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ToggleDe calça de trilha, bota impermeável e camisa manga longa, Julieta Jazmin Santamaria cruzou o estado do Rio de Janeiro e percorreu parte do território paulista. Há 101 dias, a jovem de 25 anos realiza a façanha de ser a primeira pessoa a percorrer os 4 mil quilômetros da trilha Caminho da Mata Atlântica, uma megatrilha que se estende por mais de 4 mil quilômetros, desde o Parque Estadual do Desengano, no Rio de Janeiro, até o Parque Nacional de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul.
A argentina já percorreu 1.135 quilômetros em três meses, ¼ do trajeto. A jornada de Julieta começou no extremo norte do Caminho, na cachoeira do Mocotó, no Parque Estadual do Desengano. O início dessa jornada o leitor pode acompanhar na primeira coluna sobre o assunto, publicada em ((o))eco em maio.
O Trecho Litoral Norte é o primeiro núcleo em terras paulistas para quem percorre a trilha no sentido Norte – Sul. Iniciando na praia de Camburi, o caminhante percorre uma bonita trilha até chegar ao Rio da Fazenda, onde barqueiros locais podem fazer a sua travessia, passando dali para a paradisíaca Praia da Fazenda, parte do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba. A trilha segue pelo litoral percorrendo várias praias, como Ubatumirim, Prumirim e outras, até chegar no centro da cidade de Ubatuba e pegar a Trilha das Sete Praias. Deste ponto, nossa caminhante se despede momentaneamente da costa e sobe até o Pico do Corcovado, passando antes na aldeia indígena Renascer.
A subida extenuante permite uma das vistas mais bonitas do litoral norte de São Paulo. A descida pelo Núcleo Santa Virgínia é menos íngreme e, depois do parque, uma estrada de terra por áreas rurais bem bonitas leva até outra sede do Parque Estadual da Serra do Mar, desta vez já no Núcleo Caraguatatuba. Descendo pela Trilha dos Tropeiros e pegando alguns centros urbanos, chegamos a São Sebastião, onde pegamos a balsa para dar a volta na Ilhabela. São diversas praias e podemos usufruir de uma troca muito rica com populações tradicionais de caiçaras.
Caminho da Mata Atlântica: Uma iniciativa de Restauração
O Caminho da Mata Atlântica é uma mega trilha que visa a restauração da Mata Atlântica por meio de quatro pilares principais: implantação da trilha, sensibilização da sociedade sobre a importância do bioma, fortalecimento da cadeia produtiva do turismo e da restauração florestal, e monitoramento da biodiversidade.
Redução e Fragmentação do Bioma
A Mata Atlântica, reduzida a cerca de 16% de sua extensão original, enfrenta pressões constantes devido ao adensamento populacional e à fragmentação de seus remanescentes florestais. O Caminho da Mata Atlântica surge como uma oportunidade para conectar grandes remanescentes e pequenos fragmentos, promovendo a restauração de corredores florestais essenciais para a fauna e flora. Atualmente o Caminho já vem restaurando 500 ha de Mata Atlântica no extremo norte da serra do mar.
Ao retornar ao continente, Julieta subiu a estrada da Petrobras em direção a Salesópolis, se despedindo do mar, que só voltará a encontrar na divisa com o Paraná. O traçado pelo Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Padre Dória permite uma bela visão do litoral quando chegamos à Pedra da Boracéia. Dali, através de trilhas e um pequeno trecho de barco, chegamos a Pedra do Sapo, em Biritiba Mirim, onde este trecho termina. Em breve falaremos do Planalto Paulista, próximo trecho do Caminho, acompanhando a jornada da Juli…
Antes de passar a palavra para ela, um agradecimento especial a toda equipe da Fundação Florestal, que deu um grande apoio a nossa caminhante nessa jornada, segundo Mario Mantovani, seu presidente: “Qualquer atividade que tiver com aventura responsável, com unidade de conservação para a sociedade ter acesso aos parques e usufruir dos parques seguindo suas diretrizes. Os parques não são do Estado, não são do governo, os parques são da sociedade. Essas iniciativas como a da Juli trazem para a realidade das pessoas no dia a dia. Essa história do parque pertencera sociedade.”
Incrível e empolgante ver também que a cada passo da Julieta mais forte fica a rede de apoio dos voluntários do Caminho por onde ela passa. Muito bonito ver esse time se fortalecendo e o Caminho acontecendo com muitas mãos e pés.
Diário de Bordo: Praias e Montanhas na chegada a São Paulo
Comecei a cruzar São Paulo por uma trilha puxada. Facão na mão, roupa apropriada e vamos que vamos… 16 horas para atravessar 8 km, junto com uma amiga. Mas chegando do outro lado tudo é vitória. Vale cada segundo. Cada dia estou mais segura do que estou fazendo essa caminhada porque me sinto muito feliz com cada trecho que consigo fazer. Com ajuda da Fundação Florestal e do PESM: gestores, vigilantes, monitores e até moradores, continuar foi tranquilo. Eles fizeram o caminho mais leve e muito mais divertido. Passei por uma aldeia indígena, conheci as praias lindas de Ubatuba, o pico do Corcovado, pelo qual me apaixonei, com o dia perfeito que peguei e a lua cheia. Cheguei em Ilhabela e me reencontrei com todos os meus amigos, comemorando 900 km. Foram muitas emoções, porque nesse lugar pensei em fazer o Caminho da Mata Aatântica e ter chegado lá foi muito importante. Senti uma felicidade muito grande e percebi o quanto cresci no caminho, o “sem noção” que foi quando saí e a quantidade de coisas que aprendi até agora.
Fiz a meia volta da ilha e continuei pela estrada da Petrobrás, em Caraguatatuba, chegando na sede do Guardião, onde fui juíza no Festival Gastronômico de Frutas Nativas e experimentei diversas comidas e doces de juçara e cambuci. Foi incrível e na companhia de alguns monitores fomos até a Pedra da Boracéia, onde cheguei a ver cinco estrelas cadentes. No dia seguinte, descemos, cruzamos de barco a represa Ribeirão dos Campos e continuei sentido Casa Grande pra sair no dia seguinte em direção à Pedra do Sapo, com sua vista incrível. A galera envolvida nesses trechos sempre faz a diferença. Eu não conseguiria fazer nada sem a ajuda deles. Com certeza ficaria muito mais difícil. Só gratidão, sou muito abençoada por ter conhecido a cada uma das pessoas que foram parte da minha caminhada até agora.
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