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Refeições e rebeldia: os vestígios do colapso de governo mesopotâmico há 5 mil anos

Refeições e rebeldia: os vestígios do colapso de governo mesopotâmico há 5 mil anos

No coração do atual Curdistão iraquiano, as ruínas de um assentamento de 5 mil anos guardam uma intrigante sobre poder, organização social e resistência. Escavações em Shakhi Kora, conduzidas por uma equipe internacional de arqueólogos, trouxeram à luz dezenas de tigelas de barro que eram usadas para servir refeições comunitárias, um sistema aparentemente simples, mas que, segundo os pesquisadores, sustentava um dos primeiros experimentos de governo centralizado da humanidade. 

Este modelo, baseado na troca de trabalho por comida, floresceu, mas acabou sendo rejeitado, marcando o colapso de um dos primeiros estados conhecidos na história.

Controle econômico e social

Pesquisadores acharam muitas tigelas em Shakhi Kora. (Fonte: University of Glasgow / Divulgação)

As tigelas encontradas no local, conhecidas como tigelas de borda chanfrada, são testemunhas silenciosas de uma prática que misturava pragmatismo econômico e controle social. Análises revelaram que muitas delas continham vestígios de ensopados de carne, provavelmente feitos de carneiros e cabras criados na região. 

Essas refeições não eram apenas uma questão de sustento; elas simbolizavam a força de um sistema que conectava famílias institucionais a trabalhadores temporários, alimentando uma rede de colaboração que era, de certa forma, a essência desse governo.

A influência da antiga cidade de Uruk, situada a cerca de 355 quilômetros ao sul, também foi detectada em Shakhi Kora. Fragmentos de cerâmica e estilos arquitetônicos apontam para uma progressão das tradições locais para práticas associadas a essa grande cidade mesopotâmica, reconhecida como uma das primeiras da história. 

Durante o chamado “período Uruk”, surgiram inovações como a escrita e a urbanização, que moldaram a civilização suméria. Shakhi Kora, ao que tudo indica, foi um reflexo dessa influência, uma peça periférica de um quebra-cabeça maior.

Anarquismo?

Chapéus? Não, são tigelas chanfradas descobertas em sítio iraquiano. (Fonte: Cláudia Glatz et al.  / Divulgação)
Chapéus? Não, são tigelas chanfradas descobertas em sítio iraquiano. (Fonte: Cláudia Glatz et al. / Divulgação)

Porém, o que torna Shakhi Kora fascinante não é apenas o seu papel como centro administrativo e comunitário, mas o fato de que, por volta do final do quarto milênio a.C., o assentamento foi abandonado. Sem sinais de guerra ou de mudanças climáticas catastróficas, os arqueólogos acreditam que a população local simplesmente escolheu se desvincular do modelo de autoridade centralizada. 

As evidências sugerem que as pessoas retornaram a um estilo de vida mais familiar e independente, rejeitando hierarquias e estruturas de controle que, para elas, já não faziam sentido.

Essa decisão coletiva de resistir à centralização do poder desafia a noção de que sociedades complexas evoluíram de forma linear em direção à urbanização e ao governo hierárquico. Claudia Glatz, líder da pesquisa, observa que formas centralizadas de governo não eram um caminho inevitável para a organização social. Em vez disso, as comunidades locais encontravam maneiras de resistir, adaptando-se às suas necessidades e realidades.

Shakhi Kora, portanto, é mais do que um sítio arqueológico. É um lembrete de que o curso da história é moldado não apenas por avanços e conquistas, mas também pelas escolhas humanas — incluindo a escolha de dizer “não” a sistemas que já não servem ao bem coletivo. Em suas tigelas de barro e estruturas abandonadas, esse antigo assentamento mesopotâmico nos conta uma história de inovação, cooperação e, por fim, de uma rejeição que ressoou por milênios.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Mega Curioso e são de total responsabilidade do autor.
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