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A cruel história por trás da lenda do Flautista de Hamelin

A cruel história por trás da lenda do Flautista de Hamelin

Há 26 anos, o ator americano Michael Boyer faz todos os dias uma apresentação em Hamelin, cidade de 60 mil habitantes na Alemanha, onde ele mora com sua mulher e filho. Boyer veste uma meia calça colorida, amarra uma capa vermelha nas costas e sai pelas ruas tocando flauta.

Ou seja, ele faz uma performance como o Flautista de Hamelin, personagem folclórico criado na cidade ainda durante a Idade Média. Naquela pequena comunidade, Boyer virou uma espécie de “ponto turístico vivo”, e os visitantes o acompanham em um tour pelas etapas desse conto tradicional.

Mas essa não é a é única atração dessa cidade medieval, que tira proveito de várias formas do famoso mito do flautista que roubava crianças.

A história do Flautista de Hamelin

(Fonte: Wikipedia)

O conto do Flautista de Hamelin é uma clássica que inspirou um poema de Goethe chamado Der Rattenfänger (em português, “O Apanhador de Ratos”). Os Irmãos Grimm também já compartilharam essa narrativa.

Em todas as versões, o enredo básico é o mesmo: na cidade de Hamelin, um flautista é contratado para livrá-la dos ratos a partir das notas hipnóticas de sua flauta. O plano dá certo e os roedores vão embora.

Só que, quando a cidade se recusa a pagar o flautista pelo serviço prestado, ele trama uma vingança: começa a atrair as crianças com a sua melodia. Os pequenos seguem o músico por conta de um transe e simplesmente desaparecem de Hamelin. É uma história que continua sendo contada também porque fala de valores importantes, como a gratidão, a necessidade de reconhecimento do trabalho alheio e os riscos corridos pelos mais vulneráveis.

O turismo em Hamelim

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Os turistas que compram o passeio de Michael Boyer visitam vários espaços incríveis, como as casas tipicamente alemãs, chamadas de enxaimel, montadas com vigas de madeira em posições horizontais, verticais e inclinadas, ou em mansões góticas do século XVI,  adornadas por elementos de uma arquitetura do final do período renascentista, como as gárgulas e outros tipos de esculturas.

A cidade de Hamelin tira proveito do mito de várias formas: os restaurantes oferecem “pratos de rato” (tudo uma brincadeira, claro) e as padarias produzem pães na forma do roedor. Por fim, o Museu Hamelin apresenta montagens teatrais e vendem souvenirs

É possível que o mito do Flautista de Hamelin siga interessando as pessoas por mexer com o medo muito profundo, que envolve tanto as crianças quanto seus pais. Para os pequenos, ele é outra versão do “bicho-papão” e personifica uma forma de assombração.

Já para os adultos, ele centraliza o medo comum de que seus filhos sejam roubados. Vale lembrar que esse é um temor justificado, uma vez que crianças continuam desaparecendo todos os dias no mundo inteiro.

Quem passeia por Hamelin sente que lá essa história está bem viva. E, por mais que seja um conto de fadas, ele pode ter algumas origens reais.

A origem do sumiço das crianças

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Em uma casa de Hamelin, há uma placa em que se lê: “em 26 de junho de 1284, no dia de São João e São Paulo, 130 crianças nascidas em Hamelin foram retiradas da cidade por um flautista vestido com roupas multicoloridas. Depois de passar pelo Calvário perto de Koppenberg, desapareceram para sempre”, diz a inscrição.

Há outra anotação nos registros da cidade, datada de 1384, em que se expressa o lamento que “já se passaram 100 anos desde que nossas crianças partiram”. Essas referências se repetem em outros lugares, como um manuscrito de Luneburg do século XV, que menciona uma história semelhante com 130 crianças desaparecidas e levadas por um flautista até um local chamado Calvário ou Koppen.

Os historiadores ainda estão investigando o que teria ocorrido realmente na cidade no dia 26 de junho de 1284. Mas há algumas teorias. Uma delas é que os jovens da cidade podem ter participado de uma onda de migração para a Europa Oriental por conta da forte recessão econômica.

“Nesse cenário, o flautista desempenhava o papel do chamado localizador ou recrutador. Eles eram responsáveis por organizar as migrações para o leste, e dizem que usavam roupas coloridas e tocavam um instrumento para atrair a atenção dos colonos (clientes em potencial)”, fala Wibke Reimer, coordenador de projetos do Museu Hamelin, que organizou uma exposição sobre o tema.

Outra hipótese é que esses jovens teriam migrado para a Transilvânia e para as regiões ao redor de Berlim, no leste da Alemanha. A pista teria sido levantada por conta da incidência de nomes comuns em Hamelin e que apareciam nessa região na época analisada.

Uma questão interessante ao mito é que a data que se acredita ter acontecido o sumiço (dia 26 de junho) coincide com o começo das celebrações pagãs do solstício de verão. Além disso, a história envolve a subida do flautista e dos pequenos até as colinas. “Havia regiões na Alemanha onde a chegada do verão era celebrada acendendo fogueiras nas montanhas”, explica Reimer, sugerindo alguma relação.

Por fim, há hipóteses, digamos, mais fantasiosas. Há historiadores que falam de uma associação com a Cruzada das Crianças no século XIII, envolvendo expedições medievais em busca da Terra Santa. E há ainda quem diga que as crianças teriam morrido durante o surto de Peste Negra, embora as datas dos dois eventos não coincidam.

De todo modo, o mistério permanece vivo e suscita o interesse pela pequena cidade alemã, fomentando o turismo e, por consequência, a saúde financeira de Hamelin.

As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Mega Curioso e são de total responsabilidade do autor.
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