O já tradicional ato bolsonarista em 7 de Setembro foi marcado por duas novidades nessa edição de 2024: a primeira, talvez já esperada, é a perda de capacidade de mobilização de Bolsonaro e seu entorno. O cálculo de 45 mil pessoas feito pela USP expõe essa fragilidade de convocação das lideranças da extrema-direita, tendo em vista que a manifestação de 25 de fevereiro de 2024 juntou 185 mil pessoas.
Se, naquela ocasião, analisamos que a manifestação não alterava a situação do ex-presidente, esta que foi realizada no meio do processo eleitoral muda sim, só que para pior. Bolsonaro chega mais fraco justamente quando os inquéritos contra ele parecem se encaminhar para o fim, o que aumenta as possibilidades de sua condenação.
A segunda novidade é sem dúvida mais disruptiva e inesperada: trata-se da capacidade de disputa da base bolsonarista que tem apresentado o candidato a prefeito Pablo Marçal (PRTB). Antes, ele já tinha feito Bolsonaro e seus filhos recuarem em uma disputa nas redes sociais. Após uma série de ataques, o clã que domina a mobilização extremista brasileira acenou com uma trégua, que foi mediada pelo deputado bolsonarista Nikolas Ferreira.
Agora, o ex-coach simplesmente tomou de assalto a manifestação toda montada para ser em defesa de Bolsonaro, transformando-a em um grande ato de sua campanha. Marçal chegou de helicóptero, atravessou parte da avenida correndo e chegou até o carro de som, onde foi impedido de subir.
Entretanto, isso não o impediu de, ali na frente mesmo, subir em um carro e se colocar em uma posição de líder a ser ovacionado, como, aliás, já havia ocorrido durante sua corrida pela paulista. Antes da sua chegada, ao longo de todo o ato, bonés com sua marca dominavam a paisagem lado a lado a infame captura dos símbolos nacionais. E, em cada câmera ou celular que filmava os participantes, havia alguém fazendo com as mãos o símbolo de Marçal, forçando a transmissão oficial, coordenada pelo pastor fascista Silas Malafaia, cortar a cena.
Essa façanha do coach candidato é de extrema importância para as eleições municipais, quando ele pretende derrotar Bolsonaro pela terceira vez, agora nas urnas. Isso porque a última pesquisa do Datafolha, divulgada no último dia 5, mostrou uma estabilização de suas intenções de voto, bem como a resiliência do prefeito Ricardo Nunes (MDB), o candidato oficialmente apoiado pelo ex-presidente e pela elite política bolsonarista. Na pesquisa, Marçal e Nunes aparecem empatados com 22% das intenções de voto, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) lidera com 23%. Bem atrás deles estão Tabata Amaral (PSB), com 9% e José Luiz Datena (PSDB), com 7%.
O levantamento foi o primeiro feito depois do começo da propaganda eleitoral gratuita e foi comemorada por Ricardo Nunes, dono de um latifúndio na televisão e rádio, enquanto seu rival pelo voto bolsonarista não tem sequer 1 segundo. O atual prefeito estancou a sangria e, ao menos por hora, conseguiu segurar a debandada que se anunciava em sua campanha. Além disso, viu a rejeição de Marçal subir no limite da margem de erro, passando de 34% para 37%.
Ele segue com uma estratégia dupla de campanha, na qual se apresenta como prefeito realizador para o eleitorado não bolsonarista, enquanto o governador Tarcísio tem expressado a aposta de que pode reverter a preferência do eleitor de extrema-direita pelo coach com um argumento de voto útil, projetando que Marçal seria derrotado por Boulos no 2º turno.
O ato de 7 de Setembro, entretanto, mostrou o tamanho do desafio da parte bolsonarista dessa estratégia de Nunes e Tarcísio. O prefeito subiu no carro de som da manifestação, mas não foi sequer anunciado, com medo de tomar uma vaia que seria desmoralizadora. E Marçal, como já vimos, foi para os braços da horda fascistóide que estava na Avenida Paulista.
Nunes também enfrenta um desafio na parte não bolsonarista da estratégia, uma vez que a pesquisa também foi boa para Guilherme Boulos. Primeiro, porque ele se manteve na liderança, o que é um importante fator de mobilização nesse momento da campanha.
Segundo, porque o candidato do PSOL cresceu dois pontos na espontânea, passando de 17% para 19%. Isso provavelmente é efeito da propaganda de televisão e rádio, que vai fixando no eleitorado que o deputado federal tem o apoio de Lula. Além disso, Boulos é o candidato com o voto mais consolidado e aparece como principal segunda opção de voto dos eleitores de Tabata.
A grande disputa entre Boulos e Nunes se dará pelo eleitorado das periferias, segmento em que Nunes vem liderando com 28% contra 19% de Boulos. São pessoas que são impactadas positivamente com a gestão de Nunes e que são alcançadas pela capilaridade de sua coligação, a maior em número de candidatos a vereadores. Entretanto, é esta a base mais fiel de Lula e do PT, e é um segmento que Boulos foi muito bem votado em 2020 e 2022, o que indica um enorme espaço para crescimento.
Por isso, além da pesquisa, o acirramento da disputa entre os bolsonaristas é outra boa notícia para Boulos, que pode concentrar sua mobilização eleitoral na busca desses votos, mantendo a crítica à gestão de Nunes e sem precisar voltar a maior parte da sua energia para Marçal, escolha que Nunes não tem e que é tudo que o coach quer.
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