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ToggleBelém (PA) — Em declaração à imprensa, depois de um dia intenso de negociações na COP 30, o presidente Luís Inácio Lula da Silva disse que a proposta brasileira de criação de um “mapa do caminho” para superar a dependência dos combustíveis fósseis permanece na agenda da conferência, apesar de dificuldades nas negociações de bastidores com outros países. Lula, que chegou à capital paraense às 10h20, ressaltou que os negociadores brasileiros não querem impor nada aos demais e que o objetivo é construir um consenso em torno do tema que, segundo ele, é necessário diante da emergência climática.
Lula falou em tom de apelo aos países presentes na conferência. “É preciso que as pessoas tenham consciência de que todo mundo tem que ter responsabilidade. É por isso que nós colocamos a questão do mapa do caminho. É preciso mostrar para a sociedade que nós queremos, sem impor nada a ninguém, sem determinar o prazo, que cada país seja dono de determinar as coisas que ele pode fazer, dentro do seu tempo e dentro das suas possibilidades. É preciso que a gente diminua as emissões de gases do efeito estufa. E se o combustível fóssil emite muitos gases, nós precisamos começar a pensar em como viver sem combustível fóssil e construir uma forma de como viver”, argumentou.
A primeira declaração de Lula à imprensa desde o início da COP30 veio em um momento decisivo da reta final das negociações. O presidente colocou seu peso político na mesa ao passar o dia em uma maratona de reuniões com negociadores de países como Egito, Índia e Arábia Saudita — este último, um dos principais opositores a qualquer avanço sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Lula também encontrou delegações de países africanos, além de representantes da sociedade civil, cientistas e empresários.
A proposta de “superação da dependência de combustíveis fósseis” e da necessidade de elaboração de um “mapa do caminho” para esse fim foi apresentada por Lula em seu discurso na Cúpula do Clima, que antecedeu a COP30. Depois, ele voltou a falar sobre o tema na abertura da conferência. A proposta recebeu a adesão de 80 países nos últimos dias, como Alemanha e Reino Unido, mas encontra resistência de países que têm suas economias fortemente dependentes de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão. O esforço pessoal de Lula reflete sua busca por resultados concretos e palpáveis da COP 30.
Cobrança de um lado, diálogo do outro

O presidente apontou as responsabilidades dos países mais ricos e das grandes corporações no financiamento da ajuda aos países pobres na África, América Latina, Ásia e países insulares. “Cuidar do clima é saber que os países ricos precisam ajudar os países pobres e que é preciso colocar dinheiro para que as pessoas mantenham as florestas em pé. As pessoas precisam saber que, mantendo a floresta em pé, elas podem ganhar mais do que derrubando a floresta. Isso não é uma coisa abstrata. Os bancos multilaterais, que cobram uma exorbitância de juros dos países africanos e dos países pobres da América Latina, precisam transformar parte dessa dívida em investimento para que a transição energética seja verdadeira. As empresas petroleiras, as mineradoras e as pessoas que ganham muito dinheiro têm que pagar uma parte disso”, cobrou o presidente.
Lula também afirmou que, se os dirigentes mundiais não forem capazes de corresponder às expectativas da sociedade, correm o risco de minar a própria credibilidade do sistema multilateral de consulta, mecanismo criado justamente para enfrentar problemas que atingem a todos.
“Os líderes que dirigem os países precisam entender que se a gente não tiver um comportamento de acordo com as aspirações do povo, nós colocaremos em risco a democracia, o multilateralismo e a credibilidade. Se nós não agirmos para cumprir as expectativas que geramos nas pessoas, as pessoas não têm por que confiar nas suas lideranças. A questão do clima não é mais apenas uma visão acadêmica nem uma visão de meia dúzia de intelectuais e ambientalistas. A questão climática coloca em risco a humanidade. É por isso que todos os dirigentes têm que saber que cuidar do clima é cuidar da existência da Terra. Nós ainda não encontramos outro lugar para sobreviver”, disse Lula.
Ao lado da Ministra do Meio Ambiente e da Mudança Climática, Marina Silva, do presidente da COP30, André Correa do Lago e da primeira-dama, Janja Lula da Silva, o presidente transmitiu confiança nos acordos. “Que a gente consiga fazer as melhores negociações possíveis, que a gente consiga convencer, porque numa COP a gente não impõe nada. Tudo tem que ser por consenso, tudo tem que ser muito conversado. E nós respeitamos a soberania política, ideológica, territorial e cultural de cada país. Não queremos impor nada. Queremos apenas dizer que é possível e, se é possível, vamos tentar construir juntos”, afirmou Lula.
O presidente mostrou otimismo com a fase final de negociações e terminou sua fala em tom de brincadeira. “Por isso estou feliz. Tão feliz que, um dia, ainda hei de convencer o presidente dos Estados Unidos de que a questão climática é séria e que o desenvolvimento verde é necessário”.
Consenso progressivo

Antes da palavra do presidente Lula, a ministra Marina Silva anunciou que a Alemanha se comprometeu a investir € 1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), proposto oficialmente pelo Brasil na COP30. O anúncio vem logo depois da polêmica provocada pela fala do primeiro-ministro alemão, Friedrich Merz, que disse ter ficado feliz ao ir embora “daquele lugar”, referindo-se à capital paraense.
Com mais esse compromisso de aporte, o TFFF chega a cerca de US$ 6,5 bilhões já captados. O fundo pretende combinar recursos públicos e de investidores privados para proteger florestas tropicais por meio de pagamentos por serviços ambientais. A meta é alcançar o montante total U$$ 125 bilhões.
A ministra também ressaltou a busca por entendimento em torno do “mapa do caminho”. Ela destacou a necessidade de cuidado na escolha da linguagem nas negociações, para que se chegue a uma formulação capaz de agradar a todos os países envolvidos.
“Não temos respostas definitivas, mas respostas processuais no sentido de que o ‘mapa do caminho’ é a possibilidade de que países desenvolvidos e em desenvolvimento possam estabelecer suas trajetórias da melhor forma possível para fazer a transição para sair da dependência do combustível fóssil e para frear o desmatamento. Isso significa, com certeza, estabelecer uma linguagem que respeite as demandas de países em desenvolvimento; que aumente, com certeza, as responsabilidades dos países que historicamente emitem mais e que têm mais tecnologia e mais recursos financeiros, e que todos estaremos nessa equação buscando as melhores formas de caminhar. Ninguém tem uma resposta pronta e acabada, ninguém quer impor nada a ninguém, e tenho certeza de que temos ainda muito chão pela frente para estabelecer consensos. Eu acredito no consenso progressivo, quando todos temos a intenção de dar o nosso melhor pelo clima e pela dignidade dos mais vulneráveis”, finalizou.

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