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ToggleBelém (PA)- Uma Barqueata com 200 embarcações pela Baía do Guajará marcou o início da Cúpula dos Povos na quarta-feira (12), em Belém. O encontro, realizado paralelamente às conferências oficiais da ONU, reúne mais de mil organizações e se apresenta como contraponto às negociações formais da Zona Azul da COP30 ao priorizar a inclusão de povos tradicionais e movimentos sociais nos debates sobre clima.

“Lá na COP30, eles debatem o que vai acontecer com os territórios indígenas e com as florestas, lugares onde a gente mora e a gente cuida. Não são eles que estão lá, para depois virem dizer que cuidam”, criticou o cacique Bepita Kayapó, da aldeia Pinknhtykre.
Já Ayala Ferreira, membro da comissão política da Cúpula dos Povos, contou que o objetivo era tomar a cidade de Belém e chegar perto do espaço da COP30 para apontar o dedo aos culpados. “Porque nossa casa comum passa dias difíceis de agonia e precisamos fazer alguma coisa. Basta de miséria, morte e exclusão”.
O percurso fluvial de quase 30 quilômetros foi marcado por alegria, diversidade e muitas manifestações culturais e musicais, sem perder de vista as reivindicações centrais. “Nossa expectativa é que consigamos ter visibilidade sobre os desafios que os territórios vêm enfrentando no país, além também das soluções”, explica Deysiane Ferreira, liderança Tupinambá do assentamento Terra Vista, de Arataca, na Bahia.
Visibilidade e justiça climática
Escondendo-se debaixo de uma tenda devido ao forte calor, estava a irmã Sandra Ede, da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil. Ela enfatizou a necessidade de mostrar que os povos e comunidades tradicionais estão em Belém para exigir visibilidade e participar das soluções climáticas. Para ela, “sem justiça social não existe mudança, não existe justiça climática”.
Florivaldo Rocha, pescador e coordenador do Movimento dos Pescadores e Pescadoras do Brasil (MPP), afirma que as comunidades exigem ser parte das decisões do futuro climático, pois já vivem a crise em seus ambientes. Segundo ele, o mar onde pesca na região do Amapá começou a esquentar, afugentando os cardumes. “As águas salgadas estão subindo, estão invadindo nossos territórios que são de água doce”, afirmou.
Em Belém, também é grande a preocupação com a falta de reconhecimento dos saberes tradicionais, diz Dayse Guerreira, apoiadora do movimento social. “A COP30 deveria ter as portas abertas para os povos indígenas expressarem suas necessidades, sua dor, compartilhando isso com o mundo”, pontuou.
Cúpula dos Povos: agenda intensa
No fim da tarde, a cerimônia oficial de abertura da Cúpula dos Povos teve ampla participação de militantes, ativistas, organizações e moradores de Belém — com muitas bandeiras e palavras de ordem.
O primeiro a falar foi Gilmar Pereira, reitor da UFPA, que ressaltou o trabalho da universidade na articulação entre a produção científica e os conhecimentos de indígenas, ribeirinhos, quilombolas e outras comunidades tradicionais. Ele afirmou que a UFPA se tornou sede do evento por entender que a instituição tem o papel de aproximar esses diferentes saberes. Para o reitor, é essencial que a academia entenda que não há conhecimento superior ao outro. “Todos são importantes e fundamentais para entender o planeta”, disse, ao defender a participação e a escuta dos povos tradicionais nos debates.
A programação da Cúpula dos Povos vai até o dia 16 e apresenta uma agenda intensa. Além de uma feira popular todos os dias, nos dias 13 e 14 haverá plenárias temáticas organizadas nos eixos de solidariedade, resistência, esperança e unidade, destacando a consolidação da Declaração dos Povos na plenária final.
O dia 15 contará com a continuação das discussões dos eixos, incluindo a Marcha Unificada. No dia 16, está marcada uma Audiência Pública com o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, além do Ato de Encerramento da Cúpula dos Povos, a Barqueata das Mulheres e um Banquetaço na Praça da República.

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