Foto: Divulgação/Instituto Onça-pintada
O processo de reintrodução de onças-pintadas (Panthera onca) à natureza, muitas vezes visto como um símbolo de preservação ambiental, pode ser mais complexo — e até ilusório — do que se imagina.
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Quem afirma isso é o biólogo Rogério Fonseca, especialista em fauna silvestre e conservação, que questiona a eficácia de projetos que visam devolver grandes felinos ao seu habitat natural após passarem por cativeiro.
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“Se o animal em algum momento esteve em cativeiro, especialmente se foi retirado da natureza ainda filhote, reintroduzi-lo se torna financeiramente e tecnicamente inviável”, explica Fonseca.
Um dos principais entraves, segundo ele, é o comportamento de caça, habilidade essencial à sobrevivência desses predadores e que não pode ser ensinada por humanos. “É a mãe onça que transmite esse conhecimento. Não é instintivo, é aprendido na interação direta entre filhote e mãe”, reforça.
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O biólogo critica o que chama de “falácia pseudotécnica” promovida por grupos ideológicos ligados à proteção animal, que alimentam a ideia romântica da reintegração à vida selvagem sem considerar as exigências naturais do processo. “Esses grupos acham que o Timão e o Pumba existem. Mas na natureza, prevalece a lei da seleção do mais forte”, diz, em referência à famosa dupla de personagens do filme ‘O Rei Leão’.
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Segundo Fonseca, reintroduzir uma onça à floresta não é simplesmente soltá-la. O animal precisa passar por um processo rigoroso de triagem, reabilitação e monitoramento — um ciclo exigido por lei no Brasil. Contudo, ele aponta falhas estruturais no sistema nacional:
“A centralização das decisões em Brasília dificulta a gestão eficaz da fauna. A descentralização e a participação de ONGs e institutos de pesquisa, como o Inpa, Ufam e Instituto Mamirauá, seriam caminhos mais eficazes”.
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Em casos de resgate de onças feridas oriundas da floresta, o processo inclui avaliação veterinária, recuperação com o mínimo de contato humano e posterior soltura em áreas específicas.
“Em Minas Gerais, por exemplo, essas zonas são chamadas de Áreas de Soltura de Animais Silvestres (ASAS). Na Amazônia, temos condições de fazer o mesmo, inclusive com onças. O que falta, muitas vezes, é vontade política e liberação de recursos”.
Para Fonseca, o país possui profissionais capacitados e estrutura suficiente para projetos de grande envergadura: “O que está faltando é o dinheiro chegar na mão de quem faz. Com apoio financeiro e menos burocracia, dá para executar projetos de monitoramento e soltura com eficiência”.
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