Em sua casa em Barcarena, no nordeste do Pará, a líder quilombola Maria do Socorro Costa Silva, mais conhecida como Socorro do Burajuba, convive com 14 grades para sua proteção. Ela enfrenta ameaças por ter denunciado e movido uma ação internacional contra a mineradora norueguesa Hydro e Norsk Hydro ASA. Em 2018, um vazamento de rejeitos tóxicos da produção de alumínio contaminaram rios e lagos da região. Em 24 de setembro, a juíza P.F.G.T. Hofmeijer-Rutten, do Tribunal de Roterdã, absorveu a mineradora por falta de provas nos danos à saúde e financeiros. A liderança desabafou: “Ela nos sentencia à morte de vez”.
Barcarena (PA) – A apenas 15 quilômetros de distância de Belém, em linha reta, está localizado o município de Barcarena, no nordeste do Pará. São apenas duas horas e meia de viagem de carro da capital paraense à comunidade quilombola São Sebastião de Burajuba, que fica às margens da maior planta industrial de alumínio na região das atividades da Alunorte e Albras, de propriedade das mineradoras Hydro e Norsk Hydro ASA. Na cidade, estão ainda localizadas várias comunidades ribeirinhas e indígenas. Desde 2009, essas populações sofrem com os impactos socioambientais e sanitários, contaminação de rios e danos à saúde da população causados por rejeitos das mineradoras subsidiárias Hydro Alunorte.
Seria relativamente simples para Maria do Socorro Costa Silva, mais conhecida como Socorro do Burajuba, presidenta da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), ir à cidade para acompanhar a Conferência do Clima da ONU, a COP30, mas ela não foi. Ela vive sob uma medida protetiva e atenta aos chamados da patrulha policial, que passa todos os dias em sua porta, para proteger sua vida. As conversas sobre a segurança entre ela e os policiais são feitas por mensagem de Whatsapp. Na casa de Socorro não foram instaladas câmeras de segurança. Ela não sabe explicar o motivo, já que comunicou a insegurança às autoridades. Na placa, com o nome da comunidade São Sebastião de Burajuba, que fica na frente de sua casa, existem várias marcas de tiros dados por pessoas desconhecidas em 2023.
“A COP não me deu oportunidade de voz nem a mim nem ao meu povo da floresta. A COP… eu não tenho o que falar. Nós não fomos ouvidos”, relata ela em entrevista exclusiva à agência Amazônia Real.
Em 2009, as comunidades quilombolas e ribeirinhas denunciaram à Justiça Federal a contaminação e poluição do rio Murucupi, após o transbordamento de rejeitos sólidos de das instalações da mineradora Hydro Alunorte e pediram indenização de R$ 100 milhões. O processo continua ativo, com o número 0015239-52.2019.4.01.3900.
A lama vermelha, resíduo perigoso com propriedades corrosivas e metais pesados na sua constituição (como alumínio, ferro, sódio e titânio), se espalhou por uma grande área, incluindo uma região de preservação ambiental formada por vegetação e nascentes dos rios Murucupi, Barcarena, Pará, Dendê e Arienga e o Furo do Arrozal.
Em 2018, após fortes chuvas em Barcarena, resíduos da produção de alumínio das bacias de rejeitos da Hydro Alunorte vazaram nos igarapés e lagos, que ficam no entorno da planta industrial. A mineradora negou o incidente. O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e pelo Ministério Público Federal (MPF) descobriram dutos clandestinos de escoamento de rejeitos não-tratados em direção ao meio ambiente.
Em ambos os casos, as provas apresentadas contra a Hydro Alunorte pelo Ministério Público Federal foram obtidas por meio de perícias, laudos, fotografias e investigações feitas pela Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), Instituto Evandro Chagas (IEC) e Universidade Federal do Pará (UFPA), Laboratório de Química Analítica e Ambiental (Laquanam), Ibama, Instituto de Criminalística do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves e Polícia Civil do Pará, além de relatos de testemunhas e de outros dados coletados.
Em 2021, a Cainquiama, presidida por Socorro do Burajuba, e mais nove pessoas físicas, ingressaram com uma ação no Tribunal de Roterdã, na Holanda, contra as seguintes empresas do grupo: Norsk Hydro ASA (Controlador, com sede em Oslo, Noruega), Norsk Hydro Holland, Hydro Aluminium Netherlands, Hydro Aluminium Brasil Investment, Hydro Alunorte, Hydro Albras e Hydro Paragominas. Os quilombolas pediram uma indenização por danos à saúde, impactos financeiros e sanitários decorrentes das atividades industriais do grupo em Barcarena.
Na COP30, a Hydro é uma das maiores financiadores da conferência em Belém, financiando obras dos governos estadual e federal, além de patrocinar a cobertura de veículos de imprensa tradicional como Folha de S.Paulo, Portal R7, Exame, GloboNews, CNN Brasil, BBC News | Brasil, ISTOÉ e Terra.
“Eu recebi a notícia [da decisão judicial] pelo grupo do WhatsApp, de que a juíza mandou arquivar o nosso processo. Assim, ela manda enterrar a gente, matar mesmo, enterrar. É isso que eu entendo desse julgamento. Ela nos sentencia à morte de vez, quando ela manda arquivar. Por que nós estamos cobrando essas indenizações? Mais uma vez, eu torno a repetir, a empresa foi condenada no Brasil. Mas é somente um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que não resolve o nosso problema”, explicou.
Segundo consta no processo número C10/10/616293/HA ZA 21-315 do Tribunal Distrital de Roterdã, as empresas Alunorte, Albras e suas acionistas Norsk Hydro, foram absorvidas das denúncias de poluição, danos à saúde e crimes ambientais relacionados aos vazamentos e liberação de resíduos tóxicos, que afetando rios e igarapés em comunidades ribeirinhas da região. O processo foi levado pela juíza P.F.G.T. Hofmeijer-Rutten e os juízes P.C. Santema e B. van Velzen, ditou sentença em 24 de setembro. O documento, obtido pela Amazônia Real, não reconhece a responsabilidade das empresas do grupo Norsk Hydro pelos danos ambientais e pessoais sofridos por contaminação em Barcarena, e por esse motivo, não estabeleceu multa pelos danos acontecidos na região. Segundo a sentença, a falta de base jurídica brasileira para responsabilizar os acusados na Holanda levou ao resultado ditado.
Os escritórios de advogados Pogust Goodhead e LVDK, que levam o caso na Holanda, ao receber a decisão da Corte Distrital de Roterdã informaram à Amazônia Real, em nota enviada pela assessoria de comunicação, que “mesmo com todas as provas apresentadas pelos escritórios e com o trabalho dos especialistas demonstrando o envolvimento das empresas nas atividades poluidoras na região de Barcarena, o Tribunal entendeu de forma diferente”.
Considerando que há um prazo de três meses para interpor um recurso à decisão, os advogados disseram que irão analisar o caso para decidir os próximos passos junto com seus clientes, os que “continuam a sofrer os impactos da poluição causada pela produção de alumínio”.
Por sua vez, a mineradora Hydro publicou uma breve nota informando a recusa das acusações por parte da Justiça de Roterdã, com a alegação de haver apresentado “relatórios de técnicos baseados em extensos dados públicos, demonstrando que as alegações feitas pelos demandantes são infundadas”.
Ela ainda tem dúvidas sobre o porquê da decisão. “Será que a juíza se equivocou? Ou será que essa ação não foi esmiuçada exatamente para ela, detalhadamente? Uma coisa é dizer que isso aconteceu no Brasil, outra coisa é dizer que ela mora lá, ela nunca pisou aqui”. A estratégia já pensada pela liderança quilombola é: “Eu convido ela para vir para o Brasil, especificamente Barcarena. Tome a nossa água, tome banho com a nossa água”.

Dona Socorro em frente o Tribunal de Roderdã ( Acervo pessoal).
Já são muitos anos de uma incansável luta de dona Socorro, com momentos de esperança e alegria, e muitos outros de tristeza e lágrimas, como quando seu esposo faleceu, em setembro de 2021, doente de diabetes e sofrendo com contaminação de alta concentração de alumínio em seu corpo, comprovada por estudos científicos. Em seu cabelo havia 110 vezes mais alumínio do que o normal na população. Socorro sabe que seu corpo, assim como o de muitos habitantes da comunidade, também carrega o metal em demasiado excesso.
No dia 2 de novembro, a Amazônia Real foi até à comunidade de Socorro de Burajuba para saber como ela está e se tinha interesse em participar da COP30. Leia a entrevista:

Dona Socorro de Burajuba em um dos 14 portões que fecham a sua casa (Foto: Giovanny Vera/Amazônia Real/2025).
Amazônia Real – Como é a vida da senhora hoje, passados tantos anos do começo da sua luta pelos direitos da comunidade de Barcarena?
Socorro Burajuba – É ruim, porque eu sou ameaçada. Tenho que ficar aqui dentro. Eu já sofri até assalto dentro da minha casa. Então eles não respeitam, eles batem, eles humilham, eles chamam de vagabunda, bandida. Bandidos são eles que estão dentro da minha casa me roubando e eles que usam essa expressão com a gente. Então, não é fácil o que eu passei com a minha família aqui dentro, né? Eu tenho uma medida protetiva. Eu vivo atrás de 14 grades na minha casa. Eu fui escutada este ano e ano passado pelo Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) lá em Belém. Eu queria que tomassem mais medidas para minha proteção. Colocar muro na minha casa, meu terreno, botar câmera, me ensinarem a como eu ver, se eu estiver lá em Belém, ver se meu povo está bem aqui. Então, isso é importante não só para mim, mas para todos que tem a medida protetiva. Incentivo, segurança. Isso sim é uma segurança.
Amazônia Real – Como vocês puderam iniciar o processo contra a Hydro na Holanda?
Socorro – Então, eles contrataram o Dr. Ismael aqui no Brasil para ficar fazendo esse câmbio para a gente. Depois nós conhecemos os advogados que estão na ação, porque vieram aqui em Barcarena, olhar de perto, ver de perto. Se reunir de perto com a gente e com as comunidades.
Fizeram várias reuniões em várias comunidades. Então, na vez que eles vieram aqui, foi porque a juíza e os advogados entenderam que a Cainquiama não tinha como defender o povo. E aí todo mundo assinou, eles vieram para cá, os representantes, todo mundo concordou que era a Cainquiama que representava lá e assinaram. Então foi dessa vez que eu os conheci e a partir dessa data eles falam com a gente, pouco, mas eles falam.
Amazônia Real – Como que a senhora soube da negativa de responsabilização da mineradora Hydro pela justiça de Roterdã?
Socorro – O resultado dessa ação que teve na Holanda, eu fui surpreendida através de grupos de WhatsApp com a resposta da juíza. Os advogados em nenhum momento me falaram nada, só depois que eu liguei para o Dr. Felipe, que é um dos advogados do escritório na Europa. Foi pra ele que eu mandei que a informação estava nos grupos do WhatsApp. Aí ele se reuniu comigo e mais uns quatro da diretoria. Porém ainda falta a outra reunião que é com todos da diretoria para entender isso direito, né. Enfim, esse equívoco da juíza da Holanda.
Amazônia Real – E o que a senhora achou da decisão?
Socorro – Para mim, ela se equivocou. Mas todas as autoridades sabem. Acho que falta detalhar mais essas informações para a juíza de Roterdã. Eu acho que tem que ser mais detalhado isso para ela, e ela vir em Barcarena ver a nossa situação de perto. Eu recebi a notícia pelo grupo do WhatsApp, de que a juíza mandou arquivar o nosso processo. Assim ela manda enterrar a gente, matar mesmo, enterrar. É isso que eu entendo desse julgamento. Ela nos sentencia a morte de vez, quando ela manda arquivar. Mas por que nós estamos cobrando essas indenizações? Mais uma vez, eu torno a repetir, a empresa foi condenada no Brasil. Mas é somente um TAC. E TAC não resolve o nosso problema.
Amazônia Real – De acordo com o documento da sentença do Tribunal Distrital de Roterdã, as provas apresentadas não foram suficientes para culpar a mineradora Hydro. A senhora viu isso?
Socorro – Se eu quero um abacaxi hoje, que eu sei plantar, eu sou agricultora com meu povo, eu compro. Se eu quero um limão, eu compro. Mas a terra não deu mais nada. A nossa terra está total e irreversivelmente contaminada. Sabe quem diz isso? Nossas instituições brasileiras, a Universidade Federal do Pará (UFPA), o Instituto Evandro Chagas (IEC). Então nós acreditamos nos estudos das nossas instituições brasileiras. O que dá origem nessa ação lá é a ação do Brasil. A empresa foi multada, não é o suficiente? Ela foi condenada aqui no Brasil. Não é o suficiente? Nós queremos que paguem o nosso prejuízo. Agora estão nos exterminando para não cobrar nada? É isso? Que eu sou uma voz? Então querem me assassinar? Por isso eu estou atrás de 14 grades dormindo com a minha família?
Amazônia Real – Essa ação foi movida por um escritório de advogados com experiência na defesa de população atingidas por mineradoras, mas a senhora foi informada pelos advogados sobre o valor da indenização que sairia na decisão do Tribunal de Roterdã?
Socorro – Eu já mandei vários documentos para me dizerem o valor, mas não falam nada. O que sei informar que a ação foi do Brasil para lá. Mas eles não informam. A gente pensou que fosse uns 5 mil euros, ou dólares. Mas nada é seguro. A gente não tem informação nenhuma. Ele não informa. A gente quer essa indenização. O prejuízo não é só do crime ambiental dos ribeirinhos. Já vem há muito tempo. É território. Eu acho… São duas coisas. Esse governador acabou de assinar mais projetos, empreendimentos. Vem ferroria. Nós estamos sendo assassinados, esmigalhados, a olho nu. Eles só pensam em lucros. Os caras não gostam do meio ambiente, nem da saúde. Estou pedindo uma investigação para Barcarena, pra ver por que muitos estão com câncer e indo a óbito. Mais gente com câncer, em todo lugar aparecendo.
Amazônia Real – A senhora tem alguma mensagem para a juíza de Roterdã?
Socorro – Eu convido ela para vir para o Brasil, especificamente Barcarena. Tome a nossa água, tome banho com a nossa água. Passe os dias aqui no município de Barcarena, em Abaeté, respire o nosso ar contaminado. Tudo por conta das mineradoras. Espero que a senhora aceite o nosso recurso judicial. Como eu já pedi uma vez, vou pedir outra. Ajude a salvar o nosso povo da Amazônia e de Barcarena. Chega de tanta morte de câncer por causa do metal pesado. Chega. Convido você, juíza de Roterdã. Venha na minha casa. Mas olha onde eu estou. Atrás de 14 grades, juíza. Eu e minha família. Vem aqui ver, venha, juíza. Venha para Barcarena. Venha olhar o nosso povo que está morrendo por causa das metástases. Eu espero que a senhora reveja. Nossa água é contaminada. Nós estamos condenados à morte. Das mineradoras e do lucro que vocês dizem que é o progresso, a nós não atingiu nada. Sabe o que sobrou para nós desse progresso? A morte, doença, perda total de tudo.
Amazônia Real – A senhora falou de que tem visto muitas doenças nas comunidades. Vocês conseguiram apoio para investigar isso?
Socorro – Aqui dentro do município de Barcarena, os médicos visitaram Conde [comunidade Vila do Conde], fizeram atendimento em Burajuba, Vila Nova do Ipanema, Arienga. Mas a gente não teve sucesso porque o que a gente queria que fosse o médico toxicologista também. O Estado foi omisso, não trouxe o médico toxicologista para fazer mais exame nas pessoas, passar remédio e ler outros exames que eles já tinham. Enfim, todos sabem, não fazem nada. Porque o maior índice de câncer, segundo o Ministério da Saúde, está em Barcarena. E os cemitérios aqui em Barcarena já estão lotados. Fizeram até um cemitério novo. Precisa de uma investigação para saber porque o maior índice de câncer está aqui, e as pessoas estão morrendo. É assim que tá a Barcarena. A genocida que é a Hydro. E o nosso prefeito ganha um título e nós ganhamos a morte. É uma vergonha. É a COP da vergonha.
Aqui, Socorro se refere ao prêmio que a prefeitura de Barcarena recebeu na primeira semana de novembro, no Fórum de Líderes Locais da COP30, no Rio de Janeiro, o prêmio Bloomberg Philanthropies Local Leaders Climate Awards 2025. A premiação reconhece as melhores políticas, projetos e programas liderados por líderes locais que abordaram de forma eficaz as mudanças climáticas nos últimos três anos.

Socorro de Burajuba (Foto: Giovanny Vera/Amazônia Real/2025).
Amazônia Real – Quando souberam do, o que vocês pensaram desse reconhecimento que Barcarena recebeu, pelo desenvolvimento sustentável e segurança alimentar na cidade?
Socorro – Como é que os caras decidem e não nos escutam? Dão prêmios onde nós estamos morrendo, bebendo água contaminada, com metal pesado e ar contaminado. Cadê a questão da sustentabilidade? E garantir o nosso sustento, porque nós não temos mais nada. Aí não podemos mais pescar. Nós somos trabalhadores prejudicados. É, exterminam um trabalhador, que é povo da floresta, para garantir os trabalhadores deles, industriais. É uma vergonha, é uma tristeza.
Amazônia Real – Como está a saúde da senhora, que fica no meio dessa luta?
Socorro – E aí a minha pressão está indo voltando toda hora no médico, com enfermeiro, tomando soro, tomando remédio para a pressão. Eu não estou legal com esse resultado porque nós lutamos pelo nosso povo da floresta, pela vida do nosso povo barcarenense e abaetetubense que sofre e sofre, e que morre mesmo. Já viu que já estão até cavando buracos agora, esperando só outro vindo de lá para enterrar.
Amazônia Real – Nesse momento, acontece a COP, em Belém, perto de onde a senhora vive, falando justamente sobre meio ambiente e mudanças climáticas. Como a senhora vê isso?
Socorro – Acho que esses governantes de vários países e os brasileiros deveriam ter vergonha de estar discutindo, porque foram eles que liberaram as grandes mineradoras, eles que certificam, eles que dão a licença para esses grandes empreendimentos. É por isso que existe a mudança climática. A culpa é deles. É por isso que tem a morte, tem água envenenada, muito fogo na floresta. As pessoas não têm a sua alimentação, estão perdendo a sua identidade. A culpa é deles, que eles que liberaram. Então quando eles deram a autorização, permissão para que essas coisas funcionassem, eles pensaram no lucro, eles não se preocuparam de pensar nos prejuízos que iria ter ainda. Não pensaram em nada do meio ambiente, não pensaram na saúde, não pensaram nada. Eles pensaram só em lucro. Que vergonha.
Amazônia Real – E a senhora estará na COP?
Socorro – Não. A COP não me deu oportunidade de voz nem a mim nem ao meu povo da floresta. A COP… eu não tenho o que falar. Nós não fomos ouvidos. Nós não temos direito de falar? Olha, água é vida. E nós somos uma população contaminada, envenenada. As mineradoras causam isso com a gente. Do lucro das mineradoras, o que fica para nós é o lixo e a morte. Hoje a morte.
Amazônia Real – Depois do vazamento de resíduos tóxicos em 2018, o Ministério Público Estadual promoveu a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Vocês participaram da construção desse documento?
Socorro – Não. Acho que esse TAC tinha que ser construído com as nossas falas. Esse TAC ele vem sem consulta livre, prévia e bem informada para a gente. Neste TAC, há alguma liderança que está lá dentro? Não. Lá está o estado, o município, o MPF, o MPE, a SEMAS, a DEMA, o Funbio, decidindo para nós. Mas um TAC não resolve o nosso problema.
Amazônia Real – Mas então, qual a sua avaliação da execução do TAC?
Socorro – Eu acho estranho esse TAC, porque esse TAC deveria ter uma coisa mais completa. Tipo, o Ministério Público Estadual tinha que fazer investigação do crime ambiental de 2018 e botar lá no processo aparecer. Porque o Ministério Público Estadual não fez a investigação? Compete a ele. Nós estamos falando de doenças, de meio ambiente, e ele não fez a investigação. Pode olhar lá dentro do processo. Não tem um parecer do crime ambiental de 2018. Questiono muito isso. Por que não tem? O que foi que aconteceu? Ah, fizeram acordo? Com que permissão? E se não tem, cancele o TAC. Cancele esse TAC. É uma farsa esse TAC.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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