Os 60 maiores bancos do mundo despejaram US$ 6,9 trilhões na indústria de combustíveis fósseis desde 2016, quando o Acordo de Paris entrou em vigor. Somente em 2023, foram US$ 705,8 bilhões (cerca de R$ 3,6 trilhões) investidos, inclusive em empresas que têm planos de expansão da produção com a abertura de novas fronteiras de exploração fóssil. Os dados são do relatório Investindo no Caos Climático (do original em inglês Banking on Climate Chaos), lançado nesta segunda-feira (13/5).
Produzido anualmente por organizações como a Oil Change International e a Indigenous Environmental Network, o levantamento apontou que a economia global segue operando na contramão do que a ciência já demonstrou ser a única forma de cumprir o objetivo do tratado do clima, de limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais: reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até o final desta década e atingir zero emissões líquidas até 2050.
O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU) já alerta desde 2022 que, para que o planeta tenha uma chance de estabilizar sua temperatura, o uso de carvão mineral precisa cair 95%, o de petróleo 60% e o de gás natural 45% até 2050. Mas, enquanto o mundo quebra recordes sucessivos de temperatura e os eventos extremos – como as enchentes que devastam neste momento o Rio Grande do Sul, no Brasil, e o Afeganistão, apenas para citar dois exemplos – se multiplicam atingindo principalmente aqueles que menos contribuíram para a crise do clima, instituições financeiras seguem abastecendo os principais causadores do problema.
“Mesmo com o caos climático se intensificando, empresas de combustíveis fósseis estão redobrando seus planos de expansão, enquanto seus executivos e acionistas desfrutam de ganhos extravagantes. Executivos dos bancos também estão lucrando com investimentos sujos em uma escala que envergonha o financiamento para mitigação e adaptação climática”, diz o relatório.
Enfatizando a necessidade de mudança no rumo dos investimentos globais, o documento cita ainda declaração de Simon Stiell, o secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU, de abril deste ano: “Todos os dias, ministros das finanças, CEOs, investidores e banqueiros de desenvolvimento direcionam trilhões de dólares. É hora de deslocar esses dólares da energia e infraestrutura do passado para aquelas compatíveis com um futuro mais limpo e resiliente. E garantir que os países mais pobres e vulneráveis se beneficiem”.
Os dados do relatório revelam que, dos US$ 705,8 bilhões investidos em empresas fósseis em 2023, quase metade (US$ 347,5 bilhões) foi destinada a empresas que pretendem expandir sua produção abrindo novas fronteiras de exploração. Do total de US$ 6,9 trilhões direcionados à indústria fóssil entre 2016 e 2023, US$ 3,3 trilhões foram parar em empresas que têm planos de expansão. No topo do ranking de bancos investidores em fósseis está o americano JPMorgan Chase, que saltou de U$$ 38,7 bilhões em 2022 para US$ 40,9 bi no último ano. O segundo lugar é do megabanco japonês Mizuho, que passou de US$ 35,4 bilhões em 2022 para US$ 37 bilhões em 2023, subindo quatro posições na lista.
Em meio às cifras trilionárias, a dimensão da desigualdade pode ser dada pela comparação com as metas de financiamento para a transição energética e a adaptação às mudanças do clima. Quando o Acordo de Paris foi firmado, os países ricos prometeram investimentos de US$ 100 bilhões por ano entre 2020 e 2025. O dinheiro deve ser destinado para apoiar a transição energética e planos de adaptação nos países em desenvolvimento. O montante total em seis anos, de US$ 600 bilhões, é menor do que os bancos investiram em fósseis somente no ano passado – e ainda não foi pago.
Defendendo que as instituições precisam agir rapidamente para alinhar seu financiamento com a meta de 1,5 ºC e possibilitar uma transição energética justa e equitativa, as organizações que assinam o relatório demandam que os bancos passem a negar imediatamente qualquer financiamento para a expansão de fósseis.
“Os bancos devem encerrar empréstimos e investimentos para qualquer empresa que esteja expandindo combustíveis fósseis. Essa exclusão deve considerar financiamento de projetos, financiamento corporativo geral e transações de mercado de capitais para qualquer empresa com planos de expansão, independentemente do escopo do projeto de expansão. Esta é a medida mais urgente que os bancos devem tomar para cumprir suas promessas climáticas”, aponta o texto.
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