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ToggleA empresa Asana ergueu uma pesquisa em 2022 em que analisou mais de 10 mil trabalhadores em 7 países e descobriu que 70% deles experimentaram burnout no último ano. Os índices variam conforme as gerações, sendo que 84% da geração Z relata sofrer de exaustão e 74% dos millennials passam pelo mesmo.
Também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, a doença não se trata apenas de um cansaço mental ou físico, mas uma exaustão tão extrema e crônica que pode levar a picos de ansiedade paralisantes, cefaleia, pressão alta, alterações no apetite, dores musculares, insônia e depressão. Sem contar com doenças psicossomáticas, como quedas de cabelo, alergias de pele e outros tipos de transtornos de estresse, como o bruxismo.
Com isso, o Departamento do Trabalho dos EUA viu um fenômeno acontecer mesmo em meio ao período devastador causado pela pandemia de covid-19 no começo de 2020: ampla oportunidade de empregos é fruto dos altos níveis de demissões voluntárias. Isso foi o resultado de um efeito rebote devido à quantidade de pessoas adoecendo por não conseguirem mais estabelecer um limite entre a vida pessoal e o trabalho, além de um sentimento de insatisfação geral.
A culpa é dos meios de produção, das normas culturais, das políticas de trabalho e do avanço inexorável do capitalismo em busca de fabricar e construir cada vez mais. Portanto, milhares de pessoas pelo mundo que ainda não estão sofrendo de nenhum sintoma de exaustão clínica ou já experimentaram o burnout, estão abandonando seus trabalhos e aderindo um novo estilo de vida, o slow living.
Petrini, o precursor
Em uma sociedade em que trabalhar é sinônimo de status, ganhar dinheiro é uma conquista e se manter ocupado é motivo de orgulho, não fazer nada por um ano inteiro ou simplesmente se ocupar com trabalhos que não requerem esforço, progresso, produtividade ou conquistas – é algo que pode parecer chocante, mas está cada vez mais em alta.
O slow living prega a desaceleração e visa um estilo de vida mais consciente e sustentável, focado em fazer o mínimo possível no trabalho para preservar energia para outras atividades, como hobbies, relacionamentos ou autocuidado. Nesse modelo, bom status financeiro e a carreira profissional deixam de ser um objetivo que precisa ser perseguido a todo o custo.
O conceito do movimento surgiu na Itália em 1986, cunhado por um manifestante chamado Carlo Petrini que, com um grupo de ativistas, visava defender a culinária local quando o primeiro McDonald’s chegou ao país. Naquela época, a rede de fast food não era comum na maior parte da Europa e sofreu grande resistência até cair no gosto popular, sobretudo dos italianos, que culturalmente enxergam a refeição como algo sagrado, além de um momento de reunião e apreciação, aspectos que não condizia com a rapidez proposta pelo fast food.
O slow food iniciado por Petrini prometia comer e comprar localmente, incentivando refeições culturais e de alta qualidade. Agora, o movimento possui adeptos em mais de 150 países e continua a incentivar o prazer de alimentos de boa qualidade e promove salários justos para os produtores. Ele também foi o responsável por gerar outras subculturas que compartilham da mesma filosofia de desacelerar em outras áreas da vida, como o slow fashion e o próprio slow living.
Dando um passo para trás na rotina
O palestrante e autor do livro In Praise of Slowness, Carl Honoré foi o responsável por lançar o slow living para o mundo em 2004, em uma época em que o modo de vida, além de produção, atingiu uma aceleração muito grande e parecia que as pessoas viviam apenas em função disso, desde trabalhar muito a mecanizar seus deveres como pais.
Apesar de pregar a redução do tempo de telas, seja de celular ou televisão, o slow living têm crescido nas redes sociais por meio de vídeos e depoimentos de adeptos como forma de ajudar as pessoas à medida que o descontentamento com o sistema de trabalho só cresce, os salários enxugam e as demandas aumentam.
O trabalho remoto integral e a semana de trabalho de 4 dias são exemplos de uma sociedade exausta, doente e descontente com o status quo. A pandemia favoreceu muito o slow living por promover uma desaceleração mundial que fez as pessoas perceberem mais os problemas em uma vida agitada, desencadeando o desejo de dar um passo para trás e ter um tempo de qualidade.
A revolução
Cada vez mais as pessoas buscam por respostas em livros-documentários, como o de Emma Gannon, com o seu A Year of Nothing (“Um ano sem nada”, em tradução livre), o relato de 12 meses sabáticos após um burnout clínico que quase tirou sua vida. Seu livro e história são uma jornada focada em recuperar a saúde apostando em atividades tranquilas e também em como silenciar os pensamentos impostores que tendem a nos jogar de volta à rotina esmagadora.
Antes de ir parar em uma cama de hospital, Gannon confessou que surgiram vários sinais. Ela se sentia muito confusa, tinha dores de cabeça latejantes, pouco foco e muito cansaço mental, mas os ignorava e pensava: “Estou ocupada, preciso continuar”. Esse é um pensamento comum, pois a sociedade está condicionada a avançar a todo o custo.
Ao contrário do que se pensa, o slow living não se trata em levar uma vida de pessoa preguiçosa e sem objetivo, mas de mudar as tarefas que são feitas, priorizando o que é importante de verdade e atribuindo a quantidade certa de tempo a cada atividade. Em um contexto menos radical, é aprender a dizer “não” ou “basta” para compromissos, pessoas e tarefas automáticas.
“Tudo, desde nossa saúde e dieta até nossos relacionamentos, famílias, comunidades e escolas estão sofrendo”, disse Honoré em entrevista à Martha Stewart. “E isso também está prejudicando nossa capacidade de pensar, vincular, inovar, criar trabalho, ser produtivo e ser criativo”.
Em um mundo onde somos constantemente assediados pela ideia de ser e produzir mais, o autocuidado e a autopreservação já são considerados um ato de guerra política, como disse Audre Lorde em 1988 em seu Sou sua irmã.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Mega Curioso e são de total responsabilidade do autor.
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