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Fogo na Amazônia: impactos ambientais e sociais: 3 - Fogo e mudanças climáticas

Fogo na Amazônia: impactos ambientais e sociais: 3 – Fogo e mudanças climáticas


Emissões do desmatamento

O desmatamento amazônico emite gases de efeito estufa, uma parte dos quais são produzidos pelo fogo quando as áreas desmatadas são queimadas. Isto emite CO2, e, também, emite CO, CH4 e fuligem (carbono preto), e estoque uma parte do carbono em carvão vegetal no solo, todos com implicações para mudanças climáticas [1, 2]. As quantidades de madeira consumida pelo fogo e a quantidade de carvão produzido variam bastante, dependendo da composição diamêtrica das árvores (as árvores mais finas queimam mais), o grau de secagem da madeira, e outros fatores [3-8], assim afetando o impacto climático do fogo. A percentagem da madeira que queima determina, também, a percentagem que não queima. A madeira restante após o fogo pode ser queimada subsequentemente quando a pastagem é queimada para a sua manutenção, ou pode decompor, assim também emitindo CO2, e, por meio de cupins, CH4 [9].

Emissões dos incêndios florestais

Incêndios florestais emitem CO2, gases traços como CH4, e fuligem. As emissões variam bastante, dependendo especialmente das condições climáticas e o efeito de perturbações como incêndios anteriores, efeitos de borda ou exploração madeireira [10-15]. A emissão total é grande, chegando a ser equivalente à emissão do desmatamento que deixou de ser lançada na atmosfera durante o declínio nas taxas de desmatamento que ocorreu entre 2004 e 2012 [16].

Fogo em savanas e pastagens

Savanas amazônicas, tais como o “lavrado” de Roraima, são sujeitos a fogo natural, e a fogo antropogênico. Fogos antropogênicos têm ocorridos há séculos por ações de povos indígenas, mas a frequência destes eventos tem aumentado enormemente em anos recentes, especialmente onde há acesso por estrada [17]. O aumento da frequência de fogo reduz o componente arbóreo das savanas, prejudicando a estocagem de carbono[18].A queima de graminhas, seja em savanas naturais ou em pastagem plantadas, libera CO2 e gases traço. A mesma quantidade de CO2 que é emitida e depois reabsorvida quando a graminha cresce de novo, assim eliminando quase todo o impacto deste componente, mas os gases traço como CH4 não entram no processo de fotossíntese e acumulam na atmosfera, assim contribuindo para o efeito estufa [1].

Impacto do clima sobre o fogo

Muita pesquisa tem sido feita sobre a relação de parâmetros climáticos e a ocorrência e severidade do fogo na Amazônia. Clima mais quente e seco facilita incêndios, seja devido a mudança climática global, por exemplo por meio de secas provocadas por El Niño ou outros fenômenos, ou pelas mudanças de microclima provocadas por efeitos de borda ou abertura da copa por exploração madeireira. A associação entre grandes secas e incêndios catastróficos, assim como com aumentos de queimadas em áreas já desmatadas, é evidente [19-28]. As projeções climáticas para o futuro incluem aumento de secas com condições sem precedentes [29], além de continuação do aumento da duração da época seca [30]. Estas mudanças implicam em muito mais incêndios florestais [31-33]. [34]


A imagem que abre este artigo mostra queimada em desmatamento recente na Gleba Abelhas, uma floresta pública não destinada federal localizada no município de Canutama, Amazonas (Foto: Marizilda Cruppe/ Greenpeace/ Agosto de 2023).


Notas

[1] Fearnside, P.M. 2000.  Global warming and tropical land-use change: Greenhouse gas emissions from biomass burning, decomposition and soils in forest conversion, shifting cultivation and secondary vegetation. Climatic Change 46(1-2): 115-158.

[2] Fearnside, P.M. 2002. Fogo e emissão de gases de efeito estufa dos ecossistemas florestais da Amazônia brasileira. Estudos Avançados 16(44): 99-123.

[3] Fearnside, P.M., Leal Filho, N. & Rodrigues, F.J.A. 1993. Rainforest burning and the global carbon budget: Biomass, combustion efficiency and charcoal formation in the Brazilian Amazon. Journal of Geophysical Research (Atmospheres) 98(D9): 16,733-16,743.

[4] Fearnside, P.M. Graça, P.M.L.A., Leal Filho, N., Rodrigues, F.J.A. & Robinson, J.M. 1999. Tropical forest burning in Brazilian Amazonia: Measurements of biomass loading, burning efficiency and charcoal formation at Altamira, Pará. Forest Ecology and Management 123(1): 65-79.

[5] Fearnside, P.M., Graça, P.M.L.A. & Rodrigues, F.J.A. 2001. Burning of Amazonian rainforests: burning efficiency and charcoal formation in forest cleared for cattle pasture near Manaus, Brazil. Forest Ecology and Management 146(1-3): 115-128.

[6] Fearnside, P.M., Barbosa, R.I. & Graça, P.M.L.A. 2007. Burning of secondary forest in Amazonia: Biomass, burning efficiency and charcoal formation during land preparation for agriculture in Apiaú, Roraima, Brazil. Forest Ecology and Management 242(2-3): 678-687.

[7] Graça, P.M.L.A., Fearnside, P.M. & Cerri, C.C.1999.  Burning of Amazonian forest in Ariquemes, Rondônia, Brazil: Biomass, charcoal formation and burning efficiency. Forest Ecology and Management 120(1-3): 179-191.

[8] Righi, C.A., Graça, P.M.L.A., Cerri, C.C., Feigl, B.J. & Fearnside, P.M. 2009. Biomass burning in Brazil’s Amazonian “Arc of Deforestation”: Burning efficiency and charcoal formation in a fire after mechanized clearing at Feliz Natal, Mato Grosso. Forest Ecology and Management 258: 2535–2546.

[9] Martius, C., Fearnside, P.M., Bandeira, A.G. & Wassmann, R. 1996. Deforestation and methane release from termites in Amazonia. Chemosphere 33(3): 517-536.

[10] Barbosa, R.I. & Fearnside, P.M. 1999. Incêndios na Amazônia brasileira: Estimativa da emissão de gases do efeito estufa pela queima de diferentes ecossistemas de Roraima na passagem do evento “El Niño” (1997/98). Acta Amazonica 29(4): 513-534.

[11] Vasconcelos, S.S., Fearnside, P.M., Graça, P.M.L.A., Nogueira, E.M., de Oliveira, L.C. & Figueiredo, E.O. 2013. Forest fires in southwestern Brazilian Amazonia: Estimates of area and potential carbon emissions. Forest Ecology and Management 291: 199-208.

[12] Xaud, H.A.M., Martins, F.S.R.V. & dos Santos, J.R. 2013. Tropical forest degradation by mega-fires in the northern Brazilian Amazon. Forest Ecology and Management 294: 97–106.

[13] Brando, P.M., Balch, J.K., Nepstad, D.C. et al. 2014. Abrupt increases in Amazonian tree mortality due to drought–fire interactions. Proceedings of the National Academy of Science of the USA 111: 6347–6352.

[14] da Silva, S.S., de Oliveira, I.S., Anderson, L.O. et al. 2019. Incêndios florestais e queimadas na Amazônia sul ocidental. Mapiense 3: 27-35.

[15] Pontes-Lopes, A., Dalagnol. R., Dutra, A.C. et al. 2022. Quantifying post-fire changes in the aboveground biomass of an Amazonian Forest based on field and remote sensing data. Remote Sensing 14(7): art. 1545.

[16] Aragão, L.E.O.C., Anderson, L.O., Fonseca, et al. 2018. 21st Century drought-related fires counteract the decline of Amazon deforestation carbon emissions. Nature Communications 9: art. 536.

[17] Barbosa, R.I. & Fearnside, P.M. 2005. Fire frequency and area burned in the Roraima savannas of Brazilian Amazonia. Forest Ecology and Management 204 (2-3): 371-384.

[18] Barbosa, R.I. & Fearnside, P.M. 2005. Above-ground biomass and the fate of carbon after burning in the savannas of Roraima, Brazilian Amazonia. Forest Ecology and Management 216(1-3): 295-316.

[19] Nepstad, D.C., Lefebvre, P.A. & Silva, U.L. 2004. Amazon drought and its implications for forest flammability and tree growth: A basin-wide analysis. Global Change Biology 10(5): 704–717.

[20] Alencar, A.C., Nepstad, D. & Diaz, M.C.V. 2006. Forest understory fire in the Brazilian Amazon in ENO and non-ENSO years: area burned and committed carbon emissions. Earth Interactions 10(6): art. 6.

[21] Aragão, L.E.O.C., Malhi, Y., Roman-Cuesta, R.M., Saatchi, S., Anderson, L.O. & Shimabukuro, Y.E. 2007. Spatial patterns and fire response of recent Amazonian droughts. Geophysical Research. Letters 34: art. L07701.

[22] Aragão, L.E.O.C., Malhi, Y., Barbier, N., Lima, A., Shimabukuro, Y., Anderson, L. & Saatchi, S. 2008. Interactions between rainfall, deforestation and fires during recent years in the Brazilian Amazonia. Philosophical Transactions of the Royal Society B, Biological Sciences 363: 1779–1785.

[23] Vasconcelos, S.S., Fearnside, P.M., Graça, P.M.L.A., Dias, D.V. & Correia, F.W.S. 2013. Variability of vegetation fires with rain and deforestation in Brazil´s state of Amazonas. Remote Sensing of Environment 136: 199-209.

[24] da Silva, S.S., Fearnside, P.M., Graça, P.M.L.A., Brown, I.F., Alencar, A. & de Melo, A.W.F.. 2018. Dynamics of forest fires in the southwestern Amazon. Forest Ecology and Management 424: 312–322.

[25] da Silva, S.S., de Oliveira, I.S., Morello, T.F. et al. 2021. Burning in southwestern Brazilian Amazonia, 2016-2019. Journal of Environmental Management 286: art. 112189.

[26] Fonseca, M.G., Anderson, L.O. & Arai, E. 2017. Climatic and anthropogenic drivers of northern Amazon fires during the 2015-2016 El Niño event. Ecological Applications 27: 2514–2527.

[27] Silva Junior, C.H.L., Anderson, L.O., Silva A.L. et al. 2019. Fire responses to the 2010 and 2015/2016 Amazonian droughts. Frontiers in Earth Science 7: art.97.

[28] Silveira, M.V.F., Petri, C.A., Broggio, I.S. et al. 2020. Drivers of fire anomalies in the Brazilian Amazon: Lessons learned from the 2019 fire crisis. Land 9(12): art. 516.

[29] Kay, G., Dunstone, N.J., Smith, D.M., Betts, R.A., Cunningham, C. & Scaife, A.A. 2022. Assessing the chance of unprecedented dry conditions over North Brazil during El Niño events. Environmental Research Letters 17: art. 064016.

[30] Butt, N., de Oliveira, P.A. & Costa, M.H. 2011. Evidence that deforestation affects the onset of the rainy season in Rondonia, Brazil. Journal of Geophysical Research 116: art. D11120.

[31] Cochrane, M.A. & Barber, C.P. 2009. Climate change, human land use and future fires in the Amazon. Global Change Biology 15: 601–612.

[32] Silvestrini, R., Soares-Filho, B., Nepstad, D., Coe, M., Rodrigues, H. & Martins, A. 2011. Simulating fire regimes in the Amazon in response to climate change and deforestation. Ecological Applications 21(5):1573-1590.

[33] Burton, C., Kelley, D.I., Jones, C.D., Betts, R.A., Cardoso, M. & Anderson, L. 2021. South American fire and their impacts on ecosystems increase with continued emissions. Climate Resilience and. Sustainability 1: art. E8.

[34] Este texto é uma atualização de: Fearnside, P.M. 2022. Fogo na Amazônia: Impactos ambientais e sociais. p. 479-485. In: C.W.N. Moura & G.H. Shimizu (eds.) Botânica: Para Que e Para Quem?: Desafios, Avanços e Perspectivas na Sociedade Contemporânea. Sociedade Botânica do , Brasília, DF. 517 p.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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