Marajó, uma iniciativa do Sebrae do Pará, em parceria com a Embrapa, tem mostrado que esse é o caminho. No projeto Sustenta e Inova, que já beneficia indiretamente cerca de quatro mil famílias, nos 17 municípios da região, os ribeirinhos que vivem da extração do açaí estão aprendendo novas formas de manejo que melhoram a produtividade, ajudam a restaurar áreas degradadas e são menos agressivas para o ecossistema da floresta. Com a implantação de tecnologias e boas práticas de preparar a terra e cultivar o açaí, os produtores relatam que, além de aumentar a produção, melhoraram a qualidade dos frutos e prolongaram o tempo de safra – o que tem um impacto direto na venda do produto, que passa a valer mais no mercado.
A capacitação também está se mostrando essencial para o acesso a novos mercados, que estão cada vez mais exigentes. Além de ganharem mais dinheiro com o uso sustentável da terra, as famílias aprendem a mapear as exigências dos mercados institucionais e privados, recebem treinamento e se familiarizam com o processamento de produtos e a agroindustrialização. Paralelamente, esses mercados passam a conhecer essas comunidades e seus produtos. Com isso, o trabalho de capacitação ajuda a aproveitar a riqueza biológica, cultural e social presente no Marajó para a promoção de um desenvolvimento que insira essas comunidades em circuitos da bioeconomia.
Esse é um programa que está alinhado à agenda da COP 30, que acontecerá no Pará em 2025, pois ajuda a plantar a semente para o fortalecimento de uma das mais promissoras cadeias baseadas na bioeconomia amazônica, já que os visitantes da conferência provavelmente repetirão a predileção, já identificada em mercados internacionais, pelo consumo da fruta.
Nosso objetivo é reverter um contexto de empobrecimento ambiental, econômico e social, causado pelos sucessivos ciclos de exploração de recursos na ilha – borracha, castanha, madeira, palmito e, mais recentemente, açaí – que resultaram em uma degradação não só do ecossistema, mas também da qualidade de vida de quem vive do extrativismo.
São mudanças simples, mas com impactos enormes, pois promovem a economia local e permitem que as famílias que vivem da cultura do açaí melhorem sua renda ao mesmo tempo em que cuidam da floresta, que é onde vivem e trabalham.
Neste dia da Amazônia e também do açaí, fica a reflexão e o exemplo de que é possível produzir respeitando a natureza e seus ciclos para devolver ao produtor ganhos econômicos e mais qualidade de vida.
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