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ToggleÉ muito comum ouvir pessoas, principalmente ocidentais, criticando a obsessão coreana por um ideal de beleza inalcançável, fruto de uma estrutura calçada em ideias confucionistas seculares. Mas quando vemos uma onda de pessoas esvaziando prateleiras de farmácia em busca de um remédio feito para diabéticos apenas para se beneficiar dos efeitos colaterais que traz para a aparência, é possível perceber que todos estão no mesmo barco quando o assunto é padrão de beleza.
Conforme o relatório anual divulgado pela Novo Nordisk, empresa líder global de saúde dedicada a vencer a diabetes e outras doenças crônicas graves, disse que as vendas de Ozempic e Wegovy aumentaram 42% no primeiro trimestre de 2024, acumulando o equivalente a US$ 3,99 bilhões. A obsessão das pessoas pelo Ozempic, projetado para tratar diabetes tipo 2, requer prescrição médica, mas muitas pessoas estão usando em busca do emagrecimento e restrição de apetite que o medicamento proporciona.
Em 2022, cerca de 14,9 milhões de procedimentos estéticos foram feitos, sendo que, nada ironicamente, mais de 86% dos pacientes eram mulheres, conforme dados do Statista. O relatório Pesquisa Global anual sobre Procedimentos Estéticos/Cosméticos, da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), apontou que a lipoaspiração foi o procedimento mais comum em 2022, com mais de 2,3 milhões de casos.
Se 72% das mulheres são mais propensas a se exercitar visando perder peso e seguir uma dieta do que os homens, como aponta a pesquisa da Murphy Research, apresentada no relatório State of Our Health: Exploring Gender Differences in Food and Fitness, é porque existe uma cultura fixada na magreza feminina. Como escreveu Naomi Wolf em seu O Mito da Beleza: a dieta é o sedativo político mais potente da história das mulheres. E é por isso que as tendências estéticas estão cada vez mais em alta, inclusive os riscos. Descubra agora o lado obscuro e mortal da obsessão da sociedade por Ozempic.
Reféns da balança
Durante a cobertura do Oscar 2024, para o tipo de mídia sensacionalista focada na vida das celebridades, o que mais aguardavam não era descobrir qual filme levaria a categoria máxima da noite, mas qual estrela do cinema hollywoodiano poderia ou não ter usado Ozempic para perder peso.
Os paparazzi e repórteres esperavam identificar o denominado “rosto de Ozempic”, o efeito de quem emagrece rápido demais, causando a perda da elasticidade no rosto, e normalmente responsável por criar a famosa e temida papada. O medicamento possui a semaglutida como ingrediente ativo, que ajuda o corpo a reduzir os níveis de açúcar no sangue quando estão excessivamente elevados, podendo ajudar a prevenir doenças cardíacas. Para os diabéticos, a droga reduz os níveis de açúcar no sangue, mas também afeta o apetite, ou seja, quando a pessoa injeta o remédio, os quilos começam a cair.
O potencial de perda de peso do Ozempic só ganhou destaque nos últimos três anos, quando um ensaio clínico confirmou um benefício surpreendente: aqueles que o tomam podem perder até 15% de seu peso corporal. Claro, o marketing da Novo Nordisk em promover isso tem sua parcela de comprometimento com esse novo movimento, mas principalmente a obsessão da sociedade e da mídia ao redor dos procedimentos estéticos, dietas ou treinos dos famosos.
E as pessoas não parecem intimidadas pelos valores do remédio. Na Espanha, por exemplo, a Previdência Social paga por quatro doses de Ozempic quando é prescrito por um médico, saindo no valor de US$ 4,59; enquanto na saúde privada, o preço pode chegar a US$ 141 para a mesma quantidade de doses. No Brasil, o remédio custa em média mil reais.
Pagando o preço
Apesar de o Ozempic dar aquela sensação de estar sempre cheio e saciado com porções menores de comida, as náuseas, diarreia, vômito e constipação logo podem surgir. Em poucos meses, a mágica do medicamento que tirou os quilos indesejáveis da balança é compensada no espelho: nas pessoas acima dos 40 anos, a temida papada surge; nos jovens, o aspecto envelhecido da pele e a perda da elasticidade.
Não se engane pensando que o Ozempic poderia ser boicotado pela indústria estética que poderia perder muitos clientes em potencial para lipoaspiração e outros procedimentos que visam o emagrecimento. O que aconteceu nessa nova tendência, porém, é que o remédio transformou a maneira como percebemos a beleza e o futuro da medicina estética.
A demanda por Ozempic aumentou a procura pelos tipos de cirurgias estéticas e a maneira pelas quais os médicos as fornecem. Jovens estão considerando seriamente fazer alguns procedimentos projetados para pessoas acima dos 50 anos, como o lifting facial, após sofrerem com os efeitos colaterais causados pelo uso de Ozempic para fins estéticos.
“A perda de volume facial significa menos apoio e, posteriormente, as estruturas adjacentes podem cair mais intensamente. Tudo isso leva ao envelhecimento acelerado devido às dobras e rugas que aparecem, e uma perda de luminosidade no rosto”, disse Moisés Amselem, médico estético especializado em rejuvenescimento facial em, em entrevista ao El País.
Envenenando por dinheiro
Com os preços em alta, escassez mundial, pacientes desesperados e as redes sociais divulgando cada vez mais os “efeitos milagrosos” do Ozempic, a nova tendência atraiu atenção do crime transnacional, de falsificadores caseiros, manipuladores desonestos, médicos inescrupulosos e de clínicas e spas de legalidade duvidosa. Todos pensando em como fazer negócio com essa nova tendência.
Em dezembro de 2022, o Food and Drug Administration (FDA) emitiu um alerta de que Ozempic falsificado havia sido detectado no fornecimento legítimo de medicamentos, fazendo a Novo Nordisk se movimentar para tentar correr atrás do prejuízo.
A proliferação de Ozempic falsificado já se tornou um problema global desde então. Segundo as autoridades de fiscalização, muitos esquemas se concentram na produção ao nível industrial do medicamento, em um esforço para replicar a semaglutida, com sucesso desigual, gerando remédios cujos efeitos adversos são extremamente perigosos.
O FDA relatou casos no mundo inteiro de pacientes que injetaram insulina modificada para se parecer com Ozempic, o que para não diabéticos pode gerar desde tontura, dores de cabeça, danos cerebrais irreversíveis e até coma. Entre julho de 2022 e janeiro de 2024, o FDA registrou 12 relatos de pacientes estadunidenses prejudicados pelo medicamento falso, com sintomas que iam de perda da consciência a inchaço da garganta e do rosto.
Versões falsas do Ozempic, cheias de impurezas misteriosas e armazenadas em condições inadequadas, chegaram a vários países, do Líbano ao Reino Unido, mostrando a articulação profissional dos falsificadores em conseguir se infiltrar em qualquer tipo de governo. Isso se deve porque as agências de aplicação de lei encarregadas de combater esse tipo de crime enfrentam vários obstáculos, como leis internacionais fracas a inexistentes, lobby de corrupção que apoia as redes de falsificação, sistemas fraudulentos de aplicação regulatória, entre outros.
Como resultado, os criminosos saíram de instalações insalubres em bairros na periferia de algumas cidades e se inseriram na infraestrutura de países inteiros. Foi a corrupção que deu poder para que os falsificadores aprimorassem seus métodos, ficassem mais inteligentes no que fazem e, sobretudo, maiores.
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Mega Curioso e são de total responsabilidade do autor.
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