Belém, Pará – A abertura da Cúpula de Líderes que antecede a COP 30, em Belém, foi marcada por discursos contundentes que exigem o fim do negacionismo, criticam o lobby dos combustíveis fósseis e clamam pela justiça climática como pilares para superar a crise global. Os representantes dos países latino-americanos destacaram a urgência de acelerar as medidas, alertando para o atual fracasso da humanidade na luta contra as mudanças climáticas.
“Estamos próximos de algo que já não se chama crise climática. Começamos falando de mudança, passamos para a crise e agora estamos mais perto do colapso climático, que significa o ponto de não retorno”, declarou o presidente colombiano Gustavo Petro.
Petro criticou duramente a falha das COPs anteriores em promover soluções concretas e foi veemente sobre o negacionismo científico de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, cuja delegação não está presente na conferência. “O Senhor Trump não está aqui e adota uma conduta pessoal de negação da ciência, arrastando sua sociedade de olhos fechados em direção ao abismo — e com ela, toda a humanidade. O senhor Trump está equivocado. A ciência ilumina o colapso e isso acontecerá se os Estados Unidos não fizerem a descarbonização de sua própria economia. Não se trata de perfurar, perfurar, perfurar. Trump está 100% equivocado”, afirmou.
Uma outra razão para o “fracasso” no enfrentamento da crise climática, de acordo com o presidente colombiano, é o lobby do petróleo, do carvão e do gás, que, segundo ele, ocorre nas próprias assembleias, em todas as COPs. Para Petro, o objetivo deve ser construir rapidamente uma economia descarbonizada, numa corrida contra o relógio: zero carvão, zero petróleo, zero gás. “A cobiça está indo contra a vida, e isso é imoral, é desumano”, declarou.
Cobiça contra a vida: o capitalismo como algoz ambiental
no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (Fotos Ricardo Stuckert / PR/05/11/2025).
Com opinião semelhante à de Petro, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, classificou o capitalismo como o algoz ambiental que devora bosques, seca rios e condena à fome. Para ela, as mudanças climáticas não são um prognóstico, mas sim “feridas abertas que sangram em seus povos”, e que precisam ser curadas.
Durante o discurso, que relacionou a crise climática a questões geopolíticas, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, pediu o fim do descuido com o clima, do racismo e do terrorismo de Estado, citando a causa palestina. Para isso, propôs medidas urgentes para que a natureza e a vida humana sejam reconhecidas como bens supremos universais, incluindo a criação de fundos para mitigação dos efeitos climáticos e a punição de empresas e países responsáveis pela destruição ambiental.
A vice-presidente do Equador, María José Pinto, trouxe à Cúpula a dimensão humana da crise climática. Ela alertou que a mineração ilegal “não só mata árvores, envenena corpos e contamina a água. Também destrói infâncias, rouba futuros e desloca comunidades inteiras”. Pinto lembrou que, na Amazônia, há crianças sendo recrutadas por máfias envolvidas em negócios ilegais e defendeu que não há conservação sem segurança. Para ela, proteger a Amazônia exige decisões concretas, como “cooperação contra o crime organizado, proteção de territórios, trabalho com as comunidades e investimento em educação”.
Por sua vez, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, reforçou a necessidade de ações imediatas. Segundo ele, a urgência não está apenas na adaptação e resiliência da natureza, mas também na transformação do sistema econômico mundial. Ali destacou que os países em desenvolvimento precisam de apoio financeiro para enfrentar a crise climática global.
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