Belém (PA) – O Espaço Chico Mendes, no Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, trouxe nesta quarta-feira (19) dois painéis que promovem o diálogo entre comunidades, cidades, territórios e ciência. A comunicação dentro da comunidade foi um dos requisitos necessários para alcançar a solução do clima a partir do âmbito local ao mundial.
No painel “Urbanização Amazônica” foi apresentado o caderno “Adaptação Climática na Amazônia Urbana – explorando evidências para cidades mais justas e adaptadas”, que resume as percepções das pesquisas de investigadores amazônidas que focaram em como tornar as cidades da região mais resilientes, justas e conectadas à natureza.
O material apresenta caminhos estratégicos para transformar evidências em políticas públicas que promovam a adaptação climática como um projeto coletivo, centrado nas pessoas e a partir de uma perspectiva amazônica. Adaptar não é um custo, é um investimento urgente em futuros mais resilientes, concluíram os pesquisadores.
Carolina Campos, pesquisadora da organização Laboratório da Cidade, uma entidade com sede em Belém, acompanhou as pesquisas. Ela ressaltou, durante sua apresentação, o papel das instituições do terceiro setor como não sendo o único detentor das soluções, mas como um mediador no processo. Segundo ela, “muitas soluções já estão no território” e que a academia, comunidades e poder público precisam de um “arranjo maior conjunto para podermos conseguir efetivamente chegar a mais soluções”.
A experiência com juventude, lembrou ela, deu origem a um projeto de educação climática onde a “troca de conhecimentos com os jovens foi fundamental, levando algo do que a gente conhece sobre as mudanças climáticas, mas também ouvindo e levantando as realidades que esses jovens vivem”.

Dessa forma, as pesquisas realizadas partiram da integração de conhecimentos tradicionais e o conhecimento acadêmico. Um exemplo foi a investigação que tratou da perspectiva das cidades indígenas ancestrais, documentando tecnologias indígenas que poderiam servir de inspirações para as cidades que existem hoje, com uma grande compatibilidade entre territórios quilombolas e territórios indígenas e os espaços não indígenas amazônicos.
Outra pesquisa apresentada foi sobre a biodiversidade como infraestrutura, que buscou identificar soluções em áreas periurbanas e rurais, onde o modo de vida e as soluções tendem a estar mais ‘enraizados’ do que em áreas centrais.
A pesquisadora Carolina Campos colocou como exemplo os quintais, onde as famílias construíam uma íntima relação socioambiental de cuidado e vivência. No entanto, alertou ela, foram se perdendo pelo crescimento das cidades, sendo trocados pela realização de mais construções. Na periferia essa solução social ainda persiste, se mantendo como um jardim, com árvores e como lugar de descanso.
Para Carolina, é “imprescindível que a gente consiga cada vez mais pensar em outros padrões para as cidades”, distantes do modelo de urbanização convencional e com a participação da comunidade. Dessa forma, as soluções baseadas na natureza são um caminho, acredita ela, pois se faz necessário pensar em como se “adaptar ou readaptar às condições atuais dos ecossistemas locais” cada vez mais pressionados e impactados.
Vozes locais na luta pelo território e o clima

O segundo painel “Periferias, juventudes, comunicação popular e defesa dos territórios” trouxe experiências locais de luta pelo clima promovidas desde a comunidade, na busca de visibilidade das ameaças e realidades climáticas que vivem e a incidência em governos.
Os painelistas coincidiram em estabelecer a comunicação popular como ferramenta essencial na defesa dos territórios e para luta contra a crise climática, dando voz a comunidades que vivem na linha de frente das mudanças ambientais.
Conce Gomes, repórter popular que atua na região do município de Santarém, no Pará, ressaltou a importância de levar a comunicação a locais onde o acesso é difícil, como em áreas ribeirinhas e de floresta.
Nesses lugares, contou ela, uma conexão de internet lenta ou a falta de energia, por exemplo, faz com que seus habitantes se sintam invisibilizados e sem voz para poder contar os problemas e ameaças que atravessam, como a pressão por mineração, hidrelétricas ou do agronegócio. E por isso, a comunicação popular é crucial para a proteção da população e desses territórios.
A comunicadora popular disse que a capacitação de jovens no uso de ferramentas de comunicação, como áudio e vídeo, permite que eles consigam ser protagonistas na proteção contra as mudanças climáticas em seus territórios.

Seja para denunciar desmatamentos ou invasão de terras,, ou para mostrar as soluções que eles realizam, ter a autonomia para mostrar as situações em suas comunidades é vital, pois “são as comunidades que estão lá nas beiras de rios, elas estão nesses territórios que sofrem diariamente”, disse Conce.
A ativista Aline Gama destacou que a visibilidade gerada por essa comunicação traz resultados concretos, Aline pertence à agrovila Itaqui, em Castanhal, no Pará. Ela vem lutando junto a sua comunidade para manter o igarapé Miri preservado.
“Nós não trabalhamos sozinhos, a articulação entre os vizinhos, com organizações, tem contribuído para trazer conquistas dentro dos territórios”.
Aline conta que o principal impacto que sua comunidade enfrenta atualmente é o risco de seca no Igarapé Miri, que é um lugar de lazer da agrovila. Buscando a participação comunitária na luta para defender suas águas, o Coletivo Miri, organização dentro comunidade, decidiu mapear as nascentes do igarapé.
Assim, junto às crianças e os mais velhos, a comunidade criou um mapa e o apresentou. Assim os demais vizinhos puderam entender sobre a situação que atravessa o igarapé, pela perda de vegetação em torno das nascentes devido à “especulação imobiliária e também da entrada da monocultura de soja”, segundo ela.
Para Aline, fazer o mapa com a comunidade foi uma demonstração de que unir os conhecimentos técnicos com os saberes tradicionais dos mais velhos e as tecnologias sociais que os mais jovens também usam, é uma demonstração de que é possível lutar juntos pelo cuidado dos recursos da natureza, e valorizar a parte social. “Queremos garantir a proteção do que é nosso ambiente e o bem-viver de nossa comunidade”, disse ela.
O Espaço Chico Mendes

O Espaço Chico Mendes encerrará suas apresentações no dia 21. Nesta quinta-feira (20), o dia será dedicado à Justiça Climática para os Povos das Florestas, com os painéis ‘Museu Goeldi Terra Indígena’, ‘Clima, Saúde e Território: luta e resistência das quebradeiras de coco babaçu pela floresta em pé’, e ‘Proseando por Belém – Papo com Michel Pinho: Belém e seus rios que eram suas ruas’, e apresentação ao vivo da Banda Afoxé Dudu, além de cinema e teatro.
Já no último dia, na sexta-feira (21), as apresentações versarão sobre “Tecnologias Sociais e Territórios”, com o painel ‘Nossa Chance: imaginando territórios transformados pelo financiamento climático’, continuando com debates sobre o legado de Chico Mendes, e com a apresentação do músico Flor de Mururé.
A programação pode ser vista aqui.

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