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A paixão amazônica (5) - Amazônia Real

A paixão amazônica (5) – Amazônia Real


Em outubro de 1960, Jânio Quadros se elegeu presidente da república prometendo, a um número recorde de brasileiros que nele votaram, limpar o país de suas sujeiras com a vassoura da moralidade pública. Os brasileiros viviam o fim dos cinco anos de euforia e otimismo de Juscelino Kubitscheck, que se comprometera a fazer o Brasil crescer 50 anos em um quinquênio. Sabiam que era alto o preço desse crescimento econômico exponencial, tanto em inflação quanto em práticas políticas. E estavam dispostos a entregar nas mãos de um político carismático a conta da quitação. Havia motivos para confiança.

Na Amazônia, o progresso parecia bater na porta de entrada, embora não se soubesse exatamente quem seria o beneficiário. A elite empresarial da região se apresentava como a parceira necessária dessa empreitada. Uma agência de publicidade instalada em Belém, a Mendes, ativa até hoje, assumiu a condição de porta-voz dessa pretensão com um anúncio que traduz o momento amazônico, uma nova era se expandindo pelo rompimento com o passado e a imposição de novos padrões de vida.

E nessa condição criou o anúncio, que é um exemplar retrato de época, quando se acreditava em um futuro construído sobre a história acumulada na região, em harmonia com a chegada de novos colonizadores. Ou seja, um futuro em modo contínuo, sem o fosso – ou gap – que rompeu a continuidade do processo histórico e a destituiu do comando da sua própria vida.

Reproduzindo esse anúncio de 1960, encerro a série sobre a parte mais antiga da Amazônia, esquecida e abandonada pelo projeto federal de criação da nova fronteira – nacional e internacional – conforme o velho modelo colonial, em versão atualizada e ampliada.

Nem só de borracha vive a Amazônia

Mas de outros produtos materiais, e da iniciativa e inteligência dos seus homens.

A associação da goma elástica à economia da imensa planície é ainda um resquício do tempo em que acima de 30% da receita pública da União se deviam ao leite de seringa. Hoje a Amazônia é muito mais do que simples produtora de goma – conquanto continue assegurando ao Brasil o privilégio de ser o único país do mundo com uma grande indústria de artefatos de borracha que produz, igualmente, a sua matéria prima.

Mas outros itens entraram na sua pauta de produção e exportação, diversificando-se a sua própria estrutura econômica. O Brasil deve-lhe agora, sobretudo nos últimos cinco anos, não apenas o suprimento de diversas matérias primas importantes, como a diminuição de seus “déficits” do balanço de pagamentos. Passo a passo, a Amazônia deixa de ser um ônus para o país, para tornar-se um fator positivo de seu crescimento integrado.

Talvez o Sr. não saiba. Então anote alguns pontos importantes para compreensão do papel que a Amazônia desempenha atualmente no Brasil.

No lustro que agora se encerra, verificaram-se fatos como este:

* Mais de 90% da pimenta do reino e de algumas fibras vegetais (jutas e malvas) consumidas pela indústria nacional, provêm agora da Amazônia – até poucos anos gastaram-se preciosas divisas para importá-las.

* Centros de treinamento técnico para extração racional de madeiras, e indústrias para seu aproveitamento foram e continuam a ser instalados. Um projeto já iniciado, por exemplo, fornecerá em breve, anualmente, alguns milhões de dormentes “curados” de que as nossas ferrovias e as do mundo inteiro carecem.

* Estão saindo da Amazônia até 80% do manganês que exportamos pelo Brasil.

* Empresas de pesca da região remetem camarão até para os Estados Unidos.

Mas não é só no setor primário que isto se passa, Indústrias novas surgiram. Tome nota:

* A única refinaria de petróleo ao norte da Bahia encontra-se em Manaus, e abastece de seus derivados todos os Territórios e Estados até o Piauí.

* A única fábrica de cimento em latitude mais setentrional do que da Paraíba está sendo montada em Capanema (Pará). Quando começar a produzir, no primeiro trimestre de 1961, abastecerá todo o Norte.

* Outras indústrias menores estão sendo instaladas ou projetadas: embalagem, madeiras, papel, etc.

No setor de transportes, não é apenas a Belém-Brasília que deve ser registrada no nosso período de análise. Até dezembro ela deverá entrar em tráfego normal. Além da ponte sobre o rio Guamá, já inaugurada, deverá então ficar concluída uma outra ponte sobre o rio Tocantins, com um dos maiores arcos do mundo em concreto protendido: 140 metros de vão. Mas, registra-se igualmente:

* Será inaugurado, em breve, o dique seco de Belém. Poderá receber navios de até 20 mil toneladas, para construção ou reparos. Será o único ponto de apoio para a navegação oceânica entre as Antilhas e o Recife.

* O Sr. encontrará agora, ao seu dispor, uma frota nova dos Snap [Serviço de Navegação da Amazônia e dos Portos do Pará, Snapp, depois substituídos pela Enasa, autarquias federais] que o transportará de Belém até Manaus em menos de uma semana, com todo o conforto dos navios grandes de passageiros.

* 10%, no mínimo, de gasolina de aviação consumida no Brasil é empregada nos imensos percursos amazônicos.

* E, de cada 4 ou 5 aviões que pousam no Aeroporto Internacional de Val-de-Cans (Belém), um pelo menos traz prefixo de empresa regional.

Muitos outros fatos podem ser citados, que demonstram o espírito empreendedor da gente amazônica, e a sua determinação de participar do desenvolvimento regional. Por exemplo:

* Nestes últimos cinco anos foi criada a Universidade do Pará, além de numerosos estabelecimentos de ensino de todos os níveis, surgidos nas diversas unidades da região.

* Surgiram, no mesmo período, numerosas emissoras de rádio, está sendo instalada a primeira estação de TV do Norte [a TV Marajoara, dos Diários Associados, em Belém, [já extinta] e outras estão sendo projetadas.

* Uma cidade como Belém apresenta os mais altos índices de circulação de jornais diários de todas as capitais brasileiros (à exceção do antigo D. F. [o Rio de Janeiro] e de São Paulo).

Mas, apenas para dar-lhe uma idéia das potencialidades da área, que só agora começaram a despertar para a realidade, anote também:

* Cerca de 30 a 40% dos fluxos internos do comércio da Amazônia fazem-se entre unidades da própria região.

* Os saldos favoráveis do comércio exterior da Amazônia têm sido, nos últimos cinco anos, suficientes para atenuar de 10 a 20% os “déficits” do balanço comercial brasileiro em dólares.


A imagem que abre este artigo mostra o agricultor Sidiney da Conceição, 59, trabalha com pesca e roçado com parte da sua produção de malva que foi por água a baixo durante a enchente de 2021, em Manacapuru, AM. (Foto: Raphael Alves/Amazônia Real/06/05/2021)

Leia também:

A paixão amazônica (1)

A paixão amazônica (2)

A paixão amazônica (3)

A paixão amazônica (4)


Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:

lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.A

valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.

amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.

cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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