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ToggleEsta retrospectiva detalhada da cobertura da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real apresenta um panorama das lutas e conquistas dos povos indígenas e populações tradicionais na região amazônica ao longo de 2025. As reportagens exclusivas destacam a resistência contra mudanças educacionais impostas pelo governo do Pará, os avanços acadêmicos de mestres Yanomami, a luta das mulheres contra a violência de gênero e a vitória jurídica contra a tese do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF).
Paralelamente, os textos denunciam graves ameaças persistentes, como o avanço do narcotráfico nos territórios, a violência agrária, a precariedade do saneamento básico e os impactos severos da crise climática.
A cobertura jornalística independente na COP30, em Belém (PA), expôs contradições entre discursos governamentais e a realidade de exclusão enfrentada por indígenas, quilombolas e ribeirinhos. As lideranças reforçam a necessidade urgente de proteção territorial e coragem política para garantir a sobrevivência física e cultural das populações que guardam a floresta.
A própria agência Amazônia Real enfrenta desafios em sua sobrevivência, como o assédio judicial e processos em curso que tentam violar a liberdade de expressão e de imprensa. Essa prática, cada vez mais crescente, tem sido utilizada como estratégia de intimidação e como instrumento para silenciar o trabalho dos jornalistas da Amazônia Real como forma de represália e de enfraquecimento econômico, pois a defesa da mídia independente exige altos custos com auxílio jurídico.
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Leia a nossa retrospectiva a seguir:
Janeiro, a resistência venceu o Helder
O ano de 2025 iniciou com a grande mobilização de centenas de indígenas no Pará contra a Lei 10.820/2024, assinada pelo governador Helder Barbalho (MDB) para encerrar o modelo de ensino presencial modular para substituí-lo por aulas remotas nas aldeias. O movimento, composto por diferentes povos indígenas e segmentos sociais, ocupou a sede da Secretaria de Educação (Seduc) em Belém – cidade escolhida para ser a sede da Conferência do Clima da ONU, COP30. Os indígenas promoveram bloqueios em rodovias, exigindo a revogação da legislação e a demissão do secretário Rossieli Soares, que só se concretizou no mês de junho. Nas reportagens, as lideranças destacaram a ausência de diálogo por parte do governador Helder Barbalho, além de relatarem episódios de repressão policial, produção de notícias falsas, fake news, por parte do próprio governo contra os indígenas, e o cerceamento da imprensa. Os indígenas cobraram as presenças do presidente Lula e da ministra Sonia Guajajara, que tentou intermediar sem sucesso o protesto. O ato só acabou após revogada por unanimidade a legislação na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa). As lideranças indígenas, entre elas Alessandra Munduruku e Auricélia Arapiun, denunciam a falta de consulta prévia e argumentam que a mudança viola direitos constitucionais e prejudica o aprendizado nas aldeias. A resistência dos povos tradicionais venceu.
Fevereiro, o contato do indígenas isolado

Cerâmica encontrada na TI Mamoriá Grande (Foto: Daniel Cangussu).
Em 12 de fevereiro de 2025, um jovem indígena isolado fez contato com ribeirinhos na comunidade Bela Rosa, no sul do Amazonas. O jovem, de cerca de 20 anos, integra o grupo conhecido como “Isolados do Mamoriá Grande”. Durante a interação, ele demonstrou curiosidade por objetos modernos, como um isqueiro e um celular. Ele fala uma língua desconhecida, possivelmente do tronco Tupi/Kawahiva, o que intriga especialistas. O indígena foi levado a uma base da Funai para avaliação, mas retornou à floresta no dia 13 de fevereiro. A Sesai realizou um bloqueio sanitário na região para proteger o isolado de doenças como gripe e Covid-19. Lideranças locais interpretam o contato como um pedido implícito de proteção contra invasões em seu território. A área sofre intensa pressão de madeireiros, caçadores e pescadores ilegais, com milhares de árvores derrubadas. O movimento indígena exige a demarcação imediata da terra, argumentando que a portaria de restrição de uso é insuficiente. Equipes da Funai e da Sesai permanecem na região para monitorar a situação e garantir a segurança do grupo.
Março, reconhecimento dos sem-terra

Alvo de violações de direitos humanos, preconceito, discriminação e invasão por fazendeiros, a Comunidade Marielle Franco recebeu o reconhecimento do Incra, que arrecadou 28,4 mil hectares da Gleba Novo Natal, em Lábrea (AM), para criar um assentamento destinado a cerca de 200 famílias. A área, ocupada pela Comunidade Marielle Franco desde 2015, era alvo de grilagem e documentos falsos por parte de pecuaristas locais. Investigações técnicas e jurídicas comprovaram que a terra pertence à União, derrubando as pretensões de posse da fazenda Palotina. O território foi cenário de intensos conflitos agrários, com registros de violência armada, tortura e ameaças contra os agricultores. Em janeiro de 2025, a tensão na região resultou no assassinato de José Jacó Cosotle, morador encontrado com marcas de tiro. O líder comunitário Paulo Sérgio Araújo chegou a ser preso em 2024, alegando que a acusação foi forjada por perseguição política. O Incra realizou um levantamento rigoroso em cartórios para separar terras federais de áreas do estado e garantir a legalidade do processo. A portaria que oficializa a arrecadação da gleba como patrimônio federal foi publicada em 27 de fevereiro de 2025. Os próximos passos incluem o georreferenciamento e a seleção das famílias que terão direito aos lotes e créditos de fomento. A ação é considerada uma vitória do governo federal contra a ocupação ilegal de terras públicas e a violência no campo.
Abril, os mestres Yanomami

Em 23 de abril de 2025, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) registrou um marco histórico com a defesa de mestrado de Odorico Xamatari Hayata Yanomami, Edinho Yanomami Yarimina Xamatari e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko, os primeiros de seu povo a alcançar este título na instituição. As pesquisas, defendidas no auditório Rio Solimões, foram fundamentadas na ancestralidade, espiritualidade e cultura Yanomami, contando com a presença e participação do xamã e líder Davi Kopenawa na banca examinadora. As dissertações desses novos mestres apresentam uma ruptura com o modelo acadêmico tradicional, adotando um método de escrita baseado na oralidade, inspirado na obra A Queda do Céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert. A trajetória desses estudantes foi marcada por desafios geográficos e culturais intensos. Originários da região do Médio Rio Negro, eles enfrentaram a seca severa dos rios em 2023, que dificultou o deslocamento, além da falta de acesso à internet e as barreiras linguísticas na escrita do português. O sucesso deste processo contou com o apoio de políticas afirmativas e o acompanhamento de orientadores que se deslocaram até as comunidades para viabilizar as pesquisas.
Maio, sobrevivência dos Warao

Os indígenas do povo Warao, originários da Venezuela, enfrentam atualmente uma grave crise de moradia e segurança na ocupação Yakera Ine, localizada no bairro Pintolândia, em Boa Vista (RR). O Governo de Roraima planeja desalojar as famílias para construir uma maternidade no local, utilizando recursos federais do PAC. Os Warao vivem nessa área desde 2017, quando o local ainda era um abrigo oficial da Operação Acolhida. Após a desativação do abrigo, cerca de 90 famílias permaneceram no espaço. Embora o governo afirme ter realizado escutas prévias, os indígenas e especialistas relatam que as abordagens têm sido marcadas por intimidação policial, falta de documentos oficiais e ausência de uma alternativa de moradia digna. A ocupação é descrita como insalubre, com falta de saneamento básico, o que é agravado pelo período de chuvas. Há um aumento preocupante de casos de tuberculose e insegurança alimentar entre os moradores. Especialistas da Universidade Federal de Roraima (UFRR) alertam que o deslocamento forçado e a falta de políticas públicas específicas podem levar ao desaparecimento da cultura e identidade desse grupo, configurando um etnocídio.
Junho, as ameaças ao Raimundão

Raimundo Mendes de Barros, conhecido como Raimundão, um seringueiro de 80 anos e primo do ambientalista Chico Mendes, enfrenta uma série de ameaças de morte e ataques virtuais em Xapuri, no Acre. A situação gerou um clima de tensão na região que remete ao ano de 1988, quando Chico Mendes foi assassinado. Os ataques foram intensificados após a Operação Suçuarana, deflagrada pelo ICMBio em 5 de junho para combater o desmatamento e a pecuária ilegal na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes. A operação resultou na apreensão de gado criado irregularmente por invasores dentro da unidade de conservação. As ameaças ocorrem principalmente em um grupo de WhatsApp chamado “Manifestação pacífica”, que conta com mais de 1.000 participantes, incluindo pecuaristas, agricultores e políticos locais. Os membros do grupo acusam Raimundão de ser o responsável por denunciar as irregularidades ao ICMBio, baseando-se no fato de ele ter um filho que trabalha no instituto. As mensagens incluem incitações à violência física. Em um dos áudios divulgados, um participante afirma que o “único jeito” de acabar com eles seria “meter a bala”, comparando a ação a métodos criminosos de São Paulo. Além disso, circulam calúnias alegando que Barros possuiria uma serraria clandestina e gado ilegal, o que ele e o ICMBio desmentem. Apesar do medo e da preocupação de sua família, Raimundão afirma que não parou de lutar pela preservação da floresta na juventude e não o fará agora na velhice.
Julho, Congresso anti ambientalista

O Projeto de Lei 2.159/2021, conhecido por cientistas, especialistas e movimentos sociais como “PL da Devastação”, representa uma mudança profunda e controversa nas regras de proteção ambiental do Brasil. Aprovado pela Câmara dos Deputados na madrugada de 17 de julho de 2025, o texto consolidou a força da bancada ruralista com 267 votos a favor e 116 contra. O projeto propõe a dispensa de licenciamento ambiental para atividades agropecuárias e cria procedimentos de autolicenciamento para projetos considerados de “pequeno” ou “médio” impacto, como rodovias, hidrovias, ferrovias e portos. Permite que empreendedores obtenham licenças automaticamente via internet através de uma autodeclaração, eliminando a necessidade de análise técnica prévia para empreendimentos de médio porte. Facilita a autorização de projetos “estratégicos” definidos pelo governo, mesmo que estes causem significativa degradação do meio ambiente. Obras de grande porte poderão ser autorizadas sem a necessidade de estudos técnicos prévios essenciais, como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima). O projeto enfraquece ou elimina a necessidade de consultas prévias e informadas a comunidades indígenas e quilombolas, conforme exigido pela Convenção 169 da OIT.
As melhores fotografias de 2025

Este ano, o mundo voltou os olhos para Belém, capital do Pará, mas enquanto as autoridades debatiam em salas climatizadas, os povos amazônicos lutavam pelo direito de ser ouvido durante a conferência. O mundo viu a Amazônia através das lentes da COP30, mas a diplomacia preferiu não enquadrar o que já se revela diante de todos. Em meio às ameaças territoriais e humanas, as imagens produzidas por nossa equipe revelam a luta indígena e das populações tradicionais contra o garimpo, os grandes empreendimentos econômicos, o desmatamento e a ameaça a seus direitos. Esta retrospectiva das imagens é um registro sobre as contradições de um desenvolvimento que desconsidera quem protege a região amazônica. Acesse aqui.
Agosto, a desintrusão na TI Kayapó

A Terra Indígena Kayapó, no Pará, passou pela maior operação de desintrusão de sua história, visando expulsar o garimpo ilegal. A ação resultou na destruição de quase mil barracos e de maquinários avaliados em milhões de reais, reduzindo drasticamente os alertas de desmatamento. Como benefício imediato, as lideranças relatam a recuperação da água limpa e o retorno da fartura de peixes nos rios, antes contaminados por mercúrio. No entanto, os indígenas denunciam que o processo ocorreu sem a consulta prévia, livre e informada exigida pela Convenção 169 da OIT. A saída dos garimpeiros deixou um vazio econômico e logístico, já que muitos dependiam da renda e do suporte informal dos invasores para transporte e comida. Lideranças afirmam que promessas do governo de enviar recursos emergenciais e projetos sustentáveis em 15 dias ainda não foram cumpridas. Embora o governo cite o envio de cestas básicas e verbas para etnodesenvolvimento, os indígenas relatam passar por extrema necessidade e fome. A ausência de alternativas econômicas sólidas gera o temor de que parte da comunidade possa voltar a aceitar invasores por pura sobrevivência. Os Kayapó exigem investimentos em atividades como o ecoturismo, agricultura familiar e produção de cacau para manterem a floresta em pé. Em suma, o povo vive um dilema entre a celebração da regeneração ambiental e a incerteza de um futuro sem assistência governamental digna.
Setembro, é preciso se adaptar ao clima

A adaptação climática na Amazônia deixou de ser um conceito abstrato para se tornar uma questão de sobrevivência para comunidades indígenas e ribeirinhas. Diante de secas e cheias extremas e recorrentes, essas populações enfrentam uma nova dinâmica climática que rompe com a previsibilidade dos ciclos naturais conhecidos por gerações. Eventos extremos, como as secas históricas de 2023 e de 2024, comprometeram o transporte fluvial, dificultando o acesso a alimentos e serviços básicos. A pesca tornou-se escassa e o custo de vida aumentou drasticamente para os moradores. A erosão intensificada pelas mudanças climáticas está destruindo comunidades inteiras, como a de São Luiz do Macari, derrubando escolas e forçando o deslocamento de famílias. A falta de água potável durante as secas causa surtos de doenças como a diarreia, enquanto as cheias severas levam à suspensão de aulas presenciais, afetando o calendário escolar. O prejuízo por desastres climáticos na Amazônia pode atingir 19,145 trilhões de reais nas próximas três décadas se medidas preventivas não forem tomadas. Existe uma ausência de políticas públicas estruturantes; as ações governamentais costumam ser reativas e focadas apenas no momento do desastre, e não na prevenção. Atualmente, apenas dois municípios da Amazônia possuem leis específicas de adaptação.
Outubro, um Brasil indígena

O Censo 2022 do IBGE registrou um salto expressivo na diversidade, identificando 391 etnias e 295 línguas indígenas faladas no Brasil. Esse aumento reflete melhorias metodológicas, como a autodeclaração estendida fora de Terras Indígenas e a permissão de declarar múltiplas identidades. Contudo, os dados revelam um abismo de cidadania, com graves carências em infraestrutura básica e saneamento em grandes povos. Entre os Tikuna, etnia mais numerosa, 92,82% dependem de esgoto precário e 74,21% não possuem água encanada em casa. A vulnerabilidade social também atinge os Makuxi e Guarani Kaiowá, evidenciando uma falha crônica do Estado brasileiro. Na educação, o analfabetismo é crítico entre quem fala apenas línguas indígenas, atingindo cerca de 32% desse grupo. A invisibilidade jurídica persiste com a falta de registros de nascimento, problema que afeta milhares de crianças, especialmente entre os Yanomami. Atualmente, 53,97% da população indígena reside em áreas urbanas, o que aumenta a pressão pela assimilação cultural e linguística. Como resistência, surgem novos conceitos como o “braslind” e a cooficialização de mais de 50 línguas em municípios e estados. Os dados do IBGE mostram que não é possível celebrar a diversidade sem garantir dignidade e direitos fundamentais a esses povos.
Novembro, mulheres vivas

A luta das mulheres em 2025 foi marcada por um cenário de extrema violência e resistência política, especialmente na região amazônica, onde os índices de feminicídio e a impunidade judicial mobilizaram movimentos sociais em escala nacional. O Brasil registrou mais de 1.180 feminicídios até dezembro, com o “Ligue 180” realizando quase 3 mil atendimentos diários. A violência atinge desproporcionalmente as mulheres negras, que representam 63,6% das vítimas de feminicídio. Dez anos após a morte da policial militar Deusiane Pinheiro, a absolvição dos acusados gerou revolta e pedidos de federalização do caso para garantir imparcialidade, dado o corporativismo no tribunal militar. O Movimento das Mulheres também criticou a falta de tipificação de crimes como feminicídio da artista Julieta Hernández, no qual os acusados foram julgados apenas como latrocínio, ignorando o ódio ao gênero. Além disso, a memória de mulheres trans, como a ativista Manuela Otto, continua sendo um pilar de denúncia contra penas consideradas brandas para crimes brutais. O mês de novembro foi marcado por crimes de violência de gênero em todo o país como o duplo feminicídio das quebradeiras de coco babaçu Antônia Ferreira e Marly Viana, no Pará.
Dezembro, marco temporal é inconstitucional

O marco temporal é uma tese jurídica que defende que os povos indígenas só teriam direito à demarcação de terras que estivessem sob sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal. Por um placar de 9 votos a 1, o Supremo Tribunal Federal (STF) invalidou o uso do marco temporal, reafirmando que o direito à terra é originário e não depende de uma data fixa. Apenas o ministro André Mendonça, indicado ao STF por Jair Bolsonaro, votou a favor do marco temporal. O relator, Gilmar Mendes, votou contra a tese, mas incluiu diversas ressalvas que foram criticadas por lideranças indígenas e outros ministros, como Edson Fachin e Cármen Lúcia. Embora a tese principal tenha sido derrubada, o voto vencedor de Gilmar Mendes trouxe pontos preocupantes para os movimentos indígenas: a proposta permite a concessão de áreas alternativas em vez da posse tradicional, o que é rejeitado pelos indígenas, pois seus territórios possuem valor ancestral insubstituível; o pagamento a ocupantes não indígenas por terras sem benfeitorias é visto como um entrave que pode inviabilizar financeiramente as demarcações. Enquanto o STF julgava a questão, o Senado aprovou a Proposta de Emenda à Constituição 48, que tenta inserir o marco temporal diretamente no texto constitucional para anular as decisões do Supremo. A bancada do agronegócio e mineradoras exercem forte pressão no Congresso para manter a validade da Lei 14.701/2023, que instituiu o marco temporal antes de ser questionada no STF. Em suma, a derrubada do marco temporal pelo STF é uma vitória histórica para os povos indígenas, mas as condicionantes impostas no julgamento e a ofensiva legislativa mantêm os direitos territoriais em um estado de insegurança jurídica e sob ameaça constante de retrocessos.
Cobertura da Amazônia Real na COP30

A cobertura da Amazônia Real na COP30 foi caracterizada por um jornalismo independente, ético e investigativo que priorizou as populações amazônicas em contraste com as narrativas oficiais e a burocracia diplomática. O diferencial da cobertura foi a imersão profunda nas demandas de povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, frequentemente invisibilizados pela grande mídia. A agência deu visibilidade a protestos como a Marcha Global Indígena e o Porongaço, focados na cobrança pela demarcação urgente de terras. Foram abordadas questões de desigualdade racial e de gênero, destacando que os impactos da crise climática recaem desproporcionalmente sobre populações tradicionais. Lideranças como Davi Kopenawa, que afirmou que “a COP não vai resolver a crise climática”, e Alessandra Munduruku, que criticou a entrega da Amazônia a países ricos, tiveram suas falas amplificadas. A agência confrontou contradições políticas e práticas de “maquiagem verde” e da “hipocrisia dos combustíveis fósseis”. As reportagens detalharam a dualidade do governo brasileiro, que discutia a transição energética enquanto mantinha planos de exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Enquanto a conferência oficial se calou sobre o fim dos fósseis, a Amazônia Real expôs as consequências dessa omissão para a floresta. A cobertura recebeu apoio financeiro das instituições Fundação Ford, Heinrich Böll, Repórteres Sem Fronteiras, Re:wil e de doação de leitores da Amazônia Real.
Produção Multimídia e o Videocast “Tô de Butuca”
O videocast “Tô de Butuca na COP30!” foi um dos pilares da cobertura jornalística da agência Amazônia Real durante a Conferência do Clima em Belém. Apresentado por Kátia Brasil e Cristina Serra, o programa foi transmitido ao vivo pelo YouTube e serviu como uma plataforma para monitorar criticamente os debates ambientais, focando na interseção entre ecologia e direitos humanos.
Os episódios do videocast abordaram o rastro da mineração industrial, os impactos de eventos climáticos extremos, o racismo ambiental, a luta por titulação de terras e a memória de defensores da floresta. O programa foi ao ar em quatro episódios temáticos entre os dias 13 e 21 de novembro de 2025:
As reportagens especiais de 2025

A agência Amazônia Real apresentou um panorama complexo e multifacetado das lutas, crises e resistências na região amazônica na produção das reportagens especiais. Os principais temas podem ser resumidos em quatro pilares fundamentais:
Resistência Cultural e a Potência da Ancestralidade
A preservação da identidade indígena e o uso da língua como ferramenta de cura e combate à colonização são centrais.
- A Palavra como Flecha: Zahỳ Tentehar utiliza sua arte e o idioma ze’eng eté (“fala verdadeira”) para promover diálogos espirituais e ritos de origem, desafiando o machismo estrutural e a aculturação.
- Literatura e Memória: O escritor Milton Hatoum destaca como a literatura humaniza e preserva a memória de uma Amazônia urbana que desaparece, além de situar a região em debates geopolíticos globais.
Ameaças do Crime Organizado e da exploração predatória dos recursos
As fontes detalham a invasão dos territórios por redes criminosas que destroem o meio ambiente e o tecido social.
- Narcotráfico nas Aldeias: Facções como o Comando Vermelho e o PCC utilizam terras indígenas como rotas de escoamento de drogas, aliciando jovens e provocando um aumento na violência e nos índices de suicídio.
- Garimpo e Crise Humanitária: Na Terra Indígena Yanomami, o garimpo ilegal causou fome e malária, embora o povo agora lute por um “renascimento”, exigindo a retirada total dos invasores através da Carta de Surucucu.
- Mineração e Contaminação: Em Barcarena, a mineradora Hydro é acusada de contaminar rios com rejeitos tóxicos, causando doenças como câncer e afetando gravemente a segurança alimentar de comunidades quilombolas.
Conflitos de Terra e Violência de Estado
A negligência e, por vezes, a ação direta do Estado exacerbam os conflitos.
- Cinco anos do Massacre do Rio Abacaxis: O episódio de 2020 revelou torturas e assassinatos de indígenas e ribeirinhos cometidos por policiais em uma operação de represália, resultando em traumas profundos e impunidade persistente.
- O Colapso da “Florestania”: Na Resex Chico Mendes, a falta de apoio estatal ao extrativismo de borracha e castanha empurrou as comunidades para a pecuária, transformando a floresta em pasto e gerando ameaças de morte aos defensores do legado de Chico Mendes.
Crise Climática e Urbanização Hostil
A degradação ambiental reflete-se diretamente no clima e na saúde das populações urbanas.
Os Extremos: Secas severas e a fumaça das queimadas tornaram-se o novo normal, evidenciando o contraste entre a floresta exuberante do imaginário e o concreto asfixiante da realidade urbana.
Ilhas de Calor em Manaus: A capital amazonense sofre com a falta de arborização (sendo uma das capitais menos arborizadas do Brasil), o que gera temperaturas extremas de quase 40°C e ameaça a fauna endêmica, como o sauim-de-coleira.

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