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ToggleOs focos aumentam 249% em relação ao mesmo mês de 2023, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); a fumaça já altera o cenário da capital amazonense. (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).
Manaus (AM) – A temporada das queimadas começou em ritmo acelerado neste mês, deixando em alerta os Estados do Amazonas, Mato Grosso e Pará. O fogo na mata agrava ainda mais o clima seco e a estiagem severa que atinge a região Norte. Os focos de queimadas registrados no Amazonas entre 1º e 12 de agosto mais que triplicaram em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Saltou de 1.220 no mesmo mês em 2023 para 3.043 em 2024. A capital Manaus enfrenta uma severa poluição causada pela fumaça. Os focos destes doze primeiros dias já representam mais do que a metade registrada em agosto de 2023.
“A expectativa é que, de agora até setembro, a situação piore bastante”, alertou a pesquisadora do Inpe, Karla Longo. Segundo Karla, as queimadas se concentram na porção sul do Estado amazonense. “Por conta disso, há um vento, principalmente vindo do Sul e Sudeste, que está empurrando a fumaça em direção a Manaus. Essa fumaça se junta à do Pará, já que ambos os Estados estão queimando muito. Além disso, a porção do Mato Grosso, que normalmente envia fumaça para o Sul do país, está sendo transportada para o Norte”, disse a pesquisadora à Amazônia Real, nesta segunda-feira (12).
O Inpe, como órgão de detecção e monitoramento dos focos de queimadas, acompanha o agravamento da situação, que todos os anos se repetem. “É bastante frustrante, para falar a verdade”, afirmou Karla.
As queimadas na Amazônia vêm se repetindo nos últimos anos, espalham imensas nuvens de fumaça para várias cidades da região. Manaus é uma das cidades amazônicas mais afetadas por esses gases tóxicos. Em 2023, a população de Manaus e cidades do interior do Amazonas sofreram durante os meses de setembro a novembro com uma fumaça forte e de gravidade sem precedentes, bloqueando até mesmo formação de chuvas. Em geral, as ações de combate são pontuais e sem um planejamento prévio.
Especialistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) afirmam que, apesar da redução do desmatamento, houve piora nos incêndios florestais e que isto pode ser reflexo das condições climáticas. “A gente sempre pensa que reduzir o desmatamento vai ajudar a reduzir o fogo, mas os resultados deste estudo demonstram claramente os efeitos das condições climáticas nesse processo”, declarou Ane Alencar, autora da nota técnica publicada em junho passado.
O combate de incêndios florestais, realizado pelas brigadas do Prevfogo/Ibama, é realizado justamente no sul do Amazonas. Os municípios atendidos até agora foram Humaitá, no Projeto de Assentamento Maria Auxiliadora, com 15 brigadistas; Manicoré, na Terra Indígena Tenharim Marmelo, com 35 brigadistas; Apuí, no Projeto de Assentamento Aripuanã Guariba, com 25 brigadistas; e Autazes, na Terra Indígena Recreio São Félix, com 21 brigadistas.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Amazonas, 51,9% dos focos registrados no início deste mês ocorreram em Apuí, no sul do Estado.
“Precisamos de muito mais. É necessário maior incentivo por parte da União, do Estado e dos municípios para formar e equipar brigadas. Além disso, os produtores rurais precisam entender que não é o momento de atear fogo nos pastos. É crucial investir em novas tecnologias para a pecuária e a agricultura, de forma a evitar o uso do fogo”, advertiu o superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Bentes de Araújo.
Entre os piores do mundo
A pior qualidade do ar no Brasil, na noite de segunda-feira (12), ocorria no município de Tabatinga, com nível 402, de acordo com a plataforma Air Quality Index (aqicn.org), que monitora e divulga, em tempo real, a qualidade do ar em várias cidades ao redor do mundo. A principal variável de controle é o Índice de Qualidade do Ar, que mede a poluição atmosférica e seus efeitos na saúde pública.
O site disponibiliza informações detalhadas sobre os principais poluentes do ar, como partículas finas (PM2.5 e PM10), dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3) e monóxido de carbono (CO), além de fornecer recomendações de saúde baseadas nos níveis de poluição. Tabatinga, de acordo com o Air Quality Index, possuía nível “hazardous”, que significa “perigoso”, especialmente para a saúde das pessoas. Atividades ao ar livre devem ser altamente evitadas nessa situação.
No ranking da poluição mundial, o Brasil aparecia na 7ª pior posição, por volta das 22 horas de segunda-feira. E oito das principais cidades com péssima qualidade do ar são da região amazônica: Tabatinga, Humaitá (AM), São Félix do Xingu (PA), Manaus, Porto Velho (RO), Maués (AM), Rio Branco (AC) e Guajará Mirim (RO).
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a poluição atmosférica é o maior risco à saúde ambiental mundial. A cada ano, cerca de 6,5 milhões de pessoas morrem de forma prematura por terem ingerido gases tóxicos no ar.
Estiagem à vista
Karla Longo, que acompanha a situação das queimadas no Pará e no Mato Grosso, expressa preocupação especial com o Amazonas, pois a previsão é de uma estiagem intensa. Até o momento, o governo do Amazonas decretou situação de emergência em 20 cidades do interior, afetadas pela vazante dos rios: Guajará, Ipixuna, Envira, Itamarati, Eirunepé, Carauari, Juruá, Pauini, Lábrea, Tapauá, Beruri, Canutama, Boca do Acre, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins.
Em outubro do ano passado, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE) chegou a encaminhar para a Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de intervenção federal no Estado. O pedido foi motivado pelos quase sete mil focos de queimadas no Amazonas que prejudicam a qualidade do ar e colocam a saúde pública em sério risco. Na representação, enviada, a DPE pede para que o órgão acione o Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que princípios constitucionais, como o direito à saúde e ao meio ambiente, estão sendo violados.
Calor acima do normal
Em agosto do ano passado, o cientista Philip Fearnside falou à Amazônia Real sobre as graves consequências da temporada de queimadas na Amazônia, intensificadas pelo El Niño, fenômeno que causa ondas de calor acima do normal devido ao efeito estufa provocado pelas emissões humanas. Além disso, a Amazônia viveu naquele ano, uma das piores secas já registradas.
Para se ter uma ideia do problema registrado nos primeiros 12 dias de agosto, via de regra, as queimadas começam a ficar mais acentuadas nos períodos de setembro a outubro. Do dia 1° a 10 de outubro do ano passado, foram registrados 2.684 focos. Em outubro de 2009, até então o mais crítico de toda história do monitoramento, foram 2.409 focos de queimadas no estado. Ou seja, só nos primeiros 12 dias de agosto já saltamos para 3.043 focos de queimadas.
Posição do governo
A reportagem da Amazônia Real entrou em contato com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) para saber o que o órgão e o governo do Amazonas estão fazendo para combater as queimadas.
O Governo do Amazonas disse que tem trabalhado de forma prévia, desde o final de 2023, no “planejamento das ações de mitigação dos efeitos da estiagem e combate ao desmatamento e queimadas no estado tendo informado, inclusive, às autoridades federais e órgãos de controle, quanto os prognósticos de uma possível estiagem tão ou mais severa em 2024, ainda no ano passado”.
O governo do Estado disse que o Centro de Monitoramento Ambiental do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e os dados da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), confirmaram que a fumaça registrada na capital amazonense, nesta segunda-feira (12/08), é oriunda principalmente de queimadas no sul do Amazonas.
Mas o governo diz que a maioria das queimadas foram registradas em “assentamentos e áreas sob fiscalização federal”. “No fim de semana (dia 10 a 11), 74% das queimadas ocorreram em territórios federais, seguido por 14% em vazios cartográficos, sendo apenas dois focos registrados na Região Metropolitana de Manaus”, diz a nota.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente informou que também realiza o monitoramento em Unidades de Conservação (UCs) estaduais que são a gestão direta da pasta e o governo estadual “reforça, ainda, que tem dado apoio às ações de fiscalização dentro das áreas federais”.
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