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Abraji homenageará 21 ícones do jornalismo brasileiro

Abraji homenageará 21 ícones do jornalismo brasileiro

Sete mulheres jornalistas serão homenageadas: as cofundadoras da Amazônia Real Elaíze Farias e Kátia Brasil; Angelina Muniz; Dorrit Harazim; Elvira Lobato; Míriam Leitão e Fabiana Moraes. O jornalista Lúcio Flávio Pinto, pioneiro no jornalismo investigativo, também será homenageado no congresso, que acontecerá do dia 10 a 13 de julho, em São Paulo, e abordará temas como clima, violência de gênero, sustentabilidade nas mídias e o futuro da profissão.


Manaus (AM) – As jornalistas Elaíze Farias e Kátia Brasil, fundadoras da Amazônia Real, serão homenageadas junto com outros jornalistas durante a cerimônia dos 20 anos do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, marcada para o dia 10 de julho,  no campus Álvaro Alvim da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.

Dos 21 homenageados, sete são mulheres jornalistas, além de Elaíze e Kátia: Angelina Nunes, Dorrit Harazim, Elvira Lobato, Fabiana Moraes e Míriam Leitão. 

Os jornalistas homens são: Carlos Wagner, Caco Barcellos, Clóvis Rossi (in memoriam), Elio Gaspari,  Jânio de Freitas, Joel Silveira (in memorian), José Hamilton Ribeiro, Lúcio Flávio Pinto (colunista da Amazônia Real), Marcelo Beraba, Marcos Sá Corrêa, Paulo Totti (in memorian), Rosental Calmon Alves, Tim Lopes (in memoriam) e Zuenir Ventura. 

A cerimônia de homenagem irá reconhecer profissionais que são referência no jornalismo investigativo, na liberdade de imprensa e na defesa da democracia.  A mediação será feita pela jornalista Katia Brembatti, presidente da Abraji. Todos foram homenageados em edições anteriores do Congresso e serão novamente reconhecidos como pilares fundamentais da profissão. As jornalistas Elaíze Farias e Kátia Brasil foram homenageadas pela contribuição ao jornalismo em 2021, no 16º Congresso da Abraji.

Homenagem durante a pandemia: Alicia Lobato, Kátia Brasil, Elaíze Farias e Cecília Costa, na redação em Manaus (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).

De acordo com Katia Brembatti, a decisão de homenagear novamente profissionais que já haviam sido reconhecidos em edições anteriores do Congresso da Abraji parte da percepção de que é preciso valorizar bons exemplos, especialmente para as novas gerações. “Tem gente que foi homenageada no início dos anos 2000 que já saiu do radar das pessoas que estão na universidade nesse momento, por exemplo. E é importante que essas pessoas voltem ao radar”.

A presidente da Abraji destaca ainda que muitos dos homenageados seguem atuando no jornalismo e contribuindo para a profissão no dia a dia. “É o caso, obviamente, da Kátia Brasil e da Elaíze Farias, que são duas forças da natureza, grandes representantes da região Norte, que conseguem falar sobre a região com propriedade, como pessoas que sabem do que estão falando”, disse.

No contexto da região Norte, ela também citou a importância de Lúcio Flávio Pinto, jornalista paraense com atuação histórica, como um nome que precisa ser reverenciado por sua relevância no jornalismo brasileiro.

“Eu tenho certeza que, quando realizaram o primeiro congresso, ninguém imaginou que, 20 anos depois, a gente estaria fazendo um congresso desse tamanho, o maior evento de jornalismo do Brasil, com essa relevância e que teria contribuído da forma como contribuiu objetivamente na formação de tantos jornalistas. Então, é um momento reflexivo, mas também um momento de comemoração, momento da gente celebrar a força do jornalismo”, disse Kátia Brembatti.

Colunista ativo da Amazônia Real desde o ano de 2016, Lúcio Flávio Pinto é um dos maiores jornalistas brasileiros, atuando fora e dentro da Amazônia desde o ano de 1966, além de ser pioneiro no jornalismo investigativo e independente. Devido ao tratamento de saúde em Belo Horizonte, Lúcio não comparecerá à cerimônia de homenagem da Abraji. Mas, escreveu um texto para a jornalista Kátia Brasil, sobre o que é a essência do jornalismo investigativo. “Em quase 60 anos de profissão, aprendi que nada resiste a uma boa investigação dos fatos. Essa investigação pode ser realizada mesmo quando se quer pouco do jornalista, como numa visita à redação, que usualmente resulta em um burocrático texto-legenda, até seguir uma pista furtiva ao longo do tempo, até que os fatos sejam revelados. Um dia a verdade será revelada, desde que o repórter nunca desista”. O texto completo está no final desta reportagem.

Kátia Brasil se diz honrada por fazer parte do grupo de 21 jornalistas homenageados. “É uma honra, pois muitos dos homenageados são minhas inspirações. O Zuenir, sou fã desde a faculdade. O Beraba e a Elvira são minhas inspirações no JB (onde nunca trabalhei) e na Folha de S. Paulo (onde me dediquei por 13 anos). O Rosental inspirou a Amazônia Real seguir em frente nos primeiros meses de vida, quando ninguém acreditava. O Lúcio faz parte da nossa redação, não tem um dia que ele não escreva, o jornalismo está no sangue dele, é o que faz ele respirar, e é um prazer e aprendizado acompanhá-lo todos os dias. Só tenho a agradecer a Abraji e a equipe valorosa e corajosa da agência por chegarmos até aqui”, disse.

Para Elaíze Farias, a cerimônia deste ano será muito especial, pois ela e Kátia Brasil terão a oportunidade de dividir a homenagem com outros jornalistas que ela admira e respeita. 

“Em 2021, por causa da pandemia da Covid-19, foi online e o ambiente de partilha foi comprometido. Novamente aceito essa homenagem com gratidão, humildade e esperança pelo jornalismo corajoso. Sempre gosto de dividir este tipo de reconhecimento com outros colegas, sobretudo com a brava e combativa equipe da Amazônia Real, mesmo com tantos desafios, sobressaltos e perigos”, disse.

Documentário ancestral

A Abraji lançará ainda o documentário “Duas décadas de reconhecimento ao papel do jornalismo”, dirigido e montado por Diego de Godoy, roteirizado por Jota Carmo, com produção de Elvira Lobato e Maiá Menezes e colaboração da jornalista Gabi Coelho. O documentário reúne depoimentos de 21 jornalistas consagrados, já homenageados ao longo dos anos no Congresso 

Entre os relatos, estão histórias icônicas de figuras como José Hamilton Ribeiro, primeiro homenageado na história do congresso, que compartilha memórias da cobertura da Guerra do Vietnã. 

Para Maiá Menezes, jornalista e uma das produtoras do filme, a proposta vai além de uma simples homenagem.  “É uma homenagem aos nossos ancestrais, digamos assim, no jornalismo, mas mais do que isso, é um encontro desse passado com o presente e com o futuro”, afirma. Ela reforça que a intenção é não apenas celebrar, mas também criar pontes entre gerações. “Não dá para fraturar a história. As lutas mudaram de perfil, mas outras seguem as mesmas, como a questão da igualdade e dos direitos humanos”.

Jornalista Elvira lobato durante atividade em Manaus (Foto: Alberto César Araújo/ Amazônia Real).

A ideia do documentário foi concebida por Elvira Lobato. Segundo Maiá, surgiu a partir de um convite para criar um espaço no portal da Abraji onde os homenageados que ainda não haviam sido devidamente perfilados, tivessem suas histórias registradas para acesso dos jornalistas de hoje e dos que virão. Ela destaca que “mais do que saudar o passado, e saudamos bastante, é lembrar que esse passado nasceu de uma dor imensa, que foi a perda do jornalista Tim Lopes, um repórter vindo da periferia e que continua sendo um símbolo do que a gente quis para o jornalismo no passado e do que a gente vai continuar querendo para o futuro”.

Maiá enfatiza que o documentário também olha para os desafios atuais da profissão. “A gente precisa conciliar essa história bonita, marcada por conquistas e também por muita dor, com o que temos para viver daqui pra frente. Nunca foi fácil ser jornalista, mas eu não conheço ninguém que faça isso sem amar”, disse.

O documentário será exibido no Teatro da ESPM às 16h30, integrado à Cerimônia de Homenageados, marcando o início das comemorações dos 20 anos do Congresso e inaugurando também o site interativo com conteúdos sobre os homenageados .

Jovens da Amazônia Real 

O 20° Congresso da Abraji reunirá mais de 150 atividades ao longo de quatro dias, incluindo painéis, oficinas, palestras e sessões de treinamento com jornalistas, pesquisadores e especialistas de todo o Brasil e de países como Estados Unidos, Quênia, Reino Unido e Moçambique.

A agência Amazônia Real participa também da 20ª edição do Congresso da Abraji com a presença de jovens profissionais de sua equipe em debates sobre reportagens premiadas, cobertura sobre clima, gênero e a comunicação feita a partir da Amazônia.

A jornalista Nicoly Ambrosio, repórter da Amazônia Real em Manaus, participa da Sessão 2 da série “Excelência em Jornalismo”, apresentando sua reportagem “Carbono: vozes excluídas”, com fotos do fotojornalista e editor de imagens da agência, Alberto César Araújo. A reportagem faz parte de uma série da Amazônia Real, que aborda a exclusão de populações tradicionais, especialmente comunidades indígenas e ribeirinhas, no contexto de projetos de créditos de carbono na Amazônia. Essas comunidades relatam não terem sido consultadas ou envolvidas na elaboração de editais e acordos que afetam diretamente seus territórios. 

Jornalista Nicoly Ambrosio (Foto de Juliana Pesqueira/Amazônia Real)

“A investigação mostra como, mesmo em iniciativas que dizem ser voltadas ao combate à crise climática, há ausência de consulta e violação de direitos de povos tradicionais, como foi o caso das comunidades na RDS [Reserva de Desenvolvimento Sustentável] do Rio Negro, aqui no Amazonas. Acredito que seja um trabalho que conecta jornalismo investigativo e protagonismo amazônida, porque inverte a lógica e conta histórias a partir dos territórios, e não apenas nas redações do eixo Sul-Sudeste”, afirmou Nicoly.

A mesa, mediada pela jornalista Johanna Nublat, coordenadora editorial da Transparência Internacional – Brasil, também vai ter a apresentação de trabalhos dos jornalistas Fábio Bispo, repórter do InfoAmazônia, com a investigação “Até a última gota: os impactos da exploração de petróleo na Amazônia”; e Vinícius Sassini, correspondente da Folha de S. Paulo em Belém, com a série de reportagens “Mudanças climáticas na Amazônia”.

A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Abraji e a Transparência Internacional – Brasil para destacar as principais produções jornalísticas dos últimos 12 meses, com critérios que envolvem impacto local, inovação e relevância temática.

A jornalista Kátia Brasil será uma das participantes do painel “COP30: como transversalizar a cobertura climática nas redações?”, ao lado de Giovana Girardi, jornalista e chefe da cobertura socioambiental da Agência Pública, e Maristela Crispim, jornalista, fundadora e editora-chefe do Eco Nordeste. A mediação será feita por Daniela Chiaretti, repórter especial de ambiente do jornal Valor Econômico.

O painel pretende discutir como repórteres de diferentes editorias podem se preparar para cobrir a crise climática de forma estruturada e ética, antecipando os debates para a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro deste ano.

A jornalista Elaíze Farias será uma das palestrantes do painel “Como não cair na armadilha do greenwashing na cobertura climática”, junto com Cristiane Prizibisczki e Fred Santana, no dia 11 de julho.

Outros nomes da Amazônia também ganham espaço no evento. A jornalista Hellen Lirtêz, do Acre, colaboradora da Amazônia Real, será mediadora do painel “Como cobrir feminicídios sem clichês e sensacionalismo?”, ao lado das jornalistas Mariama Correia, editora da Agência Pública; e Raíssa França, fundadora da Eufêmea. O objetivo da mesa é discutir o impacto do viés policialesco nas coberturas de direitos humanos, sobretudo em casos de feminicídio e violência contra a mulher, para promover uma condução jornalística que não revitimize as mulheres que não estão aqui mais para se defender.

“Vamos ouvir a experiência das jornalistas, nos basear em alguns dados também e pensar em estratégias para que elas possam mudar um pouco esse cenário da cobertura de feminicídio, que culpabiliza e revitimiza as mulheres”, disse Hellen Lirtêz.

Também participam do Congresso como bolsistas convidados os jornalistas Rudja Santos, do Amapá, e Felipe Medeiros, de Roraima. Ambos são colaboradores da Amazônia Real que vêm se destacando na cobertura de temas ambientais e de direitos humanos na região amazônica. 

Para Felipe Medeiros, que participa do congresso pela quarta vez, a presença no evento simboliza um avanço importante no reconhecimento do jornalismo feito por quem vive na Amazônia.

“Sempre defendi que o jornalismo feito por quem vive, nasceu e mora na Amazônia tem um olhar diferenciado, um olhar que traz riquezas de detalhes. Isso enriquece qualquer material jornalístico”, afirma. 

Sustentabilidade das mídias

A programação de 2025 também se dedicará a refletir sobre os caminhos para garantir a sustentabilidade do jornalismo e aproximar os veículos de seus públicos. As discussões estarão organizadas em duas das 15 trilhas temáticas do evento: Audiência e Financiamento e Empreendedorismo.

A trilha Audiência estreia, no dia 10 de julho, com a oficina “Como promover engajamento usando grupos de WhatsApp”, ministrada por Joice Bento, jornalista do Voz das Comunidades. No dia 11, o debate “Preciso virar influencer para sobreviver no jornalismo?” contará com Jay Barchas-Lichtenstein (Centro de Notícias, Tecnologia e Informação), João Paulo Charleaux (jornalista e escritor) e Cecília Olliveira, jornalista do Intercept Brasil e diretora do Instituto Fogo Cruzado.

Já a trilha Financiamento e Empreendedorismo propõe reflexões práticas e realistas sobre como manter redações funcionando em tempos de crise. O painel “A filantropia pode ser um modelo sustentável para o jornalismo?”, no dia 11 de julho,  terá Daiane Dultra (Painá), Daiene Mendes (FAJ) e Sanara Santos (Énois). No mesmo espírito, a mesa “Qual o segredo das redações digitais para crescer e criar sustentabilidade?”, que acontece no dia 10 de julho, com Giácomo Degani (ICL Notícias), Marina Menezes (Nexo), Vitor Conceição (Meio) e mediação de Natalia Viana, da Agência Pública.

Nada resiste a boa investigação dos fatos

Lúcio Flávio Pinto (Foto: Paulo Santos/Acervo H)

Por Lúcio Flávio Pinto

“Entrei pela primeira vez numa redação de jornal para trabalhar em 6 de maio de 1966, quando eu tinha 16 anos. No dia anterior, meu ingresso no prédio do jornal A Província do Pará, no centro antigo de Belém, foi especulativo. Eu ia mesmo era à Livraria Martins, localizada no mesmo quarteirão, atrás de livros. Até então eu já acumulava experiência editando, imprimindo e distribuindo jornalzinho de clube de jovens e do colégio mimeografado. Todos eles amadores. Por que não tentar arriscar em uma publicação profissional?

Arrisquei e venci. O diretor de redação, Cláudio Augusto de Sá Leal, meu primeiro mestre, depois de uma conversa, me mandou voltar às 4 horas da tarde com um texto, qualquer um. Não fui à escola. Reuni livros e escrevi sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, com a rendição da Alemanha, que se comemorava. A matéria saiu na primeira página no dia seguinte, e fui contratado.

Cheguei para trabalhar armado com um caderno de espiral. Um futuro colega apontou o detalhe inusitado. Eu parecia um colegial. Os repórteres recorriam a folhas de papel, as laudas. Depois de usar as informações anotadas, jogavam fora o papel. Eu não ia repetir o que já considerada um desperdício histórico. Meus cadernos passaram a ser meus arquivos. Voltava a eles sempre. Consegui guardar 102 deles.

Iria continuar a sair da rotina. Embora o jornalismo da IV República fosse da maior qualidade, praticado por profissionais brilhantes, senhores de si, donos da verdade, entrei para a universidade para fazer o curso de sociologia política, que concluí em São Paulo, quando já era exigido dos jornalistas formação acadêmica em jornalismo e comunicação social. Um instrumento de coerção e controle pelo governo militar, visto como reserva de valor para os jovens com diploma.

Eu também concordava que jornalismo não se aprende, ao menos não principalmente, na escola. Nela, aprendi a pensar e escrever com método, capaz de praticar o verdadeiro jornalismo científico, que não consiste em escrever sobre ciência, mas utilizá-la como reserva de mercado.

Em quase 60 anos de profissão, aprendi que nada resiste a uma boa investigação dos fatos. Essa investigação pode ser realizada mesmo quando se quer pouco do jornalista, como numa visita à redação, que usualmente resulta em um burocrático texto-legenda, até seguir uma pista furtiva ao longo do tempo, até que os fatos sejam revelados. Um dia a verdade será revelada, desde que o repórter nunca desista.”

Serviço

20º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji
Data: 10 a 13 de julho de 2025
Local: ESPM – Campus Álvaro Alvim, Rua Dr. Álvaro Alvim, 123 – Vila Mariana, São Paulo (SP)
Formato: Híbrido (atividades presenciais, transmissão ao vivo e conteúdos gravados)
Confira a programação completa e como fazer inscrições: congresso.abraji.org.br

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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