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Ainda podemos nos tornar um imenso Portugal, por Luiz Werneck Vianna

Ainda podemos nos tornar um imenso Portugal, por Luiz Werneck Vianna
Autor: Inácio Carvalho
Por Portal Vermelho

Em política é preciso estar atento ao tempo, que não para
como o movimento da terra que não sentimos, como Nabuco gostava de dizer,
embora conheçamos seus resultados nas noites que se sucedem aos dias e nas
mudanças das estações, assim como variam pelos efeitos das nossas próprias
ações, em grande parte inesperados, as circunstâncias imperantes na sociedade
em que vivemos e atuamos.

Há cerca de 50 anos um celebrado poeta vaticinava que o Brasil estava se tornando um imenso Portugal, autocrático, passadista e inimigo das liberdades, e enquanto seu belo canto embalava o mundo já germinava o que se tornaria a Revolução dos Cravos que sepultaria a época de trevas do salazarismo. Porque o mundo gira e a Lusitana roda, também estava fora do alcance do poeta que o Portugal de hoje se converteria aos nossos olhos numa experiência a ser seguida com sua capacidade de navegar em meio a tempestades e se manter fiel aos ideais com que expurgaram os males do seu passado ditatorial.

Nesses dias, mais uma vez seus dirigentes políticos, cuja
capacidade fora posta à prova com a criação inusitada da geringonça,
instrumento voltado para lhes assegurar governabilidade, souberam superar as
ameaças que partiam do campo da direita reacionária numa disputa eleitoral
decisiva, em pleno recrudescimento da pandemia, impondo uma esmagadora vitória
eleitoral aos socialistas com votos de outros setores da esquerda que lhes vai
assegurar condições a fim de realizar seu programa de governo. Tal resultado
impacta não só o cenário europeu como o do Brasil em particular, onde a
sucessão presidencial se avizinha.

Bons ventos que atravessaram o oceano nos trouxeram a novidade
portuguesa, percebida aqui por políticos atentos que a traduziram para seu
idioma político na aliança Lula-Alkmin, dois veteranos na política com um
histórico de fortes desavenças mútuas no longo tempo em que estiveram
envolvidos, sempre como adversários, em disputas eleitorais. Fora aqueles,
desafetos por natureza às alianças em política com que disfarçam seus apetites
pelo poder, a fórmula abrasileirada da geringonça tem sido bem recebida como um
caminho viável para que o país se evada dos flagelos que ora o atormentam. Lula
e Alkmin são herdeiros, cada qual a seu modo, do que foram as experiências da
social-democracia entre nós nos governos de Fernando Henrique e do PT,
certamente inconclusas e ultra-moderadas, e que ganham agora uma nova
oportunidade diante do quadro de excepcionalidade em que vive o país.

Lula e Alckmin

Os desafios a que Lula-Alkmin estão expostos não podem ser
subestimados. No campo adverso, bem mais do que os recursos que lhe conferem a
imensa máquina estatal, se alinham quadros experimentados – os dirigentes do
Centrão – no controle social e político da massa dos retardatários da
modernização brasileira, sujeitos ainda ao mandonismo local e às políticas de
favor, que apenas os ingênuos desconhecem. Conta sobretudo com o apoio dos poderosos
interesses emergentes no agronegócio e das elites no comando das finanças, e
mais essa nova malha que nasceu sob forma mafiosa nos grandes centros urbanos
em torno de interesses escusos, quando não abertamente criminosos, atuante na
captura do voto popular.

O regime Bolsonaro se assenta na defesa de privilégios, dos
que se enraízam desde a nossa formação como país e dos que surgem sob seu
patrocínio, que não são poucos. Derrotá-lo exige engenho e arte, não é obra
para poucos, sem a atividade do grande número que afaste, por sua envergadura,
suas possibilidades de resistência, inclusive as golpistas com o recurso a
ações de milícias armadas sob o beneplácito de políticas governamentais.

A democracia sustentada por suas instituições tem sido capaz
até aqui de resistir ao assédio sem quartel das hostes bolsonaristas, mas elas,
um poder desarmado, não contam com os meios próprios para obrigá-las a
dispersão. O processo eleitoral, nesse sentido, descortina um campo novo e
promissor para as forças democráticas, exemplar no caso dessa ainda obra aberta
geringonça, cuja conclusão está a requerer maior ampliação pelos caminhos da
negociação política com os partidos e personalidades públicas que rejeitam a
fasciticização da nossa sociedade e pela interlocução com os movimentos
sociais, especialmente o sindicalismo.

Não se trata apenas da erradicação do bolsonarismo, uma manifestação sombria do conservadorismo brasileiro que cumpre agora afastar com os recursos possíveis de que dispomos, mas de resgatar as melhores promessas que cultivamos ao longo da nossa trajetória.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho

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