Salvei das águas, que invadiram a minha casa na atual saison de enchentes de Belém, dramatizadas pela incompetência do poder público municipal. um caderno de anotações sobre alguns dos pistoleiros que agiam no sul do Pará e em outras frentes pioneiras da Amazônia, sobretudo nos anos 1980. Pretendia escrever um levantamento mais detalhado, mas o projeto, como outros, ficou na intenção. Repasso os dados a quem se interessar possa pelo tema, enquanto posso.
Algumas encomendas mortais no Pará em 1987:
– Ex-deputado do PC do B Paulo Fonteles de Lima
– Prefeito de Porto de Moz, Francisco dos Santos Silva
– Empresário Miguel de Almeida Pernambuco
– Empresário Riusuke Teshima, pela máfia japonesa.
– Subprefeito de Tucumã e ex-delegado de polícia, Eduardo Seabra.
Toponímia do faroeste
São Pedro dos Cacetes, em Barra do Corda, Maranhão. Povoado dentro da reserva dos Guajajara.
Conflito de lavradores com índios.
São José do Bang-Bang, no Xingu, Mato Grosso. Disputa entre fazendeiros e txukarramãe, que mataram peões a bordunadas.
Vai o irmão
O fazendeiro João Silva Moraes dos Santos foi apontado como mandante do assassinato do advogado Paulo Umbelino Ferreira, secretário-geral da OAB, subseção de Marabá. A polícia prendeu o irmão dele, Messias Silva Moraes, maranhense, que poderia estar envolvido no crime.
Sobrou pro Chico Cacau
Francisco Melo de Andrade, topógrafo, o Chico Cacau. Foi baleado num atrito entre empreiteiros e peões que eram levados para a fazenda Alacid, em Conceição do Araguaia, em janeiro de 1973.
O temido Sebastião da Terezona
Sebastião Pereira Dias, o Sebastião da Terezona.
Nasceu no Piauí. Foi para Marabá quando tinha 14 anos. Dizia-se lavrador, coletor de castanha e “empreiteiro de limpeza de fazendas”. Acusado de cometer 50 assassinatos, 38 dos quais: três no castanhal Terra Nova, sete na fazenda Fortaleza, 19 no castanhal Ubá e nove na fazenda Surubim, além de envolvimento no assassinato do comerciante de ouro Moisés Viterbino da Silva e de seu filho, Menassés Jr.
Sua participação teria sido através da contratação dos pistoleiros. Sebastião foi preso pela primeira vez em 29 de setembro de 1985, numa operação espalhafatosa, da qual participaram 70 PMs. Mas Sebastião diz que, na véspera, quando estava na fazenda São Luís, foi preso por um agente da Polícia Federal e colocado na delegacia municipal, onde foi visitado, de madrugada, pelo coronel Antônio Carlos, comandante do 4º BPM e delegado regional do sul do Pará.
Solto pela manhã, foi para sua casa, onde novamente seria preso. No dia seguinte foi mandado para a delegacia de Conceição do Araguaia, de onde fugiu um mês depois. Recapturado em 11 de setembro de 1986. Transferido para Belém em 30 de junho de 1989, colocado à disposição da juíza Yvone Santiago Marinho, da 2ª vara penal da capital. Sebastião negou a autoria de todos os crimes que lhe foram imputados.
Ele teria recebido 10 milhões de cruzeiros (valor de setembro de 1985) para contratar os pistoleiros. Menassés gerenciava a Purimil em Belém e a mulher comprava ouro para ele em Marabá. Planejaram matar Menassés para ficar com os 509 milhões, que ele transferira para Marabá para a compra do ouro.
Na fuga de Conceição, Sebastião foi acompanhado por 17 pessoas.
Miguel Alves da Rocha, Miguel Marabá
Um dos assassinos de Viterbino e filho. Outros pistoleiros que participaram: Paulo Afonso da Silva Oliveira, o Paulo Goiano, e “Mineirinho”.
José Pereira Nóbrega, o Marinheiro
Um dos que matou o advogado Gabriel Pimenta, advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá, em agosto de 1982. Foi preso, mas liberado em seguida. Continuou a serviço dos fazendeiros. Ele teria mobilizado 100 homens para a defesa da fazenda de um certo Aluísio, em Eldorado dos Carajás. Um desses pistoleiros matou a irmã Adelaide Mobrimari e feriu o delegado sindical em Eldorado, Arnaldo Delcídio Ferreira, em abril de 1985.
Tota
Em junho de 1985 a polícia prendeu Antônio Moreira dos Santos, paraense, solteiro, que havia sido carpinteiro em Capitão Poço e morava então em Belém. Por ter o apelido de Tota, ele foi considerado o assassino do prefeito de Irituia, José Leônidas de Oliveira. Tota realmente cometeu um homicídio, mas sua vítima foi um motorista de Imperatriz, no Maranhão. O Tota que matou Leônidas seria outro, que tinha um sítio no quilômetro 122 da Pará-Maranhão, um automóvel Monza, que vendeu – por 15 milhões da época – para um comerciante de Ourém. Esse comerciante foi preso, mas o prefeito municipal, Raul dos Santos, conseguiu soltá-lo.
Roteiro de Tota: Capitão Poço-Imperatriz-Parauapebas-Serra Pelada-Parauapebas-Capitão Poço-Imperatriz-Ourém.
Bando de Quintino
– Silvestre
Era lugar-tenente de Quintino. Morto pela PM em um bar da localidade Tatajuba. Estava bebendo. Tentou se apossar de um disco de Pinduca, que tocava no bar. A polícia chegou e ele pegou a dona do bar como refém. Trocaram tiros. As balas dele acabaram e a polícia o fuzilou.
– Elias da Silva Andrade
Nascido em 1953. Entrou para o bando em julho de 1984. Foi preso quatro meses depois e enviado para Belém (morava na Cidade Nova, quadra 41, nº 7). Em 1981 matou um homem na localidade Aruaí. Prisão preventiva decretada, mas foi solto por um alvará da comarca de Ourém. Era o intermediário entre Quintino e os fazendeiros.
Arlindo Rodrigues Soares Neto
Maranhense, foi preso pela PM em dezembro de 1984, durante a caçada da polícia a Quintino. Era acusado de pertencer ao bando. Mas disse ser o dono de uma caminhonete no interior do Maranhão. Arlindo transportaria Péricles a Capanema e a Estreito, onde Péricles receberia dinheiro.
Ouriçado
Preso no quartel da PM, em Marabá, em 1983. Foi contratado por um certo Raimundão para matar o fazendeiro Miguel Pernambuco e o cabo Milton. Tentou assaltar a casa de Miguel Pernambuco, onde ele teria muito dinheiro guardado. Foi ferido com cinco tiros a mando de Miguel. Era o principal acusado da morte do advogado Gabriel Pimenta, assassinado em 1982, em Marabá.
Pedro Corrente da Cruz
Em 1984, foi contratado pela fazendeira Olga Luzia Parente para matar outro fazendeiro, Durval Lucio da Costa, e o filho dele, Durvalzinho, com os quais Olga mantinha litígio no Loteamento Araguaxim, no município de São Félix do Xingu, no sul do Pará. Naquela ocasião, Pedro estava em liberdade condicional, acusado em juízo por várias mortes. Ele subcontratou outros quatro pistoleiros em Goiás para fazer o serviço. Pela empreitada, Pedro Corrente receberia Cr$ 8 milhões. Um dos pistoleiros receberia 300 mil apenas para indicar o fazendeiro. Outro pistoleiro, Vivaldo Luiz Tavares, acabou matando um comparsa, com quem se desentendeu. O serviço não foi executado e a polícia prendeu os quatro pistoleiros em Marabá e Redenção.
Gilmar Bezerra
Tinha 31 anos. Irmão do conhecido pistoleiro Fabiano de Jesus Moreira, morto a tiros pela polícia durante um encontro armado. Foi preso em Tucuruí, em novembro de 1989. Foi contratado para matar o comerciante Julião, de Abaetetuba. Estava com a identidade do irmão “para dar mais repercussão às suas atividades de pistoleiro de aluguel”. Com ele estava Deni de Souza, goiano, um “puxador” de carros que aceitara participar do assassinato porque estava sem dinheiro.
Raimundo de Andrade Costa
Maranhense. Fazia parte de uma quadrilha que matava garimpeiros para roubar-lhes ouro, em Roraima. O principal implicado era o presidente do Sindicato dos Garimpeiros e Faiscadores de Ouro de Roraima, José Teixeira Peixoto, o Baixinho. Mataram 30 garimpeiros em dois anos, 20 deles nos dois meses que antecederam a descoberta da quadrilha pela polícia do Estado, em fevereiro de 1990. Peixoto encomendou o serviço a Raimundo Costa por NCz$ 70 mil, para matar o policial Raimundo Ponciano, que sabia demais e precisava ser eliminado. Preso em flagrante, o pistoleiro tentou se suicidar enfiando uma faca na barriga, mas foi impedido pelos policiais.
O pistoleiro Sombra e o bate-pau Mendonça teriam sido os autores do massacre de nove pessoas no garimpo Abacate, em Itaituba, em agosto de 1987. Próximo ao garimpo haveria um cemitério clandestino para enterrar as vítimas.
Os pistoleiros identificam a vítima seguinte como “a bola da vez”.
A imagem que abre este artigo é de autoria de Alberto César Araújo e foi feita em Anapu em fevereiro de 2005, após o assassinato da irmã Dorothy.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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