Manaus (AM) – A jornalista Kátia Brasil, cofundadora e editora executiva da Amazônia Real, foi vencedora do primeiro lugar no Prêmio +Admirada Jornalista Brasileira na categoria Região Norte e o jornalista e colunista da agência, Lúcio Flávio Pinto, recebeu o título de Hors Concours do Jornalismo Brasileiro. O anúncio foi feito na cerimônia de comemoração do aniversário de 30 anos do Jornalistas & Cia, empresa organizadora da premiação, que reuniu mais de 400 pessoas, entre jornalistas, profissionais da comunicação e de empresas, na noite de segunda-feira (29/9), em São Paulo. O jornalista Caco Barcellos, da Rede Globo, foi eleito o +Admirado Jornalista Brasileiro de 2025.
Com 35 anos de profissão, Kátia Brasil iniciou sua carreira como estagiária na rádio Tupi e fundou o jornal Folha de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Em 1990 mudou-se para a Amazônia, onde passou pelas redações dos jornais A Gazeta de Roraima, Amazonas Em Tempo, emissoras de TVs Educativa e Cultura. Em 1997, passou a ser repórter-correspondente de grandes jornais no Norte, entre eles o Globo, Estadão e a Folha de S. Paulo. Em 2013, fundou junto com Elaíze Farias a agência Amazônia Real, a primeira mídia independente e investigativa dirigida por mulheres no Norte do Brasil.
Kátia Brasil, que recebeu a premiação da +Admirada Jornalista do Norte, eleita por votação dos colegas de todo o país, das mãos do correspondente da empresa Jornalistas & Cia no Amazonas, Chris Reis. A editora executiva da Amazônia Real também figurou no prêmio TOP 100 +Admirados Jornalistas da Imprensa Brasileira em 2025 em reconhecimento à sua trajetória no jornalismo investigativo e independente, com foco nas pautas sobre meio ambiente, povos tradicionais e nos direitos humanos na Amazônia.
Em sua fala, a jornalista ressaltou a invisibilidade dos profissionais da Região Norte em premiações nacionais, inclusive dos jornalistas indígenas. Ela chamou atenção para a criação de um prêmio com o recorte de etnia no jornalismo brasileiro, as dificuldades enfrentadas por profissionais especializados em meio ambiente e das mídias independentes para manter coberturas de interesse público, como a da COP 30, que será sediada em Belém (PA) em novembro.
“O trabalho que fazemos, contando essas histórias todos os dias, é caro também, como se faz numa grande emissora ou jornal. Então, olhem para o nosso trabalho de mídia independente investigativa, acompanhem nossa cobertura na COP 30 e saibam que muitos jornalistas especializados em meio ambiente não vão cobrir essa COP porque não têm recurso”, destacou.
Kátia Brasil lembrou ainda da importância de valorizar as pautas sobre a crise climática e a inclusão das vozes indígenas, quilombolas e ribeirinhas no debate na conferência do clima. “Estamos diante da cobertura de uma COP, uma conferência mundial que vai acontecer em Belém, mas a COP é de todos nós, porque a gente tem que aprender dentro de casa como preservar o meio ambiente, desde a água que a gente consome. A gente vai para a Amazônia e vê aquela diversidade de povos indígenas, culturas quilombolas, indígenas e ribeirinhos, e não percebe. Mas eles sofrem por qualquer coisa que a gente faça além do limite aqui em São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília. Já chegamos ao ponto de não retorno, já estamos no limite, porque sofremos muitas secas e enchentes”, disse emocionada.
Hors concours do jornalismo brasileiro


José Hamilton Ribeiro e Lúcio Flávio Pinto homenageados com o título de Hors Concours do Jornalismo Brasileiro (Fotos: Fábio Rinisc/Jornalistas&Cia e Paulo Santos/Amazônia Real/Acervo H).
Lúcio Flávio Pinto, jornalista e sociólogo paraense, recebeu uma homenagem especial como Hors Concours do Jornalismo Brasileiro, ao lado de José Hamilton Ribeiro. Desde 2016, é colunista da Amazônia Real. Considerado um dos maiores repórteres investigativos do País, Flávio Pinto é reconhecido pela trajetória combativa e pela dedicação em denunciar a exploração predatória da Amazônia e seus impactos sociais e ambientais.
Com 60 anos de carreira, aos 16 anos Lúcio Flávio Pinto trabalhou como repórter no jornal A Província, do Pará. Dois anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou por pouco tempo no Correio da Manhã. Depois foi para São Paulo, atuando em Diário de S. Paulo, Diário da Noite, Veja, IstoÉ, Jornal da República, Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo, onde consolidou sua carreira, atuando como repórter entre os anos de 1971 e 1989. Ao mesmo tempo, trabalhou na imprensa alternativa, nos jornais Opinião e Movimento. Formou-se em Sociologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973.
De volta a Belém, em 1975, editou o suplemento alternativo Bandeira 3, nos moldes do antológico Pasquim. Trabalhou em O Liberal, das Organizações Romulo Maiorana (ORM). Posteriormente, fundou o Jornal Pessoal, em 1987, o primeiro veículo independente do Pará.
Ausente da cerimônia, o jornalista enviou um texto que foi lido durante a homenagem. “Acho que estou aqui compartilhando essa homenagem pelo que fiz em 60 anos de jornalismo, dedicado sobretudo a um tema: a Amazônia. Tudo o que escrevi está aberto ao debate por uma motivação óbvia, a grandeza da região amazônica. Espero que essa lembrança do meu nome motive os mais jovens a empenharem o máximo da sua capacidade criativa, seguindo o conselho do filósofo britânico Bertrand Russell: de olho bem aberto no futuro. Caso contrário, o futuro não será capaz de manter, em seu significado global, essa fronteira de utopias que desafia as novas gerações”, diz um trecho da carta.
O racismo nas redações
Na cerimônia foram homenageados nas categorias regionais os jornalistas +Admirados: no Sul, Dulcinéia Novaes, da GRPCOM; no Nordeste, Demitri Túlio, de O Povo; e no Centro-Oeste, a vencedora foi Basília Rodrigues. Não houve vencedor no Sudeste por opção da organização do prêmio, uma vez que o grande campeão e a maioria dos TOP 20 +Admirados são da região.
Com 18 anos de profissão, a jornalista Basília Rodrigues, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Centro-Oeste), foi a responsável pelo discurso mais emocionante da noite falando sobre o racismo que existe nos veículos da grande imprensa e a falta de oportunidades e politicas afirmativas e inclusivas para os jornalistas negros e negras nas redações.
“Tenho certeza que estou aqui porque trabalhei e trabalho muito. Ser jornalista é bom, mas tem suas dificuldades. Enfrentar um ambiente racista e mentiroso, que limita ou tira suas oportunidades, é pior. Enfrentar um ambiente racista e mentiroso, que finge ser antirracista, que alimenta crises e se incomoda com a sua presença, é pior ainda. O Jornalismo tem desafios enormes, que não se resumem à inteligência artificial; há problemas antigos e estruturais que só poderão ser vencidos quando a consciência negra for de todos. Não adianta dizer que entende, mas seguir usando os negros de escada”, disse Basília Rorigues, que também foi homenageada como TOP 10 + Admirada na categoria Vídeo. (Leia abaixo os outros vencedores).
Valorizar a reportagem

O Prêmio +Admirados retorna em 2025 após dez anos de sua última edição, celebrando também os 30 anos do portal Jornalistas&Cia. Com quase 30 mil votantes em dois turnos de votação, número recorde desde sua criação, as indicações definiram a lista de TOP 100 +Admirados Jornalistas do Ano.
Neste ano, a organização promoveu mudanças para equilibrar a participação de jornalistas da televisão em relação às demais mídias, criando categorias distintas. Ao recebeu o maior prêmio da noite, Caco Barcellos, defendeu a importância da reportagem, que segundo ele, é um formato em extinção.
“Quero dedicar esta homenagem a meus queridos amigos que estiveram aqui comigo, como Juca Kfouri, Jorge Araújo, Chico Pinheiro, Carlos Tramontina, Paulo Pinto e Ricardo Kotscho. E quero dedicar também a todos os repórteres brasileiros. É preciso falar intensamente do gênero reportagem, que está em extinção e faz falta, devemos valorizar ainda mais o trabalho deles. Esse prêmio é para todos vocês, companheiros de rua. Pretendo continuar por muito mais tempo na rua, até o fim de minha carreira. Obrigado a todos os colegas jornalistas”, discursou.
Na categoria Vídeo, o vencedor foi César Tralli, da TV Globo, apresentador do Jornal Hoje e da GloboNews. Em segundo lugar ficou Elisa Veeck, da CNN Brasil, seguida por Aline Midlej, da GloboNews, em terceiro. Completam o TOP 10, pela ordem: Adriana Couto (TV Cultura), Adriana Araújo (Band), Andréia Sadi (GloboNews), Daniela Lima (UOL), Basília Rodrigues, Márcio Gomes (CNN Brasil) e Kelly Godoy (Record News).
Já na categoria Áudio/Texto, o primeiro lugar ficou com Ana Dubeaux, do Correio Braziliense. Jamil Chade, do UOL, conquistou a segunda posição, e Flávia Oliveira, do Grupo Globo, ficou em terceiro lugar. Também integram o TOP 10 Reinaldo Azevedo (UOL/Band), Carolina Ercolin (Rádio Eldorado), Cecília Oliveira (Intercept Brasil), Carla Bigatto (BandNews), Tereza Cruvinel (Brasil 247) e Luiza Vilela (Exame).
A cerimônia também homenageou a jornalista Verónica Goyzueta, correspondente da ABC (Espanha), eleita a +Admirada Correspondente Estrangeira no Brasil. Peruana radicada em São Paulo desde os anos 1990, ela já presidiu a Associação dos Correspondentes Estrangeiros e hoje atua como coordenadora de projetos da Agência Porvir, além de lecionar na ESPM.
“São 30 anos do Jornalistas&Cia e uma celebração dos 100 mais admirados jornalistas brasileiros. Essa jornada começou despretensiosamente em 1995, e cresceu amparada por essa incrível comunidade profissional e marcas que respeitam e se orgulham do seu relacionamento com jornalistas. Olhar para trás e constatar que conseguimos atravessar esses 30 anos com dignidade e com as contas pagas é motivo de alegria e permanente motivação para avançar, melhorar e inovar. São três décadas entrando pela porta da frente das redações e agências de comunicação”, disse Eduardo Ribeiro, diretor do Jornalistas&Cia.
Sobre o prêmio
Os 100 +Admirados Jornalistas da Imprensa Brasileira é uma iniciativa do Jornalistas&Cia retomada em 2025 dez anos após sua última edição, vencida pelo jornalista Ricardo Boechat, falecido em 2019. O projeto visa valorizar, reconhecer e incentivar o trabalho do jornalismo brasileiro. Entre os homenageados deste ano, 39 já estiveram entre os premiados das duas edições anteriores, sendo que 24 integram a lista pela terceira vez. Outros 15 estiveram presentes na edição de 2014.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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