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ToggleCaçadores questionam a eficácia da política para controle do javali, espécie exótica e invasora. Eles defendem a descentralização de ações com base em supostas falhas em dados, ausência de estudos e falta de transparência. O tema esquenta com a revisão da política prevista para este ano.
Conforme Daniel Terra, presidente da Associação Nacional de Caça e Conservação, o Ibama se tornou um obstáculo ao controle do javali (Sus scrofa), uma responsabilidade que deveria ser transferida aos estados, que teriam mais capacidade de agir conforme as realidades regionais.
As conclusões do também fundador da entidade – que tem cerca de 4 mil afiliados no Brasil – são baseadas na análise de dados da autarquia obtidos pelo deputado federal Daniel Agrobom (PL/GO), que pediu esclarecimentos sobre impactos e ações de manejo da espécie exótica invasora.
“O Ibama não pode mais gerir o controle do javali. Ele atestou aqui que não tem condição. Está contaminado a um nível que não pode gerir a questão”, afirmou Terra.
No balanço, o órgão ambiental comenta que “há indícios de introdução intencional de javalis híbridos na natureza”, mas que “não possui dados sobre prisões [de pessoas] ou solturas ilegais” da espécie e nem apresentou estudos sobre suas populações no país.
“Nunca foi feito estudo populacional ou de dispersão. Como atribuir culpa ao caçador se não se tem nenhum estudo e ninguém foi preso soltando javali?”, indagou Terra.
Por sua vez, o Ibama comentou que a alegada contribuição da caça para a dispersão da espécie não tem respaldo técnico-científico, mas que também não pode ser descartada, diante da ausência de estudos populacionais detalhados. “Uma lacuna que o Ibama busca superar por meio da reestruturação dos sistemas de monitoramento e do diálogo com instituições estaduais e parceiros técnicos”.

Escalada de abates autodeclarados
Segundo o Ibama, quase 1,5 milhão de javalis foram abatidos de 2019 aos primeiros quatro meses deste ano, com base em dados autodeclarados por caçadores num sistema eletrônico. Diante disso, Daniel Terra estima que a soma de animais abatidos e nascimentos evitados ultrapasse 8 milhões no período.
Segundo o Ibama, os dados fornecidos pelos próprios usuários podem estar incompletos e não ter Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou a localização imprecisa dos imóveis. “Tais falhas comprometem a confiabilidade estatística das informações”, reconheceu o órgão.
Antes disso, desde 2013, os registros eram feitos por meio de formulários em papel, mas também sem validação. E ainda, mais da metade dos relatórios não informa o sexo ou a idade dos javalis abatidos. Ainda assim, Terra afirma que 65% dos animais caçados são adultos em idade reprodutiva, sendo 42% fêmeas.
Outra crítica do caçador é o fato desses dados não estarem publicamente abertos. Só foram obtidos com um pedido parlamentar. “Não existe transparência. Eles sentam em cima dos dados para evitar confrontação com a narrativa que é construída. Esses dados deveriam orientar a política pública para o controle do javali”, disse Terra.
As críticas de associações de caçadores ao atual modelo para controlar javalis, regrado desde 2013, ganharam força com sua esperada revisão este ano, como contou ((o))eco. Um ponto nevrálgico é a indicação de maior uso de armadilhas e menos de armas de fogo no manejo.
“Querem priorizar a armadilha, que corresponde a só 2% dos casos”, reclamou Terra. Além disso, ele afirma que o Ibama não fornecerá armadilhas e que nem há previsão de incentivos financeiros na política nacional. “O caçador é responsável por 98% do controle, mas não recebe incentivo nenhum”.

Espécie ameaçaria conservação
Conforme o relatório, o órgão ambiental não estudou os impactos dos javalis na biodiversidade, mas reportagens prévias de ((o))eco mostraram que eles competem com a fauna nativa, contribuem para o desequilíbrio ecológico e destroem o solo – algo mais danoso se perto de nascentes e cursos d’água.
O Ibama descreveu à reportagem que realiza ações contínuas de controle do javali em todo o país para proteger a biodiversidade e os ecossistemas nativos, incluindo espécies ameaçadas como queixadas e catetos.
“É importante ressaltar que, conforme a legislação vigente, a carne dos javalis abatidos não pode ser transportada nem comercializada. O objetivo do controle é exclusivamente ambiental, sendo vedada a caça com fins comerciais ou esportivos”, ressaltou.
Apesar das críticas à gestão federal, algumas unidades de conservação já agem contra a presença de javalis – com armadilhas e abates assistidos –, como a RPPN Alto Montana (MG), os parques nacionais do Itatiaia (RJ) e de São Joaquim (SC), e os parques estaduais catarinenses do Rio Canoas, Fritz Plaumann, das Araucárias e da Serra Furada.
Um exemplo vem de São Paulo, onde um diagnóstico da Fundação Florestal apontou javalis em 41 % das UCs estaduais. Algumas já adotaram planos para controlar a espécie. A infestação é mais grave em áreas como as estações ecológicas de Barreiro Rico, de Angatuba e de Santa Bárbara, e no Parque Estadual de Ilhabela.
Além dos danos ambientais, há outros danos significativos. Os prejuízos do javali à agropecuária listados pelo governo incluem doenças transmitidas a rebanhos – como febre aftosa, brucelose e tuberculose –, além de perdas agrícolas de até 40% em lavouras de milho e soja, podendo gerar prejuízos bilionários à cadeia produtiva.
Diante do avanço até agora imparável do javali no país, o Ibama afirma quje “permanece à disposição do Congresso Nacional, da sociedade civil e dos setores envolvidos para o diálogo técnico e a construção de soluções conjuntas no enfrentamento a essa ameaça ambiental”.
Acesse aqui a íntegra da nota remetida ao deputado federal Daniel Agrobom (PL/GO).
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site O Eco e são de total responsabilidade do autor.
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