Mesmo enfrentando o segundo ano consecutivo de cenário de seca severa na Amazônia, o desmatamento no bioma continua caindo. O acumulado de alertas, medido pelo sistema Deter-B do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foi o menor da série histórica do órgão, iniciada em 2016. Segundo dados divulgados nesta quarta-feira (7) pelo Instituto, entre agosto de 2023 e julho de 2024, foram gerados alertas de desmatamento para 4.315 km² de floresta amazônica, contra 7.952 km² do mesmo período do ano anterior.
O calendário do desmatamento, como é conhecido o período que vai entre 1º de agosto de um ano até 31 de julho do ano seguinte, foi estabelecido de acordo com o período seco na Amazônia, quando se registra o aumento da atividade de desmatamento devido ao clima propício para o uso de tratores e correntões, maquinário capaz de derrubar hectares de mata em poucos dias.
Mesmo não sendo a taxa oficial de desmatamento do país, que é medido pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), cuja taxa prévia sai em novembro, o Deter indica a tendência registrada na floresta tropical no ano. A queda nos números de alertas, portanto, indica a provável queda também na taxa oficial.
O governo espera isso, mesmo com um aumento pontual do desmatamento registrado em julho. “Vários fatores explicam isso [o aumento do desmatamento no último mês]. A própria linha tendencial explica que no mês de julho, no final do período [do calendário que vai de 1 de agosto a 31 de julho], é um período de aceleração do desmatamento. Segundo que esse ano nós temos questões atípicas: temos uma seca muito intensa na Amazônia. Temos o período eleitoral, que via de regra, cria algumas dificuldades nos processos de controle do desmatamento por estímulo à ocupação em muitas áreas. Temos ainda o problema de que houve uma redução muito alta em julho do ano passado, uma redução muito grande, o número ficou muito abaixo da tendência histórica, portanto ele variou um pouco pra cima, e também tem a greve do Ibama que tem algumas consequências. Então há um conjunto de fatores que acaba explicando porque tivemos um pequeno aumento”, explicou o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, que atribuiu à 5ª fase do PPCDAM a queda acentuada do desmatamento na série anual.
Pará, com 1.680 km² desmatados, lidera o ranking de destruição da floresta. O estado sediará no próximo ano a 30ª Conferência do Clima da ONU, a COP 30. Mato Grosso, Amazonas e Rondônia ocupam o segundo, terceiro e quarto lugar, com 939 km², 790 km² e 298 km², respectivamente. Os mesmos estados, no entanto, diminuíram a voracidade da destruição de suas florestas em relação ao período de 2023, segundo dados do INPE.
Rondônia diminuiu 63% o número de alertas, em relação ao mesmo período do ano passado. Amazonas, Mato Grosso e Pará tiveram reduções de 58,1%, 51,9% e 47,7%, respectivamente.
Cautela
Diferentes organizações da sociedade civil se manifestaram positivamente sobre os números apresentados nesta quarta-feira pelo INPE. Elas analisam, no entendo, que a tendência de queda não se manterá se os sinais enviados pelo Congresso Nacional e o próprio governo se confirmarem.
O Observatório do Clima, por exemplo, chamou a atenção para o licenciamento da BR 319, no Amazonas, e o pacote com 25 projetos de lei e três emendas constitucionais do chamado Pacote de Destruição como ameaças ao controle de desmatamento.
“Muita gente em Brasília está olhando o dado do Inpe com a motosserra na mão”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Além da bancada ruralista, alguns ministros de Lula vêm se empenhando para arrasar o maior patrimônio dos brasileiros, aumentar o risco climático para toda a humanidade e, de quebra, queimar o filme do chefe com a comunidade internacional, que espera liderança do anfitrião da COP-30. A essa turma se juntou parte do STF, propondo rasgar os direitos dos povos indígenas assegurados pela Constituição em nome de uma ‘conciliação’ com quem quer saquear suas terras”, analisa.
Já o Greenpeace lembra que a Amazônia registra recorde de queimadas e deverá passar por uma seca sem precedentes, e que o cenário demandará muito trabalho.
“Apesar da boa notícia para o período, vemos que o desmatamento na Amazônia voltou a aumentar em julho, os primeiros meses de 2024 bateram um recorde de fogo no bioma. A situação dos próximos meses não traz otimismo, já que a Amazônia está em seu período de estiagem e deve passar por mais um episódio de seca extrema, a exemplo do ocorrido no ano passado. Ou seja, não é hora de baixar a guarda, governo federal e estaduais precisam intensificar os esforços de prevenção do fogo, redução do desmatamento, além de aumentar o rigor para punir criminosos ambientais”, comenta a coordenadora de Florestas do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti
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