Otão aguardado ano da COP30 acaba sem um caminho e muito menos um mapa do caminho para conter a crise climática. Em 2025, o mundo voltou os olhos para Belém, capital do Pará, mas enquanto as autoridades debatiam em salas climatizadas, os povos amazônicos lutavam pelo direito de ser ouvido durante a conferência. O mundo viu a Amazônia através das lentes da COP30, mas a diplomacia preferiu não enquadrar o que já se revela diante de todos. A Amazônia Real continuou a denunciar o avanço do “PL da Devastação” e de tantas outras pautas bombas no Congresso, a pressão do governo pelo licenciamento da BR-319 e a insistência na exploração de petróleo na foz do Amazonas. Em meio às ameaças territoriais e humanas, as imagens produzidas por nossa equipe revelam a luta indígena e das populações tradicionais contra o garimpo, os grandes empreendimentos econômicos, o desmatamento e a asfixia de seus direitos. Esta retrospectiva é um registro sobre as contradições de um desenvolvimento que desconsidera quem protege a região amazônica.
No primeiro dia da COP30, o chão de Belém recebia a denúncia do que o presente já consome: a vida de quem defende a terra. A manifestação Dívida por Clima, do México, foi um lembrete de que, por trás das metas de emissão de carbono, há um rastro de defensores do meio ambiente assassinados e desaparecidos. A performanece ocorria em meio ao fluxo de delegados internacionais que chegavam para a Zona Azul do evento. Em 2025, a fotografia da Amazônia Real não buscou apenas o aperto de mãos oficial, mas o protesto que a segurança da conferência tentou manter à margem da opinião pública (Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real/2025).

A noite de 13 de novembro, em Belém (PA), não foi iluminada pelos acordos da COP30, mas pela chama de quem mantém a preservação com a sabedoria popular. Mais de mil porangas ocuparam as ruas no Poranganço, organizado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), transformando a escuridão da cidade em um manifesto de luz e resistência. E um recado aos negociadores de que a crise climática não será resolvida sem a garantia dos direitos de quem habita os biomas. (Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real/2025).

Famílias indígenas Warao passaram o ano de 2025 ameaçadas de despejo de uma ocupação em Boa Vista pelo governo de Roraima. As famílias, de origem venezuelana, reivindicam uma área para morar. Elas vivem com medo e insegurança com seu futuro. No final de 2025, a Justiça Federal determinou que o governo elabore um plano habitacional para os Warao (Foto: Felipe Medeiros/ Amazônia Real).

Simone Yanomami, na roça da comunidade Kori Yauopë, região de Surucucu, na TI Yanomami (RR), personifica o renascimento de um território que o garimpo tentou destruir. A Amazônia Real foi o único veículo a acompanhar o 6º Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana, onde o simples ato de beber água limpa voltou a ser motivo de celebração após anos de crise humanitária profunda. Mas o gesto de Simone sobre o solo seco é também de vigilância: a Carta de Surucucu, firmada por mais de 550 líderes indígenas, é um grito contra a persistência dos invasores em suas terras e a lentidão do Estado. Em 2025, a realidade em Roraima mostrava que a única solução possível é a retirada definitiva do garimpo e a autonomia dos povos originários. (Foto: Felipe Medeiros/ Amazônia Real).

Mais de cinco anos desde que seu filho foi assassinado por policiais militares durante o episódio conhecido como Massacre do Abacaxis, no Amazonas, o ribeirinho Antonio Monteiro aguarda por punição e reparação. No massacre, oficialmente, foram assassinados seis ribeirinhos e dois indígenas Munduruku. Dois corpos nunca foram encontrados. A área do rio Abacaxis, afluente do rio Madeira, continua sem atenção das autoridades e é alvo de pesca ilegal, garimpo e ações de tráfico. (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real).

Uma casa de palafita em ruínas na comunidade Monte Horebe, em Borba (AM), testemunha o vazio deixado pelo medo e pela violência. Em 2025, o rastro da Chacina do Abacaxis — episódio brutal de 2020 que marcou a região com mortes e desaparecimentos — ainda não encontrou justiça plena, revelando um território onde o Estado se faz presente mais pelo abandono do que pela proteção. A cruz inclinada e a estrutura desfeita, nesta fotografia capturada em 22 de abril de 2025, são os símbolos de uma Amazônia que sangra longe dos holofotes internacionais e das promessas de sustentabilidade. É um alerta de que o povo ribeirinho luta para não ser apagado da história por conflitos agrários e violência policial. (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real).

Maria do Socorro Costa Silva, a Socorro do Burajuba, carrega em sua saúde os vestígios de uma contaminação que a retórica do desenvolvimento tenta esconder. Em 2025, o Quilombo Burajuba, em Barcarena (PA), continuou a ser o epicentro de uma luta desigual contra os impactos ambientais da mineradora Hydro Alunorte. A presença altiva de Socorro em meio ao verde que esconde metais pesados é um testemunho de que a Amazônia não é apenas uma reserva de carbono, mas a moradia de pessoas que adoecem enquanto o lucro flui. (Foto: Nailana Thiely/ Amazônia Real/04.06.2025).

Em sua casa em Barcarena, no nordeste do Pará, a líder quilombola Maria do Socorro Costa Silva convive com 14 grades para sua proteção. Socorro do Burajuba enfrenta ameaças por ter denunciado e movido uma ação internacional contra a mineradora norueguesa Hydro e Norsk Hydro ASA. Em 2018, um vazamento de rejeitos tóxicos da produção de alumínio contaminaram rios e lagos da região. Em 24 de setembro, a juíza P.F.G.T. Hofmeijer-Rutten, do Tribunal de Roterdã, absolveu a mineradora por falta de provas nos danos à saúde e financeiros. Durante a COP30, a Amazônia Real conversou com a liderança, que desabafou: “Ela nos sentencia à morte de vez”. (Foto: Giovanny Vera/Amazônia Real/2025).

Queimadas no sul do Amazonas, uma das áreas mais pressionadas por crimes ambientais e grilagem da Amazônia, foram registradas em sobrevoo para monitorar desmatamento e focos de incêndio. Durante o voo, foram registradas fazendas de gado, áreas desmatadas e sinais de destruição ambiental (Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace).

Em Manaus (AM), onde apenas 44,8% da área urbana possui cobertura arbórea, o calor aperta e a sombra vira refúgio. Ao meio-dia, pessoas buscam abrigo do sol em pontos de ônibus, sob postes e guarda-chuvas. A falta de árvores intensifica a sensação térmica e evidencia o contraste entre floresta e concreto na capital amazonense. Intervenção natural: pessoa sobre o tronco de uma árvore cortada. Especial “O colapso das árvores em Manaus”, de Nicoly Ambrosio (Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real).

Na Amazônia, o crime organizado opera em sinergia com os crimes ambientais e sociais. Uma das áreas mais afetadas é a região do Alto Solimões, fronteira do Brasil com Colômbia. A estrutura criminosa leva medo e aliciamento a territórios locais, sobretudo os indígenas, como mostramos em nossa reportagem. Placa de demarcação na entrada da Terra Indígena Umariaçu 1, no município de Tabatinga (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).

A baía do Guajará foi tomada por um manifesto fluvial de 200 embarcações que marcou o início da Cúpula dos Povos, no Mirante do Pôr do Sol, Campus UFPA Guamá. O ato em Belém, que reuniu representantes de diversos territórios em um percurso de 30 quilômetros, apresentou-se como o contraponto necessário à exclusão das negociações formais da Zona Azul da COP30. Enquanto a diplomacia oficial operava sob protocolos rígidos, a barqueata transbordava a diversidade e a urgência de quem exige uma escuta real. Em 2025, a fotografia da Amazônia Real registrou que, se o clima está em jogo, são os povos das águas e das florestas que detêm o verdadeiro mapa para o caminho da sobrevivência do planeta. (Foto: Alberto César Araújo/ Amazônia Real).

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi uma das protagonistas da COP30, em Belém. Ao mesmo tempo que estava nos bastidores da chamada BlueZone (Zona Azul), ela também participava de mobilizações dos movimentos sociais nas ruas da capital paraense e em eventos paralelos. Na foto acima, ela está presente na Marcha Mundial pelo Clima, pelas ruas de Belém, que aconteceu no dia 15 de maio. No último dia COP, 23 de novembro, após seu discurso, ela foi ovacionada (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).

Indígenas Kayapó na Marcha Mundial dos Povos Indígenas pelas ruas de Belém, evento paralelo à COP30. O ato foi uma cobrança da sociedade e dos movimentos sociais e ambientais por medidas efetivas e concretas para impedir o avanço da crise climática, que afeta principalmente grupos sociais em condições de vulnerabilidade e que têm seus direitos violados (Foto: Alberto César Araújo/ Amazônia Real).

Ângela Kaxuyana, se emocionou com a homologação da Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana (PA-AM). Em 18 de novembro, a Funai anunciou na Zona Verde da COP30, com acesso liberado para o público em geral, a homologação de quatro Terras Indígenas. Participaram lideranças e autoridades como Joenia Wapichana, Sonia Guajajara, Weibe Tapeba e Mauro Pires (Foto: Alberto César Araújo/ Amazônia Real/2025).

Na manhã de 18 de novembro, indígenas celebraram a homologação das Terras Indígenas, mesmo sabendo que ainda há outras 66 à espera desse tão sonhado documento. No evento realizado durante a COP30, Kerexu Kaingang, representando a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY); Mariazinha Baré, da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam); e Edninho Macuxi, representando a Coiab viram as autoridades Joenia Wapichana, presidente da Funai; Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas; Weibe Tapeba, secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde; e Mauro Pires, presidente do ICMBio, prestigiarem a concessão de seu direito à terra. (Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real/2025).

Protesto de indígenas Munduruku impõe diálogo com a Cúpula do Clima. Alessandra Korap, porta-voz do Movimento Munduruku Ipereğ Ayũ, mobilizou os indígenas para um protesto pacífico, o que fez com que o presidente da COP30, André Correa do Lago, e Ana Toni, CEO da Cop30 se reunissem com eles. Nas primeiras horas do dia 14 de novembro, o Movimento Ipereg Ayu, dos Munduruku, exigiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelasse decreto que privatiza o rio Tapajós, mas também reivindicaram a demarcação de territórios e participação efetiva na COP30. (Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real).

Às vésperas da decisão final da COP30, um incêndio de grandes proporções atingiu o Pavilhão dos Países na Zona Azul da Conferência das Partes, em Belém do Pará. O fogo, na tarde de quinta-feira (20), começou no Pavilhão da Índia e se espalhou para o Pavilhão da África. Houve evacuação total da área restrita da Organização das Nações Unidas (ONU), resultando na paralisação de todos os trabalhos e negociações finais da Conferência do Clima. (Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real/2025).

Maria Nice Machado, secretária de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e liderança quilombola do Maranhão. Ela foi uma das lideranças da Amazônia a participar do Encontro Nacional de Mulheres Extrativistas, que aconteceu durante a COP30, com o tema ‘Mulheres da Floresta e das Águas: vozes que sustentam o mundo’. Maria Nice definiu o encontro como um ‘marco histórico’ e lembrou que as mulheres precisam estar informadas sobre o que é a política ambiental, social, cultural e pública no Brasil.(Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real, 2025).

A desenhista de moda Erika Witoto busca na natureza a inspiração para o grafismo das peças de vestuário que produz no Ateliê Derequine, localizado na comunidade Parque das Tribos, em Manaus. Erika é coordenadora do ateliê, uma iniciativa de mulheres do povo Witoto que produz roupas que são expressões da identidade, arte e ancestralidade do seu povo. A iniciativa é desenvolvida pelo Instituto Witoto (fundado pela líder Vanda Witoto), que tem como objetivo garantir direitos fundamentais e impedir o apagamento histórico das 35 etnias que convivem na comunidade do bairro indígena. (Foto: Raphael Alves / The VII Foundation).

Antônia Assunção da Silva se revoltou com a decisão do Conselho Permanente da Justiça Militar. “Os assassinos foram absolvidos”, protestou ela. A Defesa da policial militar vai recorrer e pedir a federalização do caso. “Me sinto indignada com tudo isso que aconteceu. Eu não sei onde é que tem esses direitos, os que falam tanto de direito de mulheres, direitos que são violados todos os dias.” Amigos e familiares pediam justiça por Deusiane Pinheiro no Fórum Ministro Henoch Reis, em Manaus. (Foto: Raphael Alves/TJAM/2025).

A liderança indígena Lú Pataxó segura a Constituição no julgamento do conjunto de quatro ações que discutem a constitucionalidade da Lei do marco emporal, ocorrido em dezembro. Por 9 a 1, o STF manteve maioria para votar pela inconstitucionalidade do marco temporal, embora o posicionamento dos ministros venham acompanhados com algumas ressalvas (Foto: Tukumã Pataxó/ APIB).
Indígenas ocupam a entrada da Zona Azull, durante a COP30, para cobrar os seus direitos durante um protesto no dia 11 de njovembro. Justificando o apagamento em suas falas e nas negociações para conter a crise climática no mundo, manifestantes driblaram a GLO e a segurança da ONU para fazer o ato. (imagens: @coletivoindigenakirimbawaita).
As informações apresentadas neste post foram reproduzidas do Site Amazônia Real e são de total responsabilidade do autor.
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