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Anjos para o Amanhã - Amazônia Real

Anjos para o Amanhã – Amazônia Real


O cenário mundial provoca mergulhos no tempo e revela motivações de rompimentos das antigas relações humanas com nossa Casa Comum*, com movimentos cósmicos e com os legítimos habitantes do Ventre Universal. O cenário ainda nos evoca olhar além do insignificante EU [self] e acolher os elementais originários como membros indistintos e indispensáveis na construção da teia da vida*.

O início dos rompimentos vem da ganância semeada no período Neolítico, 476 a. C., até 1453 d.C., período marcado pela dominação feudal: clero e nobreza introduzem a lógica do acúmulo de bens, da supremacia de status e das desigualdades entre as classes. Por essa lógica, a vida em sua multiplicidade (humanos, selvagens, terras, pedras, águas, florestas…) é transformada em mercadoria, em objeto de exploração, de enriquecimento, de poder e violência a desvalidos.

A dita evolução moderna em vigor:  modelo financeiro, tecnologias imperialistas, mecanicismo cientificista, mercantilização das culturas originárias e recursos naturais e etc., contribuíram decisivamente para a efetivação da atual sociedade: um estado patológico de amnésia coletiva ou memoricídio biocultural, constante na Obra A Memória Biocultural (TOLEDO e BARRERA-BASSOLIS, 2015, p. 255). Nas referências teóricas, A amnésia coletiva manifesta-se como estado de sonambulismo, de dormência sociocultural com reflexos genocidas até irreversíveis.

Na sequência dos argumentos, no século XVIII, a Inglaterra inaugura a revolução industrial. A corrida por acúmulo de bens, de supremacia, de status oficializa a exploração da classe trabalhadora e, sob farsas de apoiar famílias empobrecidas, apropria-se da força de trabalho das crianças nas fábricas.

Com o propósito de problematizar a questão e poupar a vida das crianças, em 1923, no Rio de Janeiro, o Congresso Sul-Americano da Criança, sob Projeto do Deputado Galdino do Valle Filho, instituiu o dia12 de outubro como o Dia das Crianças, oficializado em 1924, pelo então presidente Arthur Bernardes. A partir dos anos 50, o sistema mercantil assume o comando do 12 de outubro e a data vira comércio a partir de campanhas de marketing de brinquedos e variedades de bugigangas sedutoras ao mundo infantil. Fábricas de brinquedos como a Estrela e outras aliadas forjaram campanhas impulsionando vendas e lucratividades.

O sonambulismo produzido pelo estado patológico de amnésia coletiva avançou. A sedução ganhou dimensões mercantis contaminando as famílias e as novas gerações. A cada 12 de outubro, em nome das crianças, empresas e mídias aliadas a sistemas governistas aproveitam-se da amnésia: com estratégias e sutilezas dominam as mentes e bloqueiam quaisquer reflexões críticas. Em paralelo, com supremacia mercantil, dogmas patriarcais impõem presentes pra meninas e pra meninos. Meninas são seduzidas à maternidade e à vida doméstica através de bonecas e utensílios de cozinha. Entra também no jogo seducionista, a erotização infantil* via bijuterias, vestuários, maquiagens, guloseimas obesígenas e hormonizadas estimuladoras da menarca*. Aos meninos: carros, motos, bolas, armas, celulares…

Na contramão da patologia sistêmica, Ângelo Gabriel dos Santos Teixeira, 11 anos, cursando o 6o ano do ensino Fundamental, na Escola Pe. Francisco Luppino (SESI – Parintins/Am) em sua original inocência traz despertares em forma de anúncios/denúncias à reinvenção/recriação de amanhãs dignos e possíveis.

Sou Ângelo Gabriel. Meus pais biológicos são Raiane e Gabriel. Eles moram em outro estado. Já os meus pais de coração são Selma e Manuel. Eles que cuidam de mim e sou muito grato por me educarem e me mostrarem os caminhos do bem.

Percepção sobre ser criança…

Pra mim, ser criança é aproveitar o tempo que temos para brincar, enquanto temos esse tempo… Quando criança, arranjamos amigos pra gente se divertir. Ser criança pra mim é isso! Um breve aviso aqui: temos que ser boas crianças para que o futuro do mundo possa ser melhor. Eu acredito nisso!

Como Ângelo vê o mundo?…

Não vejo o mundo como desenho nos meus sonhos: colorido, alegre, amoroso… Os governantes pouco ou nada fazem para acabar com as guerras que estão prejudicando a todos nós, a todas as vidas do Planeta. Vejo o aumento da fome, da miséria, do desemprego… E nossos governantes têm que olhar, têm que sentir essas dores para que estes problemas sejam resolvidos.

Provocação aos adultos e às crianças…

Fico preocupado com o que vejo; por isso, deixo um recadinho para os pais, mães e adultos que têm crianças: dêem mais atenção aos seus filhos; assim como eu, eles precisam ser acompanhados e orientados para não se envolverem com coisas ruins que prejudicam a nós, crianças. E para vocês, crianças, meus companheirinhos, não se envolvam com estranhos e não recebam estranhos na casa de vocês. Dêem atenção aos conselhos dos mais velhos, seus pais, avós… Aproveitem bem esse momento com quem acompanha vocês em todas as situações… Aproveitem com amor… Cada dia que passa é outro dia; usem da melhor forma possível para que nosso amanhã seja de paz e felicidade.

Sobre o Dia das Crianças…

Era pra ser um dia alegre e feliz. Se os governantes quiserem, podem festejar o nosso dia com brincadeiras legais, bons brinquedos e bons alimentos. Do jeito como está prejudica nossas vidas e nosso futuro. Também poderiam dar bons empregos para as famílias festejarem nosso dia com presentes bons, com boa alimentação e com uma boa educação.

Ângelo Gabriel apresenta-se a nós como um Anjo para tempos incógnitos… É um leve sopro de humanidade; um minúsculo ponto de luz em contraste à densa escuridão que ameaça o futuro da Curuminzada* e Cunhantanzada* da Amazônia e do mundo.

Os Anúncios/Denúncias aqui compartilhados são sussurros Inéditos*, ao mesmo tempo Viáveis* a esperançamentos libertários…

Que o Dia consagrado às Crianças nos permita ampliar a visão, romper com padrões feudais e construir com os pequeninos outro mundo verdadeiramente digno para todas as formas de vida em situação de vulnerabilidade.


(As contribuições de Ângelo Gabriel são autorizadas pelos “pais de coração”, Manuel José Teixeira e Selma Pantoja).


Falares de Casa

Casa Comum – Refere-se à Mãe Terra como um lar compartilhado entre todas as formas de vida e ecossistemas.

Cunhantanzada – Coletivo de cunhã (Tupi): menina, mulher jovem.

Curuminzada – Coletivo de curumim (Tupi): menino, homem jovem.

Erotização Infantil – Referências: Instituto Alana. Projeto Criança e Consumo. www.criançaeconsumo.org.br

Inéditos ViáveisAraújo Freire, Dicionário Paulo Freire, verbete inédito viável, (2010, p. 223-226).

Menarca – primeira menstruação.

Teia da Vida – “É a teia das relações pelas quais tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as circunstâncias. É o funcionamento articulado de sistemas e subsistemas que tudo e a todos engloba”. (Leonardo Boff, apud Nietsche & Elsen, 2000: 43).


As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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