A Suprema Corte da Índia encerrou em tempo recorde duas ações contra o Vantara, mega zoológico privado de Anant Ambani, um dos filhos do bilionário Mukesh Ambani, apontado como o mais rico da Ásia e dono do gigante da petroquímica Reliance Group.
Em apenas três audiências e com base num relatório entregue em apenas 18 dias, por um time de juízes aposentados, o centro foi absolvido de acusações que iam de receptação de animais traficados a maus-tratos. A Corte também proibiu novas contestações públicas, provendo imunidade inédita ao projeto.
“As petições que levaram à investigação eram frágeis e vagas, e o prazo dado pela Corte para apurar denúncias complexas indicava, desde o início, um desfecho pré-determinado: absolver o Vantara”, analisou Daniel Stiles, especialista em comércio ilegal de vida selvagem baseado em Nairóbi (Quênia).
A decisão indignou de juristas a ambientalistas, que apontam blindagem à poderosa família Ambani e riscos à conservação e de intimidação a vozes críticas globais. “Foi uma encenação de “greenwashing”, resumiu Stiles, referindo-se ao uso de discurso ambiental para mascarar práticas insustentáveis.
O especialista destacou que apenas um resumo do relatório foi divulgado, sem qualquer explicação sobre como se chegou às conclusões. Ao todo, 36 manifestações foram enviadas à equipe investigativa.
Uma delas partiu da brasileira Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS). O coordenador-geral da entidade, Dener Giovanini, reforçou que a decisão da Corte foi apressada e superficial, evidenciando falta de profundidade na análise.
“Um tema dessa complexidade exigiria mais tempo, transparência e diálogo com conservacionistas e cientistas”, afirmou, defendendo maior articulação internacional em prol da proteção das espécies ameaçadas.

Giovanini destacou ainda um ponto muito sensível para o Brasil: a situação da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Em fevereiro de 2023, 26 dessas aves foram repassadas ao zoológico indiano por um criador na Alemanha, a ACTP (sigla em Inglês da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados).
Segundo ele, exemplares da espécie – e sua prole no Exterior – foram retirados ilegalmente do Brasil e, sem permissões válidas, não deveria haver comércio nem transferência desses animais. “O governo brasileiro deve declarar soberania sobre esses indivíduos e implementar um programa efetivo de conservação”.
Questionado por ((o))eco, o ICMBio endossou um relatório do Secretariado da Cites que classificou como comercial a transação entre a ACTP e o zoo indiano, mas ressaltou que o Brasil deveria ter sido consultado antes da transferência. “Essa questão não foi analisada”, afirmou.
Segundo o órgão ambiental, as ararinhas deveriam integrar o Programa de Manejo Populacional da espécie, coordenado pelo Brasil, e não um projeto paralelo. “Programas desconexos prejudicam a conservação, sobretudo de espécies com populações muito reduzidas e dependentes de manejo”.
Como citado no relatório dos juízes aposentados à Corte indiana, representantes do Vantara procuraram o Governo Brasileiro para integrar o programa de conservação da ararinha-azul, mas conforme o ICMBio “as tratativas são iniciais e dependem de articulação com os ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores”.
Extinta na natureza no início dos anos 2000 – por tráfico e desmate na Caatinga – a ararinha-azul vem sendo reintroduzida: aves nascidas em cativeiro retornaram à natureza em Curaçá (Bahia), nasceram filhotes selvagens e novas aves vieram do Exterior para reforçar a população livre.

Arca de noé privada
A decisão da Suprema Corte indiana concedeu ao Vantara ainda mais abertura para tomar medidas legais contra qualquer pessoa que repetisse as acusações das quais foi inocentada. Nesse meio tempo, reportagens seguiram agravando o cenário de denúncias contra o megazoo.
Conforme veículos como Reuters e agência France Presse, o centro teria tentado obter o raríssimo papagaio-de-cauda-dourada da Austrália e recebeu um orangotango-de-tapanuli da Indonésia, ambos protegidos por leis nacionais e pela convenção Cites, que regula o comércio de espécies ameaçadas.
Conforme informações recentes, o megazoo em Jamnagar (Gujarat) já mantém mais de 150 mil animais distribuídos em mais de 2 mil espécies, do mundo todo.
Promovida como santuário de conservação, a instituição segue vista por críticos como um símbolo global de como o poder econômico e as conexões políticas supostamente fragilizam a proteção da biodiversidade – inclusive de espécies brasileiras.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
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