Na década de 1940, a Roche (Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A.) – fundada em 1896, na Suíça, pioneira em produtos farmacêuticos e de diagnóstico –, sediada na avenida Franklin Roosevelt, 115, 4º, cidade do Rio de Janeiro, publicou informes publicitários dos medicamentos que comercializava, unindo arte e divulgação científica. Tais informes compunham coleções temáticas, sobre as quais não há registros históricos além dos próprios, parte deles com textos assinados por Eurico Santos, o divulgador esquecido, autor de dezenas de livros e folhetos entre as décadas de 1920 e 1970.
As Coleções Artísticas “Roche” eram prospectos cartonados que apresentavam uma gravura na primeira face, texto explicativo sobre a gravura e informes publicitários sobre medicamentos comercializados pelo laboratório. Esses prospectos, provavelmente, eram distribuídos a médicos e farmácias. Em dezenas desses prospectos, das seguintes coleções, há textos originais de Eurico Santos: Cães Domésticos, Aves do Brasil, Árvores do Brasil, Borboletas do Brasil, Peixes de Aquário e Serpentes do Brasil. As pinturas estampadas nestes prospectos são de [Marian] Mirian Colonna, a mesma artista plástica que elaborou desenhos e pranchas para livros de Eurico Santos.
Como jornalista – “possuidor de vasta cultura;” – publicou centenas de artigos em diversos jornais e revistas, sobretudo naquelas dedicadas ao periodismo agrícola – “ninguém reuniu os artigos que ele publicou […], que deve atingir a casa dos milhares”. Durante quase 20 anos, foi funcionário do Ministério da Agricultura, associado ao Serviço de Informação Agrícola. Foi autor de 36 livros e 12 folhetos – destaque à coleção Zoologia Brasílica cujos 11 volumes tornaram-se os mais conhecidos da sua obra, publicados no período de 1938-87, os quais somam 2.600 páginas de informações sobre a “vida e costumes” de animais dos diversos grupos zoológicos com ocorrência no Brasil – “Ele sempre solicitava a opinião dos especialistas em cada assunto particular que abordava, para não deixar escapar nenhuma gafe. Daí o enorme sucesso dos seus livros. […] todos eles vazados em estilo simples e muito agradável, alicerçados em trabalhos científicos”.
“Os homens da ciência, que entre nós existem em quantidade apreciável e qualidade notável, não atinamos bem por que, esquivam-se quase sempre de fazer divulgação. Louvável, pois, seria que aparecessem, como nos demais centros de alta civilização, escritores que se especializassem na divulgação — gênero literário muito abundante na época hodierna. Não quer dizer que entre nós não exista êste gênero de escritores, pois fácil seria citá-los, mas ainda se apresentam em reduzidíssimo número, ante a tarefa a que são chamados.”
Os escritos de Eurico Santos, em linguagem acessível ao grande público, convidam os leitores a refletir sobre a importância dos avanços técnicos e da ciência no campo da agropecuária, sobre o apreço pela cinofilia e pelos cuidados indispensáveis dirigidos aos cães, bem como dos impactos negativos da caça, sem ordenamento e controle, sobre a harmonia das relações ecológicas, à luz da proteção ambiental. Seu legado, sobretudo a coleção Zoologia Brasílica, ainda inspira a conexão com a natureza que, de modo crescente, impõe a sua resiliência e expõe a fragilidade e interdependência humanas.
Ainda fazem parte das Coleções Artísticas “Roche” a Coleção Povos e Tipos da América, que reproduz gravuras de Mirian Colonna e textos de Fernando Antônio Raja Gabaglia (1895-1954); Coleção Divertimentos e Cenas Populares (prospectos com 26 x 18 cm) e Coleção Poesia dos Portos do Brasil, com gravuras de Roger van Rogger (1914-1983) – pintor e poeta flamengo nascido na Antuérpia, Bélgica, em uma família judia de origem polonesa –, Coleção Igrejas do Brasil, com gravuras das telas a óleo do holandês Wim L. [Willem Leendert] van Dijk (1915-1990) e textos de Robert C. Smith, professor de História da Arte na Universidade de Pensilvânia, professor Fernando Corona, catedrático do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, e do professor Affonso de F. Taunay, antigo diretor do Museu Paulista.
À Roche Brasil, foi solicitado registros sobre as Coleções Artísticas “Roche”. O Serviço de Informação Roche respondeu que, devido a passagem de muitos anos, a farmacêutica não possuía mais os registros. A Roche também foi provocada a patrocinar a confecção de um livro que resgatasse a história e as gravuras das coleções: “informamos que a empresa não possui, neste momento, disponibilidade para patrocinar este projeto de publicação” (mensagem pessoal).
Sobre a artista plástica, Marian Colonna, não foram encontradas informações biográficas. Ela também ilustrou o livro Atlas Elementar de Zoologia, de Augusto Sevilha, publicado pela F. Briguiet & Cia. em 1943.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
Ver post do Autor