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Cacareco: o rinoceronte que recebeu 100 mil votos nas eleições de SP

Desde 1929, Mickey Mouse, o rato carismático criado por Walt Disney em meados de 1928, aparece nas cédulas de votação em toda eleição que acontece nos Estados Unidos, como uma forma de protesto radical e irônica contra os candidatos – que nem sempre agradam a todos.

Apesar de isso ter acontecido com maior frequência no século passado, quando os sistemas eleitorais eram ainda mais rudimentares, engana-se quem imagina que o hábito não continua. Na verdade, o Mickey aparecer em alguma votação se tornou mais uma tradição do que um insulto, como costumava ser. 

“Se ele não obter votos em nossa eleição, é uma eleição ruim”, disse um supervisor eleitoral da Geórgia, em reportagem ao The American Prospect, em 2012.

O é reconhecido como dono de um dos processos eleitorais mais sérios, seguros e tecnológicos do mundo, mas também já teve o seu Mickey Mouse. Em 1959, o rinoceronte Cacareco foi eleito ao cargo de vereador na Câmara Municipal de São Paulo.

Adorado pelo povo

(Fonte: Ipiranga Feelings/Reprodução)

Para começar, apesar do nome masculino, Cacareco era uma fêmea. Nascida em cativeiro, no Rio de Janeiro, em 1954, foi emprestada pelo zoológico da cidade para inauguração do Zoo de São Paulo, em março de 1958.

O sucesso de sua presença foi imediato, com mais de 200 pessoas comparecendo à cerimônia que a anunciou como nova atração do local, impressionando até mesmo Jânio Quadros. O político disse que, com aquela fama toda, Cacareco seria um forte candidato para as próximas eleições. Ele poderia não concorrer ao governo do estado, mas ao menos um assento na Câmara ele teria.

Partiu do jornalista Itaboraí Martins a iniciativa de lançar o animal como candidato a um cargo na Câmara Municipal para as eleições de 4 de outubro de 1959. Na época, ele trabalhava para o jornal O Estado de S. Paulo e estava tão insatisfeito com os políticos da época quanto a população. É chamado de “voto de protesto” a prática de eleger candidatos considerados excêntricos ou de algum modo folclóricos a cargos políticos.

(Fonte: SP in Foco/Reprodução)(Fonte: SP in Foco/Reprodução)

Conforme a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a tática para disseminar a candidatura de Cacareco consistiu em pichar muros e fazer divulgação em programas de debates na televisão. Os famosos “santinhos” foram distribuídos com a imagem do animal e acompanhado pelo jingle infame: “Cansados de tanto sofrer/ E de levar peteleco/ Vamos agora responder/ Votando no Cacareco”, que rapidamente ganhou a boca do povo.

José Bonifácio Coutinho Nogueira, secretário da agricultura do governo do estado na época, até tentou comprar Cacareco do zoológico, mas sem sucesso. O animal acabou sendo devolvido ao Rio de Janeiro em 1º de outubro, apenas alguns dias antes da eleição paulista.

Entrando para a história

(Fonte: Alesp/Reprodução)(Fonte: Alesp/Reprodução)

A apuração dos votos revelou o inevitável: o sucesso da candidatura. Apesar do Tribunal Regional Eleitoral não ter divulgado oficialmente o número de votos recebidos pelo rinoceronte por considerá-los nulos, os jornalistas descobriram que o animal recebeu cerca de 100 mil votos. Esse foi o equivalente a quase 10% do universo de eleitores aptos a votar na capital paulista, considerando que compareceram às urnas 934.794 eleitores. Cacareco teve mais votos do que qualquer um dos 450 candidatos às 45 cadeiras da Câmara.

“Diversos membros do PSP andam rondando a jaula de Cacareco para o colocarem no lugar de Adhemar de Barros [então prefeito de São Paulo]”, provocou o humorista Stanislaw Ponte Preta no jornal Última Hora.

O único político que se posicionou formalmente foi o então presidente Juscelino Kubitschek, que declarou: “Não sou intérprete de acontecimentos sociais e políticos. Aguardo as interpretações do próprio povo”.

(Fonte: Ipiranga Feelins/Reprodução)(Fonte: Ipiranga Feelins/Reprodução)

A eleição ganhou uma repercussão internacional, indo parar nas páginas da revista norte-americana Time, que destacou a frase de um eleitor: “É melhor eleger um rinoceronte do que um asno”. E a popularidade de Cacareco fora do Brasil não parou por aí, em 1963 foi fundado um partido político canadense que o homenageava, chamado Partido dos Rinocerontes, que durou até meados de 1993.

Cacareco morreu aos 8 anos, em dezembro de 1962, em sua cela no zoológico do Rio de Janeiro. O animal entrou para a cultura brasileira e seu esqueleto está exposto no Museu de Anatomia da Universidade de São Paulo (USP).

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Mega Curioso e são de total responsabilidade do autor.
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