No último sábado, Lorival Kulina teria saído para caçar pela manhã e não retornou, segundo informações de seu sobrinho. Na foto acima, imagem da Base Etnoambiental da Funai no rio Curuçá, na TI Vale do Javari (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)
Por Leanderson Lima e Elaíze Farias, da Amazônia Real
Manaus (AM) – O líder indígena Lorival Kulina, de 42 anos, da aldeia Bela Vista, está desaparecido desde sábado (14) na região do rio Curuçá, na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. Lorival integra o grupo de vigilância EVU, vinculado à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Segundo Walclei Kulina, sobrinho de Lorival, ele saiu pela manhã, após o café, e não retornou.
“Ele não estava na aldeia, estava na fiscalização da equipe da EVU. Ele trabalha na EVU. Não sei se saiu para caçar ou para dar uma volta. Mas ele não retornou. Estamos muito preocupados. Os parentes estão se mobilizando, mas até agora nada. Ele é meu tio”, revela Walclei Kulina à Amazônia Real.
Segundo Walclei, Lorival desapareceu em uma área próxima do igarapé Esperança, entre as aldeias Pedro Lopes e Nuntewa, do povo Kulina A região, segundo Walcley, é uma área de “livre acesso”, com presença de pescadores e caçadores que entram de forma irregular na terra indígena. O indígena mora na aldeia Bela Vista.
“No rio Curuçá, a gente mora no lado brasileiro, na terra indígena. Então tem muito pescador lá, tem muito invasor, de toda a cidade de Tabatinga, Atalaia do Norte e Benjamim Constant. Todos os invasores andam por essa área. É um pouco perigoso onde eles fazem a vigilância”, revela. As três cidades mencionadas por Walcley ficam na tríplice fronteira do Brasil, Peru e Colômbia.
Walclei é presidente da Associação do Povo Kulina do Vale do Javari. Ele diz que não descarta nenhuma possibilidade para a causa do desaparecimento.
“Nessa hora a gente pensa tudo. A gente pensa que a cobra pode ter pegado ele, ou a onça pode ter comido ele, ou também a gente pensa dos invasores terem pego ele por aí, na mata. Tudo isso a gente pensa que pode acontecer com o parente. A gente tem o exemplo do Bruno [Pereira, indigenista assassinado ao lado do jornalista britânico Dom Phillips, em 2022, no Vale do Javari], então todo cuidado é pouco. Estamos pensando em tudo. Não sabemos o que aconteceu com ele”, diz o indígena Kulina.
O povo Kulina é de recente-contato. Tem uma população pequena, de apenas 300 pessoas. Eles moram em três aldeias na região do rio Curuçá – Pedro Lopes, Nuntewa e Bela Vista. Segundo Walclei, a área tem muitos pescadores invasores.
“Nossa região é muito complicada. Tem muito trânsito de pescadores. Eles sobem com caixa de gelo, sal, cartucho. Entram escondidos. Muitas das vezes o parente é muito ameaçado. É muita invasão. O cacique Raimundo, da mesma aldeia, foi ameaçado pelos pescadores há algumas semanas”, explicou.
Walclei contou que os próprios indígenas estão mobilizados em encontrar Lorival. Segundo ele, há também trabalho do Exército e da Força Nacional, mas ele não soube dar detalhes sobre essa possível operação de busca. Ele não soube dizer se a Polícia Federal foi comunicada.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) confirmou o desaparecimento de Lorival Kulina, e disse que foram encontrados alguns de seus rastros, porém, há dificuldades nas buscas por conta das chuvas na região. Ainda segundo a Univaja, os rastros deixados não dão sinais de que algo grave tenha acontecido com o indígena. A Univaja confirmou que o Exército Brasileiro, a Força Nacional e Funai, atuam nas buscas.
Procurada, a Funai informou que acompanha o caso do desaparecimento do indígena como prioridade. “Desde que tomou conhecimento do caso, a Funai comunicou imediatamente o desaparecimento ao Exército Brasileiro, solicitando apoio para buscas na região. A Funai, em parceria com o Exército, está fornecendo suporte logístico às operações de busca, incluindo a disponibilização de embarcações e recursos para deslocamento”, diz a nota.
O órgão diz que “equipes da Funai, Exército Brasileiro, Força Nacional e outras entidades estão atualmente no terreno realizando buscas intensivas no médio rio Curuçá, área de difícil acesso, com o objetivo de localizar o Sr. Lorival Kulina o mais rapidamente possível.”
“A Coordenação Regional da Funai do Vale do Javari aguarda, ainda, um posicionamento da Prefeitura e da Defesa Civil do município de Atalaia do Norte para intensificar os esforços conjuntos na localização do indígena”.
Morte de Bruno e Dom
Bruno e Dom foram mortos nas proximidades da Terra Indígena Vale do Javari, em Atalaia do Norte (a 1.136 quilômetros de Manaus). Na região fica a segunda maior a Terra Indígena (TI) do Brasil, atrás apenas da TI Yanomami, em Roraima e Amazonas. Na região, vivem mais de 6.317 indígenas de sete povos contatados (Kanamari, Kulina, Marubo, Matís, Matsés e Tsohom-Dyapá, este de recente contato, e um grupo de Korubo) e ao menos 16 referências a grupos isolados e não contatados. Outro grupo de indígenas Korubo permanece em isolamento voluntário.
A Justiça Federal do Amazonas tornou réus, no último dia 10 de junho, mais cinco homens acusados de participar do duplo assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, ocorrido em 5 de junho de 2022. Francisco Conceição de Freitas, Eliclei Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas Oliveira, Otávio da Costa de Oliveira e Edivaldo da Costa de Oliveira vão responder pela ocultação dos cadáveres do indigenista brasileiro e do jornalista britânico. Os quatro últimos também responderão por corrupção de menor, por terem obrigado um adolescente a participar do crime.
Os réus aguardam o julgamento em liberdade, ao contrário de Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, e Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”, os primeiros acusados pelo duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver e que estão presos em penitenciárias federais de segurança máxima. “Pelado” e Jefferson são réus confessos. O inquérito do caso Bruno e Dom foi concluído pela Polícia Federal (PF) em novembro, e apontou Rubem Dário da Silva Villar, o “Colômbia”, como mandante do crime.
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